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Estado de Minas

Moradores enfrentam descaso e burocracia depois de desabamento de prédio no Caiçara

Dois anos e meio depois do desabamento de prédio que matou uma pessoa no Caiçara, moradores nem sequer puderam recuperar pertences, porque entulhos não foram retirados


postado em 04/08/2014 00:12 / atualizado em 04/08/2014 07:01

Guilherme Paranaiba

 

'Eu tinha meu álbum de casamento e várias filmagens em fita cassete. Muita coisa que relembra a história da minha família' - Helvécio José Tibães, de 51 anos, representante comercial (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press. Brasil)
'Eu tinha meu álbum de casamento e várias filmagens em fita cassete. Muita coisa que relembra a história da minha família' - Helvécio José Tibães, de 51 anos, representante comercial (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press. Brasil)

“Minha esperança é encontrar alguma das minhas 5 mil fotos ou então o DVD dos 15 anos da minha filha. Nosso passado foi apagado ali, por isso ainda penso que é possível achar algo bem guardado.” O desabafo é do representante comercial Helvécio José Tibães, de 51 anos, um dos oito proprietários dos apartamentos que viraram escombros em 2 de janeiro de 2012, quando o Edifício do Carmo, com dois blocos, na Rua Passa Quatro, 525, no Bairro Caiçara, na Região Noroeste de BH, desabou e matou o corretor de imóveis Janílson Aparecido de Moraes, de 40.

Além dos processos de indenização, ainda sem solução judicial, até hoje, dois anos e meio depois da tragédia, a burocracia impede a retirada dos entulhos do local e a rua permanece interditada para o trânsito de veículos. A Prefeitura de Belo Horizonte alega que a presença dos pedaços de concreto e os restos de construção “atenuam significativamente” o risco de novo deslizamento até que   seja feita uma contenção definitiva, mas, mesmo com a licitação concluída, a obra não começa. A reportagem apurou com moradores e com a empresa que venceu o certame que a falta de uma licença ambiental está travando o procedimento, que tem 240 dias de prazo a partir do momento em que for assinada a ordem de serviço.

Helvécio Tibães diz que é muito apegado às recordações que ficaram no apartamento 102 do Bloco A. “Eu tinha meu álbum de casamento e várias filmagens em fita cassete. Muita coisa que relembra a história da minha família”, conta o representante comercial, que morava no local com a mulher e uma filha.  Hoje, os três ocupam uma parte da casa da mãe de Helvécio, também no Caiçara. O que ainda o deixa com esperança é a experiência de um vizinho. “Trinta dias depois que tudo caiu, um dos moradores conseguiu recuperar intactas algumas peças de porcelana. Não creio que seja difícil achar algum objeto que tenha sido bem embalado ou guardado”, afirma.

A remoção dos escombros também poderia auxiliar outra demanda de Helvécio. Em dezembro de 2011, dias antes da queda do prédio, ele comprou uma Parati usada, que acabou destruída com o desabamento. Desde o dia do desastre, os impostos do veículo não foram mais pagos e o carro não chegou nem a ser transferido para o nome dele. “Foi para a dívida ativa e não consigo nem dar baixa no Detran, pois eles pedem alguma parte do carro que identifique o chassi”, afirma. Outros três carros e uma moto de outros moradores ficaram sob os escombros, segundo o representante comercial.

O agente penitenciário Glauco Peixoto, de 33, morou 15 anos no apartamento 101 do Bloco B, onde colecionava miniaturas de carros. A coleção tinha cerca de 200 peças quando tudo se perdeu no desabamento. “Ainda tenho esperança de encontrar alguma coisa que não esteja quebrada ou enferrujada. Guardava muitos objetos dentro de plásticos ou mochilas”, afirma.

Glauco lembra que a retirada dos entulhos também é muito importante para dar andamento à perícia judicial, documento importante para definir responsabilidades da tragédia. “A gente está ‘cozinhando’ em um sofrimento que não acaba nunca, dois anos e meio e nada de perícia até agora”, reclama Glauco.

O professor de matemática Jânio Lúcio Talini, de 52, gostaria muito de recuperar livros que o auxiliavam no exercício da profissão, mas acredita que os dois anos e meio que já se passaram dificultam muito o trabalho de encontrar pertences intactos em meio aos escombros do apartamento em que ele morava com o irmão: “Acho que é muito importante tirar os entulhos para resolver a situação dos moradores no que diz respeito ao patrimônio que perdemos. Poderíamos até vender o terreno para amenizar o prejuízo”.

ORDEM DE SERVIÇO SEM ASSINATURA

No site da prefeitura, a licitação 63/2013, para obras de estabilização da encosta da Rua Passa Quatro, consta como finalizada e homologada em 17 de maio. A empresa vencedora é a Conata Engenharia Ltda. e, segundo funcionários da construtora, a planilha de serviços indica que o entulho será retirado durante a obra de recuperação da rua.

A informação é de que a ordem de serviço ainda não foi assinada pela falta de uma licença ambiental. Em nota, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura informa apenas que vai retirar o entulho para executar uma obra chamada de “cortina atirantada com base em estaca tipo raiz em toda a extensão do desabamento até a construção vizinha, inclusive com cortinas laterais”, sem explicar as razões do atraso. A reportagem também fez contato com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente , que não retornou as ligações para esclarecer as dúvidas.

No Fórum Lafayette, existe um laudo pericial concluído mesmo sem a remoção dos entulhos, que aponta falhas na contenção do terreno onde foi construído o prédio. As partes envolvidas ainda serão intimadas por essa decisão. Um dos réus no processo estaria doente, o que motivaria a necessidade de marcação de um exame de sanidade mental.


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