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Estado de Minas

Capela do Oratório será aberta à visitação pela primeira vez em BH

Com o fim da reforma na Igreja de São José, previsto para setembro, Capela do Oratório será aberta à visitação pela primeira vez. Lugar foi erguido no início do século passado


postado em 21/07/2014 06:00 / atualizado em 21/07/2014 07:21

Gustavo Werneck

Dentro da capela, padre Flávio Campos mostra a lâmpada do Santíssimo Sacramento, achada no porão da igreja (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Dentro da capela, padre Flávio Campos mostra a lâmpada do Santíssimo Sacramento, achada no porão da igreja (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
A restauração de um tesouro de fé, arte e beleza de Belo Horizonte será concluída em setembro e poderá, de forma inédita, ser admirada por moradores e visitantes. Construída antes mesmo da Igreja de São José, à qual está ligada, a Capela do Oratório pertencente ao convento da Paróquia São José, no Centro, e teve escondidas em suas paredes durante décadas pinturas que ressurgem em cores, formas e palavras. Na manhã de ontem, o vigário paroquial padre Flávio Campos, da congregação dos redentoristas, mostrou a parte pronta, com insígnias e letra em latim do canto Te Deum: “Portanto, Te pedimos, socorre os Teus servos que redimiste com sangue precioso”.

Satisfeito com o resultado, padre Flávio revela descobertas registradas desde o início do serviço, em fevereiro. A mais recente, a lâmpada do Santíssimo Sacramento, que ficou esquecida no porão da igreja e recebeu agora um banho de níquel. “Olhando assim parece nova, mas é muito antiga, certamente da época em que o convento foi erguido, em 1900”, diz o vigário paroquial, indicando o ponto, num canto, em que a peça original foi substituída pela de metal pintado de branco. Ao lado, está a tela colada na parede retratando Jerusalém, obra do italiano Carlos Oswald.

As pinturas da capela demandam mais pesquisas para atestar a autoria. A mais provável é que tenham sido feitas, na década de 1930, pelos irmãos italianos Goretti. Até agora, esse patrimônio é restrito dos padres, mas os novos tempos poderão abrir as portas aos leigos. “Já tivemos, aqui, batizados e casamentos, e estudamos a possibilidade de o espaço ser visitado, pelo menos uma vez por mês, pela comunidade.” Os recursos para restauro da Capela do Oratório vieram da congregação dos redentoristas.

“Retiramos três camadas de tinta sobre as pinturas originais”, explicou, ontem, a especialista e encarregada da obra Maria Regina Reis Ramos, conhecida como Marrege, do Grupo Oficina de Restauro. Ela foi responsável também pela recuperação executada entre 2010 e 2013 do interior da igreja, a qual considera “a mais bonita da capital”. As pinturas parietais – feitas pelo alemão Wilhelm Schumacher diretamente nas paredes e teto, sobre o reboco, grande moda em BH no início do século 20 – consumiram dois anos de trabalho, entre 1911 e 1912. Nesse ambiente, o coral Ars Nova fará na noite de hoje, às 20h, concerto dentro da comemoração dos seus 55 anos de história.

Ao mesmo tempo em que executam as obras na Capela do Oratório, os padres conduzem a restauração da parte externa da igreja, que terá de volta o desenho e cores originais da fachada e laterais, conforme o projeto de Edgard Nascentes Coelho, em maio de 1901, quando a capital ainda se chamava Cidade de Minas. À frente da empreitada estão Maria Regina Reis Ramos e sua equipe, mas desta vez os recursos de R$ 1,4 milhão chegam de campanhas desenvolvidas na comunidade, como ocorreu durante a recuperação do interior do templo. A igreja tem visita diária de cerca de 2 mil pessoas.

Antes da Copa do Mundo, a Igreja de São José recebeu andaimes para os primeiros serviços, executados a partir de prospecções nas paredes – sob camadas de tinta, foram encontrados os tons azul, vermelho e laranja. “Em fotografias antigas, vimos os desenhos, e, no projeto original, as cores”, explica a restauradora que elaborou os estudos. A intervenção foi aprovada pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município.

BRASÃO DE BH

Na última terça-feira, as estruturas chegaram ao topo da parte central. No meio dos andaimes, podem ser vistas as recentes descobertas: no frontispício, entre a portada e a cruz, está o brasão de Belo Horizonte, que apareceu depois da retirada de tinta e da reintegração da pintura. Ao lado da entrada, outro detalhe chama atenção –a pedra fundamental da igreja. Embora sempre ali, o marco ficou mais evidente e exibe uma curiosidade. Em latim, está escrito, com letras maiúsculas e minúsculas Me posUIt FranCIsCUs sILVIanUs BranDão. ILLUstraIs hUIUs statUs gUbernator (Fui posta por Francisco Silviano Brandão ilustre governador deste estado). Padre Flávio explica que as maiúsculas formam um acróstico, em algarismos romanos, significando 1902, ano do lançamento da pedra fundamental.

A restauradora Marrege conta ainda que originalmente as torres da igreja tinham pedra ardósia, que podem ter caído ou sido retiradas ao longo dos anos. “Agora, elas vão voltar”, afirmou. “Estamos sendo o mais fiéis possível ao projeto original”, acrescentou o padre Flávio. Para os visitantes, o trabalho está perfeito. Presentes à missa das 10h de ontem, Luciano Adão da Silva, de 28 anos, e Luana Aparecida Vieira, de 22, residentes em Conceição do Pará, na Região Centro-Oeste de Minas, gostaram do que viram. “A fachada combina com o interior da igreja. Fica mais bonita e de acordo com o original”, disse Luciano, que trabalha em construção civil.

Templo, que recebe 2 mil pessoas todos os dias, está sendo restaurado: cores originais serão resgatadas (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Templo, que recebe 2 mil pessoas todos os dias, está sendo restaurado: cores originais serão resgatadas (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Saiba mais
Templo de beleza

Considerado o maior conjunto de pinturas parietais em igrejas da capital, o interior da Igreja Matriz de São José reúne uma variação de motivos religiosos e alguns pagãos: há figuras de 28 santos, de um lado, os homens, e, do outro, as mulheres; o patrono da matriz no alto do arco-cruzeiro, com a inscrição “Rogai por nós”; os evangelistas; painéis mostrando José do Egito, que não tem nada a ver com o pai adotivo de Jesus, sendo vendido pelos irmãos e depois em sua volta triunfal; Nossa Senhora ao lado dos apóstolos; e até os símbolos do zodíaco que, para os religiosos, representam constelações. Quem olha atentamente cada centímetro coberto pelas pinturas pode encontrar algumas envoltas em mistérios que desafiam os historiadores e teólogos, a exemplo das três lebres perto da porta lateral.

CRONOLOGIA


1900 – Em janeiro, é criada a Paróquia São José. Começa a construção do convento, com a Capela do Oratório
1902 – Em abril, ocorre o lançamento da pedra fundamental
1904 – Templo é liberado para celebrações
1907 – Término da obra interna da igreja
1910 – Conclusão das torres e da pintura do batistério
1911 –Instalação do relógio e sino
1911/1912 – É feita a pintura interna da igreja
1928 – Fachada e laterais perdem a cor original e ganham a cor bege
2010 a 2013 – Restauração do interior do templo, com início no coro
2014 –Projeto de recuperação da fachada entra em execução


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