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Estado de Minas

Polícia procura 10 integrantes de bando paulista em Itamonte

População na cidade está com medo; carnaval foi cancelado


postado em 25/02/2014 06:00 / atualizado em 25/02/2014 07:23

Enquanto a população segue assustada, polícia mantém patrulhamento na BR-354, que corta o município (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)
Enquanto a população segue assustada, polícia mantém patrulhamento na BR-354, que corta o município (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)
Ainda sob o impacto de uma ação cinematográfica que resultou na morte de 10 criminosos e na prisão de seis no fim de semana, em Itamonte, no Sul de Minas, as polícias Civil de Minas e de São Paulo começaram uma verdadeira caçada. O objetivo é prender pelo menos mais uma dezena de pessoas do bando especializado em explosões de caixas eletrônicos, que já vinha atuando no estado vizinho e em novembro do ano passado já havia estourado terminais em uma agência bancária de Itamonte.

A sexta prisão ocorreu ontem, em Cambuquira, também no Sul. Trata-se de um homem que deu entrada no hospital da cidade com um ferimento na mão que sugere ter sido provocado por arma de fogo. Ele contou ter sido vítima de um acidente de carro, mas se contradisse ao dar informações sobre o local. O carro supostamente envolvido na ocorrência não foi encontrado. O clima de medo tomou conta da cidade e, por precaução, o prefeito decidiu suspender o carnaval. Uma festa temporã deve ser realizada dentro de 40 dias.

Um forte esquema de interceptações telefônicas foi montado pela polícia para chegar aos comparsas do grupo já desarticulado. Segundo o chefe da Divisão de Investigação de Crimes Contra o Patrimônio do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de São Paulo, delegado Ruy Ferraz Fontes, parte dos suspeitos em liberdade já foi identificada. “Precisamos, no entanto, juntar elementos que comprovem a participação deles”, diz. Todos os integrantes do bando são paulistas, segundo o policial, à exceção do técnico em medicina do trabalho Silmar Junior Madeira, de 31, que é de Itanhadu, município vizinho a Itamonte. Segundo familiares e uma testemunha, Silmar foi rendido pelos assaltantes e obrigado a dirigir o próprio carro pelo bando. Ele foi morto durante a troca de tiros com a polícia.

A quadrilha, classificada pelo delegado como “especializadíssima” em explosão de caixas eletrônicos, já atuava no estado vizinho e é alvo de investigação pela corporação paulista há pelo menos seis meses. “Começamos a juntar elementos depois de explosões em várias cidades de São Paulo. Eles tinham a mesma forma de agir em todos os casos. Atiraram contra a base da PM e contra qualquer cidadão que não obedecesse às ordens deles. Também deixavam poucos vestígios”, informou Fontes.

Segundo ele, somente em 10 cidades de São Paulo o grupo foi responsável por 20 ataques. “Essa era outra característica da quadrilha. Eles voltavam para replicar a ação criminosa”, afirma. Segundo levantamento da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) de Minas, pelo menos 53 casos de explosões de caixas eletrônicos foram registrados no Sul de Minas entre janeiro e novembro do ano passado. Mas o EM apurou que os ataques chegaram a quase 80 em 2013.

O delegado do Deic explicou que a escolha dos municípios do Sul de Minas para atuação está relacionada à proximidade com São Paulo, ao tamanha da cidade e ao baixo aparato policial. No caso de Itamonte, ele conta ainda que o isolamento geográfico da cidade, onde qualquer reforço policial levaria pelo menos 20 minutos para chegar.

Encontro criminoso

A descoberta do ataque no Sul de Minas pela polícia começou com a identificação de Alfredo Luiz Mancini, o Alemão, que começou a ser monitorado. Segundo o policial, ele foi o primeiro a ir para a cidade mineira. “Ele chegou por volta das 19h, depois foi para o município vizinho de Itanhandu e voltou para Itamonte por volta da meia-noite para se encontrar com o restante dos bandidos que saíram de São Paulo às 22h30”, conta Fontes.

