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Estado de Minas

Nova pista do Rodoanel muda paisagens da Grande BH

Rodoanel passará por áreas de fazendas e bairros afastados da Grande BH. Moradores se dividem entre o receio e a esperança por melhorias no transporte e na situação econômica


postado em 27/07/2014 00:12 / atualizado em 27/07/2014 07:09

Mateus Parreiras

O produtor Argenor Siqueira, de Ravena.
O produtor Argenor Siqueira, de Ravena. "Alguns parentes e vizinhos que são amigos vão ter de ir embora" (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)

Os 12 mil pés de bananas que dobram o morro da fazenda do produtor rural Argenor Siqueira, de 63 anos, são herança das primeiras formas de produção da região de Casa de Pedra, em Ravena, distrito de Caeté, na Grande BH. Foi o tataravô dele, João Pinduca, um português que chegou ali trazendo mão de obra escrava, quem começou as atividades. Daquela época em diante, a família foi crescendo e dividindo as terras até formar o povoado que leva nome da casa grande que não existe mais. A vida vida simples, típica da roça, vai mudar com a chegada do Rodoanel Metropolitano Norte, que se encontrará com a BR-381 poucos quilômetros depois das terras do senhor Argenor. “A gente já sente um aperto no coração de saber que alguns parentes e vizinhos que são nossos amigos vão ter de ir embora, porque a casa deles está no caminho da rodovia”, conta o fazendeiro. A abertura da via que promete desviar o tráfego do Anel Rodoviário de BH, poupando muitas vítimas de acidentes e trazendo desenvolvimento, divide opiniões de quem mora ao longo do futuro trajeto.


As estacas fincadas na comunidade de Casa de Pedra já vão tirar um sobrinho e um dentista de BH que são vizinhos imediatos do fazendeiro. “As estacas estão lá, bem perto da estradinha de terra, no rumo da casa do meu vizinho, que é dentista”, diz Argenor. Apesar do susto inicial, há a expectativa de uma melhoria nas condições financeiras. “A gente não sabe em qual parte do terreno vai ser aberta a estrada, mas ficamos preocupados com barulho, movimento demais e com crimes”, afirma o produtor. “Mas tem muita gente por aqui pensando em abrir um bar, um restaurante ou uma venda perto do Rodoanel para melhorar um pouco as condições”, acrescenta.


O uso cada vez mais intenso da Lagoa Várzea das Flores como balneário tem mudado as características de “roça pacata” entre Betim e Contagem, onde cresceu o lavrador Geraldo Elias da Costa, de 50. “Vem gente demais para cá. Carros e cavalos ficam estacionados na beira do lago, a gente escuta som alto demais que atravessa até os morros e entra dentro da casa das pessoas que vivem aqui”, conta. Ao saber que parte da mata ciliar que envolve a Várzea das Flores será retirada e que o Rodoanel trará um fluxo estimado em 70 mil veículos, o lavrador se lamenta. “A gente vai desconhecendo o lugar. Vai deixando de ser o que a gente conhecia”, opina. Naquelas terras, onde hoje o trabalhador rural “bate pastos” (capina) e faz pequenas manutenções numa fazenda, Geraldo aprendeu a pescar com os amigos, montava cavalos para ir a vendas e visitar vizinhos. “A gente tem muitas lembranças que vão indo embora, mas que não têm mais volta”, diz.

Transformações Para a auxiliar administrativa Lucinda Maria de Souza, de 48 anos, que vive em Contagem e costuma visitar a irmã no Bairro Colonial, no outro lado da cidade, a construção do Rodoanel pode facilitar seu transporte. “A gente ganha uma forma mais direta de chegar onde precisa, sem ter de passar dentro das ruas dos bairros, principalmente se tiver ônibus”, afirma. Mas, ao olhar adiante, na Avenida das Palmeiras, que segundo o projeto se tornará parte da rodovia, a mulher avistou a sobrinha, Ana Tomás, de 11, empinando uma pipa enquanto corria pelas ruas sem se preocupar com o tráfego quase insignificante. “O que pode acontecer é mudar muito para as crianças. Não vai dar mais para deixar criança pequena solta em beira de rodovia”, prevê.


Para o consultor Paulo Eduardo Borges, doutorando em análise ambiental pela UFMG, o Rodoanel trará benefícios imediatos para a produção econômica, industrial e se tornará uma forma de escoamento produtivo e acesso para cidades como Betim – onde estão instaladas grandes empresas, como Fiat e Petrobras. Mas ele alerta para a necessidade de ações no transporte público.

 

 


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