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Estado de Minas RETRATO

Pesquisa mostra que um em cada 10 alunos sofreu bullying em BH

Levantamento foi feito com 1.199 alunos de escolas da capital, para mestrado da UFMG. Entre os que admitiram a prática, maioria diz que agiu por "zoação" ou diversão


postado em 28/07/2013 00:12 / atualizado em 28/07/2013 07:50

Sem tradução para o português, o termo bullying, de origem inglesa, está totalmente inserido no vocabulário dos jovens e, infelizmente, no cotidiano das escolas de Belo Horizonte. Quase um em cada 10 alunos de instituições privadas e públicas da capital já foi vítima das agressões e intimidações rotineiras cometidas pelos colegas. A prática ocorre geralmente na sala de aula e se concentra entre adolescentes de 13 a 17 anos. São apelidos, xingamentos e ameaças encaradas como diversão pelos agressores – a maior parte deles de escolas particulares –, mas que causam dor, angústia e até depressão nas vítimas.

O retrato das agressões no ambiente escolar de BH foi traçado na pesquisa “A violência por trás da brincadeira: um estudo quantitativo sobre o bullying entre estudantes de BH”. Desenvolvido pelo psicólogo Cláudio Júnio Patrício, o estudo foi apresentado no mês passado, como conclusão do mestrado em promoção da saúde e prevenção à violência, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ao todo, 1.199 alunos de 33 escolas privadas e públicas municipais, estaduais e federais responderam o questionário. Os entrevistados tinham entre 10 e 19 anos.

Do total de estudantes, 9,1% disseram ter sofrido bullying – termo derivado de bully, valentão. Desses, 39% eram de escolas particulares, 29% de estaduais, o mesmo percentual de municipais, e 3% de instituições federais. A maior parte das vítimas (25,2%) tinha 13 anos, seguida dos adolescentes de 15 anos (16,8%) e de 17 anos (15%). Os dados mostram também que meninos e meninas são igualmente alvo das agressões e que, em 43,6% dos casos, os “valentões” eram da mesma turma das vítimas. Não por acaso a sala de aula foi apontada como o principal local das intimidações, com 46,3% das respostas.

Tímido, bom aluno e dedicado, Marcos (nome fictício), de 12 anos, começou a ver a sala como ambiente de tortura. Desde o início do ano, é ali que os colegas intimidam o menino. Um sofrimento sem tamanho para a mãe do adolescente, Kelly Almeida, de 37, que já não aguenta ver o filho chegar aos prantos da escola. “Ele não gosta de brincar, é estudioso, mais caladão, prefere ficar em casa e só dá certo com as meninas. Os colegas o ficam chamando de ‘bicha’, pondo apelidos. Tem dia que ele não quer nem ir à aula”, conta Kelly, cansada de ir à direção reclamar.

O psicólogo Cláudio Júnio, autor da pesquisa, ressalta que, assim como no caso do garoto Marcos, o bullying tende a ser uma forma de violência contra tudo que é diferente. “É o reflexo de uma sociedade que tem dificuldade de lidar com a diferença. As vítimas são normalmente adolescentes que fogem ao padrão. Já os agressores são meninos e meninas que buscam um status de poder e liderança dentro de um grupo. E muitas vezes praticam o bullying para serem aceitos pela turma”, afirma.

No início do mês, a região metropolitana de BH ficou estarrecida com caso que pode ter ligação com bullying. Um jovem de 19 anos, aluno de uma escola em Santa Luzia, atirou em dois colegas de turma. Amigos do rapaz, portador de necessidades especiais, disseram que ele era vítima de xingamentos e agressões físicas.

Distinção
Uma pequena parcela de estudantes se assumiu como agressor na pesquisa da UFMG. Apenas 1,7% responderam já ter praticado bullying, sendo que a grande maioria encarava essa atitude como “zoação” (47,1%) ou diversão (41,2%). Pôr apelidos no colega e ridicularizá-lo na frente dos outros são as principais formas de violência, segundo a pesquisa, e equivalem a 58,9% dos casos. “No bullying, alguns se divertem, em detrimento do outro. Na brincadeira, todos se divertem e essa distinção é importante”, afirma Cláudio Júnio.

O comportamento é mais comum entre os homens (63,2%) e a maior parte deles (24,5%) age em grupo. Segundo o estudo, 70% dos que praticam bullying têm entre 14 e 16 anos. “Eles estão saindo da puberdade, época de profundas transformações e desequilíbrios, até por questões hormonais”, completa Cláudio.

"Quem é alvo de bullying tende a ser mais ansioso, depressivo. Os índices de abandono escolar também são maiores", diz o psicólogo Gustavo Teixeira (foto: ARQUIVO PESSOAL - 28/2/12)
Psicólogo defende prevenção

Seja entre agressores ou vítimas, há um consenso em relação ao bullying. Para os dois lados, a prática pode ter fim e os professores têm papel importante nesse processo, já que a maior parte das intimidações ocorre dentro da sala de aula. Segundo o estudo “A violência por trás da brincadeira: um estudo quantitativo sobre o bullying entre estudantes de BH”, dissertação de mestrado do aluno da UFMG Cláudio Júnio Patrício, 58,9% dos alunos acreditam que o problema tem solução e os docentes poderiam participar.

Mãe de uma vítima de bullying, Kelly Almeida, de 37 anos, reclama da atuação da escola. “Mudaram-no de lugar e melhorou um pouco, mas não chamaram a atenção dos alunos”, diz. O filho dela estuda em uma escola pública estadual. Autor do livro Manual antibullying, o psiquiatra Gustavo Teixeira afirma que, mais do que remediar, a grande questão é prevenir a prática. “Existem perfis de crianças, mais tímidas, retraídas, pior nos estudos, que têm mais chances de serem alvo dessa prática. É fundamental que quem esteja próximo atue. Se acontece dentro da sala, o professor não pode minimizar. É fundamental intervir contra o bullying”, afirma. Depois, as consequências podem ser fatais. “Estudos científicos mostram que quem é alvo de bullying tende a ser mais ansioso, depressivo. Os índices de abandono escolar também são maiores”, alerta.

De olho no problema, o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep/MG) elaborou uma cartilha de combate ao bullying e distribuiu 186 mil exemplares para seus 670 associados. O material traz orientações a diretores e professores informando o que é, como identificar, enfrentar e prevenir o problema.

Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) informou que desde o ano passado, já promoveu quatro seminários para debater a violência. O último, em abril, contou com a presença de 600 educadores. Um fórum permanente para discutir a cultura de paz nas escolas foi criado no ano passado, sendo que o bullying é um dos assuntos debatidos.


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