
Ao receberem o diagnóstico, é comum os pacientes selarem entre si e seus familiares uma espécie de pacto do silêncio, quando tentam poupar os parentes de um sofrimento por vezes desnecessário. Preferem sofrer sozinhos. Neste momento de extrema solidão, surgem anjos em forma de adolescentes, vestidos com o uniforme do colégio Loyola. “Eles são muito lindos. A gente já fica esperando a chegada dos meninos do Loyola”, define Maria Gorete Carrano, de Abaeté, que se recuperou de um tumor no intestino. Voltou para o hospital, agora como acompanhante do cunhado José Antônio de Sousa Campos, de 55, que inesperadamente desenvolveu quadro parecido.

Com uma expressão séria, Giovanna conta que terá prova de inglês no dia seguinte (hoje), mas que não conseguiu faltar ao compromisso assumido com os pacientes. “Da vez anterior, era de geografia. Vir ao hospital só me ajudou. Cheguei tão relaxada que quase fechei a prova”, comenta ela, combinando com a colega, por precaução, de estudar dobrado no retorno para casa. Além de irradiar energia positiva, a estudante também ajudou a servir um lanche na recepção. “Veio bem na hora. Se sair daqui para comer, perco o lugar”, agradece Maria Lúcia de Oliveira Vilela, de 67, que por volta das 15h ainda não havia almoçado. Ela veio cedo com o marido, em jejum, do distante Bairro Alípio de Melo, encarregada de providenciar um ultra-som de controle.
“Meninas, nos deem 30 segundos. Precisamos bater um papo de homem para homem”, brincou um paciente novato na quimioterapia, rodeado por três rapazes, muito interessados na conversa. Cumpriam a função de distrair o homem, que pediu para não sair nas fotos nem ser identificado, por receio de a família descobrir o câncer pelas páginas do jornal. “O pacto silencioso é muito comum. A família pede para não revelar ao paciente, preocupada com a reação que ele pode vir a ter. Ele, por sua vez, desconfia do diagnóstico, mas pede para não dizer aos familiares que já sabe sobre o próprio caso. Aos poucos, os dois lados vão se abrindo”, explica a residente em oncologia Poliana Giovani, que elogia o carinho demonstrado pelos estudantes em relação aos pacientes.
Deitados nas poltronas reclináveis, os portadores de câncer, terminal ou não, sentem-se vulneráveis ao ser submetidos às pesadas sessões de medicação, que podem durar mais de 10 horas ininterruptas. Nesta situação, podem contar detalhes particulares sobre a própria vida, que muitas vezes evitam dizer para pessoas conhecidas. “A gente percebe a energia diferente quando a turma de alunos entra na ala e depois, quando sai”, observa o professor de introdução à química Dênis Rodrigues Bastos, também voluntário na atividade. “A habilidade social é uma inteligência a ser despertada nos estudantes”, reforça Fabiano Carneiro, coordenador de Formação Cristã do Loyola.
INSPIRAÇÃO “É muito gratificante chegar ao hospital e ver os pacientes e seus parentes felizes por te ver e por terem alguém para conversar sobre qualquer coisa. Eles se sentem especiais quando têm atenção”, diz a aluna Beatriz Castello Branco Miranda, de 14, que descobriu que seu desejo é ser médica e se especializar em Oncologia. “Vou me lembrar dessa experiência pelo resto da vida”, afirma a estudante do 9º ano do ensino fundamental que, ao que parece, não pretende mesmo mudar de idéia.