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Estado de Minas

Cachoeira do Campo festeja a padroeira, Nossa senhora de Nazaré

Festa é oportunidade para turistas admirarem a beleza da matriz construída em meio a batalhas por ouro e poder


postado em 06/09/2014 06:00 / atualizado em 06/09/2014 07:15

A igreja construída no início do século 18 foi palco da sagração do primeiro governador de Minas, aclamado pelo povo à revelia da coroa portuguesa(foto: Rodrigo da Conceição Gomes/Divulgação)
A igreja construída no início do século 18 foi palco da sagração do primeiro governador de Minas, aclamado pelo povo à revelia da coroa portuguesa (foto: Rodrigo da Conceição Gomes/Divulgação)

Trajetória de mais de 300 anos que nasceu da devoção popular, ganhou o esplendor da arte colonial, tornou-se palco de marcos da história do Brasil e recebe, cada vez mais, visitantes interessados em conhecer o conjunto da obra. A Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, do início do século 18, é o maior orgulho da comunidade católica de Cachoeira do Campo, um dos primeiros distritos de Ouro Preto, na Região Central, que está em festa de hoje a segunda-feira, dia da Natividade de Nossa Senhora, para reverenciar padroeira local, com missa em latim, apresentação de bandas de música seculares, procissões e confraternização em praça pública. A festa, comandada pelo titular da paróquia, padre Oldair de Paulo Mateus, é ótima oportunidade para moradores e turistas apreciarem a restauração da igreja, que ficou fechada durante três anos e foi reaberta na semana passada.

Mesmo que não tivesse a comunhão perfeita de barroco e fé, o templo já seria de grande importância na memória de Minas e do país, diz o professor de história da arte do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) Alex Bohrer, autor do livro Ouro Preto – Um novo olhar. Ele lembra que foi dentro da matriz, ainda em construção, em 1708, que o português Manuel Nunes Viana se sagrou, por aclamação popular, primeiro governador das Gerais. Eram tempos da Guerra dos Emboabas e Cachoeira do Campo foi campo da batalha mais sangrenta na disputa pelo ouro.

Natural de Viana do Castelo, Manuel Nunes Viana foi escolhido de forma democrática, à revelia da coroa, explica Bohrer, criando um poder paralelo ao de Portugal. Outro fato de relevância ocorreu em 1720, quando Felipe dos Santos liderou a Sedição de Vila Rica, antigo nome de Ouro Preto, contra a cobrança abusiva de impostos. “Felipe dos Santos foi preso no adro da matriz”, diz o professor, que destaca outras passagens de relevância.

Durante o período colonial, os governadores da Capitania de Minas assistiam à missa na Matriz de Nossa Senhora de Nazaré. ”Isso porque aqui havia um palácio da coroa portuguesa”, diz Bohrer. Já no Império, mais especificamente em 1881, o primeiro visitante ilustre foi Dom Pedro II (1825-1891), que registrou a viagem a Minas num célebre diário. “A igreja é no estilo nacional-português, o primeiro do barroco.”

TESOURO Conforme pesquisas, Cachoeira do Campo começou em 1700 e 1701, quando uma grande fome se abateu sobre os moradores da região das minas, os quais debandaram à procura de alimentos. Pela fertilidade do solo e amenidade do clima, o povoado se tornou, então, um dos centros de produção agrícola das minas de ouro recém-descobertas. O lugarejo atraiu agricultores, fazendeiros, senhores de terra e comerciantes. Começaram, a partir de então, construções pioneiras, entre elas, a ermida onde hoje se encontra a Matriz de Nossa Senhora de Nazaré. É provável, segundo estudiosos, que o altar-mor e os dois laterais sejam daquela época.

Em 21 de abril de 1727, a paróquia recebeu a visita de dom Antônio de Guadalupe, quarto bispo do Rio de Janeiro, cuja diocese pertencia ao território de Minas – essa era a primeira vez que uma autoridade católica vinha às Gerais. Apaixonado pelo patrimônio cultural do distrito, o integrante da Comissão Arquidiocesana de Arte Sacra Rodrigo da Conceição Gomes considera o templo “o tesouro da comunidade, uma joia brasileira”. Em novembro de 2012, o padre Oldair de Paulo Mateus e setores da paróquia fizeram intensa campanha pela continuidade das obras de restauração da igreja, paralisadas, então, pelo não repasse de recursos pelo governo federal. Deu certo e a intervenção decolou com sucesso.

ALTARES
Os registros da igreja mostram que, em 1726, foi encomendado o altar dedicado a Nossa Senhora do Rosário a Manuel de Mattos, com base no altar de São Miguel e Almas. Boher ressalta uma data importante nessa história: 1724, quando houve a confirmação do título de sede de freguesia mediante carta régia.

A descrição da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré é tarefa difícil até para pesquisadores, que a consideram uma das obras-primas do barroco. O altar tem quatro colunas em espiral e há no alto uma tarja com os símbolos do Santíssimo Sacramento. No trono, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré talhada em madeira policromada. A escultura portuguesa veio de Braga no começo do século 18 em substituição a outra de 40cm de altura, que, segundo a lenda, pertencera ao primeiro morador de Cachoeira, Manuel de Mello. Outro motivo de orgulho para os moradores é a pintura do teto, feita em 1755 por Antônio Rodrigues Bello. “Trata-se da primeira pintura em perspectiva de Minas”, afirma Bohrer.


FESTA DA PADROEIRA


Hoje

8h Missa celebrada em latim (rito tridentino) a cargo da Capelania Militar
19h30 Missa e novena

Amanhã


9h
Missa campal com participação das comunidades, cada uma trazendo o santo de devoção
18h30 Procissão da bandeira de Nossa Senhora de Nazaré em direção à matriz, com o terço dos homens e presença da banda de música Euterpe Cachoeirense. Logo após, missa, fim da novena, bênção da bandeira e mostra de documentário sobre pedra-sabão

Segunda-feira

9h
Missa das crianças
11h Terço dos homens
12h Repique de sinos nas igrejas de todas as comunidades
19h Missa solene celebrada pelo titular da paróquia, padre Oldair de Paulo Mateus. Em seguida, procissão no Centro Histórico de Cachoeira do Campo, com a presença da banda Sociedade Musical União Social

Saiba mais

Disputa política leva à Guerra dos emboabas

No início do século 18, os paulistas, descobridores das minas de ouro, estavam estabelecidos nos arraiais que iam de Caeté a São João del-Rei. Atraídos pelas riquezas, os emboabas chegaram em massa, invadindo a área e revoltando os pioneiros. A disputa pelo ouro e poder – a guerra foi, acima de tudo, uma disputa política, em torno dos principais cargos e postos da administração montada na região – levou a conflitos armados e à escolha, em 1707, de um emboaba para governador, à revelia da coroa portuguesa. A guerra abriu caminho para uma série de levantes, como a Sedição de Vila Rica (1720) e Inconfidência Mineira (1789) e criação das primeiras vilas do ouro. O português Manuel Nunes Viana (1670-1738), líder dos emboabas, é sagrado governador de Minas dentro da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, ainda em construção.

Sedição de Vila Rica


Também conhecido como Revolta Felipe dos Santos, o movimento ocorreu em 1720 e foi um marco contra a cobrança exorbitante de impostos pela coroa portuguesa. A prisão de Felipe dos Santos (1680-1720) se deu no adro da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré.

Turista famoso


Em 1881, durante a sua viagem a Minas, o imperador Dom Pedro II visitou Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, tornando-se, assim, o primeiro turista famoso a conhecer o templo barroco. O monarca registrou as suas impressões no seu diário.


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