O encontro foi às margens da BR-354, que corta a cidade. De lá, eles partiram para a praça que concentra as agências bancárias. Um caixa eletrônico foi estourado, quando então os bandidos foram surpreendidos pelo aparato policial montado. Na troca de tiros, quatro morreram no local. Outros cinco foram baleados e mortos em cercos policiais montados na estrada.

Além da quadrilha desarticulada, a PC de Minas não descarta a atuação de outros grupos paulistas no estado. De acordo com o chefe do 17º Distrito Policial de Pouso Alegre, 15 pessoas especializadas em explosão de caixas eletrônicos foram presas em novembro do ano passado depois de ataques na cidade e de um plano frustado previsto para Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Parte do grupo de Campinas (SP) foi presa em Novo Cruzeiro, no Vale do Jequitinhonha, e o restante em Pouso Alegre. O delegado do Deic, no entanto, afirmou que os grupos atualmente investigados pelo departamento – com exceção da quadrilha que atacou em Itamonte – têm atuação somente em São Paulo.

A advogada Elisabeth Pezzuol, que defende quatro presos na operação, questiona a polícia. Segundo ela, não há provas de que eles estavam na cidade para assaltar. “Se foram para cometer o ato criminoso, isso ocorreu com a permissão da polícia, que já aguardava por eles”, disse. Para ela, o que ocorreu foi uma chacina planejada pela polícia. “Conversei com meus clientes e eles afirmaram, inclusive, que a polícia matou um inocente”, afirmou.

Carnaval

Apesar de toda a estrutura já estar armada em frente à Praça Padre Francisco Mira e de artistas já terem sido contratados, o prefeito Ari Constantino Filho aceitou a sugestão do Ministério Público e da Polícia Militar de cancelar a festa. "Se não cancelar, parte da cidade fica brava; se cancela uma outra parte fica brava. Mas o fato criou certo pânico e a população fantasia aos montes.” Uma festa fora de época deve ser realizada daqui a 40 dias. A data vai depender também da agenda dos artistas e serviços já contratados.

O ataque descoberto
Identificação de criminoso paulista abriu caminho para operação das polícias

» Depois de seis meses de investigação de uma quadrilha de ataques a caixas eletrônicos, a Polícia Civil de São Paulo identifica e passa a monitorar Alfredo Luiz Mancini, o Alemão. Os assaltos planejados para Itamonte e Itanhandu são descobertos.

» Na sexta-feira, dia 21, Alemão sai de casa em Arujá (SP) e viaja para Itamonte. Chega por volta das 19h e segue para Itanhadu, a 11 quilômetros. Por volta da meia-noite, volta para Itamonte para se encontrar com a quadrilha, que saiu de São Paulo por volta das 22h30, às margens da BR-354.

» Fortemente armado e em cinco carros, o grupo invade a cidade, atira na base da PM e estoura o caixa eletrônico de uma agência. Mas é surpreendido por forte esquema policial. Na troca de tiros, cinco do grupo morrem. Outros quatro que fugiram ao cerco morrem em outro tiroteio na 354.

» Na noite de domingo, dois bandidos que fugiram levando um comerciante e taxista como refém são interceptados pela polícia em São José dos Campos (SP). Um foi morto e o outro baleado e preso.

» Um homem que deu entrada em um hospital de Cambuquira, vizinho de Itamonte, com ferimento semelhante ao de bala, é investigada pela polícia. E outro que procurou atendimento em uma unidade de saúde em Itamonte, dizendo ter sofrido acidente de moto, também é investigado como suspeito do ataque à cidade.

» Polícias de Minas e São Paulo continuam investigação para prender o restante do bando, que pode passar de uma dezena de pessoas. Ao todo, 10 pessoas foram mortas e seis presas.


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