Gustavo Werneck
De portas abertas, coração na maior expectativa e desejo de receber os peregrinos com o jeito mineiro de ser: muita alegria, aconchego e, claro, pão de queijo com café quentinho. As famílias de Belo Horizonte que vão hospedar estrangeiros participantes da Semana Missionária, ou Pré-Jornada, evento preparatório para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), já arrumam os quartos e preparam a casa para o período de 16 a 21 de julho, quando de 8 mil a 10 mil rapazes e moças de vários países estarão na capital imersos na festa religiosa de evangelização.
Línguas diferentes, costumes opostos e total falta de intimidade não serão empecilho, garantem pais e filhos, certos de que prevalecerão a força da fé, palavras de afeto e, principalmente, vontade de trocar experiências e conhecimento. “A gente gesticula e dá tudo certo. O inglês fica no more or less “, brinca o casal Matias e Rosimary Bakir, residente no Bairro São Lucas, na Região Centro-Sul, pronto para acolher dois dinamarqueses.
A expectativa inicial era de que 30 mil estrangeiros chegariam a BH para a Semana Missionária, que antecederá a JMJ, marcada para Rio de Janeiro (RJ), de 23 e 28 de julho. O número caiu para um terço do previsto devido às inscrições dos estrangeiros na jornada, que contará com a presença do sumo pontífice no seu primeiro grande evento internacional e cerca de 2 milhões de pessoas. “Já temos 2,5 mil famílias cadastradas para receber os peregrinos na Pré-jornada, algumas com lugar para mais de um hóspede. Além disso, contaremos com 2 mil voluntários bilíngues que atenderão os visitantes”, explica o bispo auxiliar dom João Justino de Medeiros, autoridade referencial da juventude na Arquidiocese de BH.
Na casa confortável do Bairro São Lucas, há espaço suficiente para os três filhos solteiros – Bruno, de 23 anos, estudante de geologia, Thaís, de 21, e Lucas, de 19, ambos pré-vestibulandos – e mais os estrangeiros, que, por enquanto, o casal Matias e Rosimary não sabe o nome nem o sexo. Simpática ao convite da cúria para que as famílias recebessem os peregrinos, na faixa de 10 a 30 anos, Thaís não se incomodou de ceder o seu quarto. “Vou ficar num quartinho lá de cima da casa, sem problema. Não falo inglês fluentemente, mas entendo se a pessoa conversar devagar”, conta a estudante. Atuante na Paróquia de Santa Efigênia, o casal não pensa em mudar a rotina. “As atividades serão o dia inteiro, mas tenho certeza de que haverá um tempinho para ficarmos juntos”, adianta a artista plástica Rosimary. Matias, auditor fiscal, acrescenta que é preciso destacar o desprendimento dos estrangeiros, que chegam de longe a fim de participar de um encontro com o papa Francisco e celebrar a fé católica.
No Bairro Funcionários, na Centro-Sul, o casal João Victor e Inês Ferreira, pais de duas filhas casadas e avós de um menino, espera julho com satisfação. Casados há 36 anos, eles terão em casa, na Semana Missionária, dois jovens de países de língua inglesa, embora, por enquanto, não saibam exatamente de onde. Os estrangeiros terão à disposição uma suíte com duas camas e banheiro, além de uma sala de tevê ao lado. “Acredito que o problema maior será de comunicação, mas a nossa filha Raquel Cristina prometeu que vai se mudar aqui para casa durante os seis dias. Ela fala inglês e o marido também”, diz João Victor. Inês pensa em levá-los, dependendo da agenda, ao Mercado Central.
Integrante da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, o casal está certo de que o fundamental é acolher os visitantes. “Há uma apreensão natural, mas falará mais alto a linguagem afetiva”, afirma o sociólogo e funcionário público aposentado. “Quando nos fizeram o convite, aceitamos de bom grado. Tivemos duas filhas e seria bom que viessem duas moças para esse convívio com a gente”, revela Inês, mais preocupada, agora, em tirar todas as peças do guarda-roupa do quarto. “O armário vai ficar para eles. Vamos tomar café da manhã juntos e preparar o jantar para recebê-los, com uma sopa e um cardápio mineiro. Será tudo bem tranquilo”, avisa.
Saiba mais
PROGRAMAÇÃO DIVERSIFICADA
A Semana Missionária ou Pré-Jornada, realizada nas dioceses, e arquidioceses de todo o país, é uma forma especial de preparação para o encontro da juventude católica com o papa Francisco no Rio de Janeiro. Segundo a Cúria de Belo Horizonte, os peregrinos de outros países que participarem da semana poderão conhecer a vivência cristã, o trabalho social e a cultura religiosa mineira. E poderão trocar experiências e enriquecer a fé, conhecendo costumes locais da região considerada “um tesouro no coração católico do Brasil”. O evento vai contemplar atividades reunindo os mineiros e os visitantes internacionais, com celebrações eucarísticas nas paróquias de acolhida, atividades missionárias, vigílias, apresentações musicais, giro cultural pela cidade e grandes eventos, como o Festival de Artes, Feira Expovocacional, Circuito Sociocultural e Congresso Mundial das Universidades Católicas (CMUC), no mesmo período. Um coral com mil vozes, formado por jovens da arquidiocese, está se preparando para apresentações durante os principais momentos da Pré-Jornada.