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Estado de Minas

Moradora vizinha de córrego em Betim teme ser atingida novamente por enchente

No ano passado, Maria Conceição Silva, de 63 anos, perdeu móveis e outros pertences


postado em 12/11/2012 14:25

O córrego que corta o Bairro Nossa Senhora de Fátima, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, parece inofensivo aos olhos de quem desconhece a região. Em períodos de seca, o volume de água que circula por ali é baixo, e com exceção do mau cheiro que dele exala devido ao esgoto despejado no local, os moradores não parecem não ter com o que se preocupar. Mas a aparente calmaria não engana dona Maria Conceição Silva, de 63 anos. Vizinha do córrego desde o início da década de 1990, a aposentada sabe que a chegada do período chuvoso significa o aumento no volume de água e a consequência é a inundação das ruas que o cercam. Como já conhece de perto o perigo, Maria vai todos os dias até a margem do riacho para conferir o nível da água. Mas mesmo monitorando, ela não conseguiu evitar que todos os móveis de sua casa fossem perdidos durante a última enchente que invadiu as ruas do bairro em dezembro do ano passado.

A casa de dona Maria é grande, mas quase não há móveis. Os poucos que restaram estão caindo aos pedaços, pois apodreceram depois de ficarem submersos durante a enchente que assolou o bairro em 19 de dezembro de 2011. A cômoda e alguns armários que restaram só estão de pé devido à sustentação de tijolos. Atrás do pesado guarda-roupa, ainda há resquícios da lama trazida junto com a água que transbordou do córrego. “Descobri a sujeira na semana passada quando meus filhos me ajudaram a arrastar o móvel. As paredes ainda nem secaram depois da última enchente”, conta a aposentada, que mostra as paredes descascadas devido à umidade. Sem ter como se mudar, a solução encontrada por Maria é ir várias vezes à beira do córrego para acompanhar o nível da água. “Não tenho condições de sair daqui, então quando vejo que (o riacho) vai encher, deixo tudo para trás e meus filhos vêm me buscar para me levar para outro lugar”, conta a mulher que já planeja construir uma estrutura de madeira para colocar fogão e geladeira, numa tentativa de salvar de uma nova enchente os únicos eletrodomésticos que ainda lhe restam.

A professora Pedrinha Santos, de 38 anos, também vigia regularmente a subida da água que passa pelo córrego. Na última enchente, ela morava na Rua Tocantins e não chegou a ter a casa invadida, mas viu muitos vizinhos perderem tudo. Neste ano, ela está mais próxima do perigo. Teve de se mudar para a Rua Amazonas, que é dividida pelo riacho, e já espera uma enchente tão grande quanto a de dezembro. “Venho aqui fora todos os dias para ver se o córrego encheu. Não morava aqui no ano passado, mas sei que essa casa foi invadida até a metade das paredes”, relata. Apesar do risco, ela diz que não há muito como se preparar e confessa que não tem nenhum plano para o caso de ter sua casa inundada. “O que falta mesmo é uma obra neste córrego, porque o bairro é tranquilo e bom de se viver, mas o que acontece em relação ao riacho é um descaso por parte das autoridades competentes”, reclama.

 

A reivindicação de Pedrinha é compartilhada pela vizinha que mora na outra margem do córrego que corta a Rua Amazonas. Há 15 anos, Iraci Santiago, de 39 anos, vê se repetir a mesma cena: basta começar a chover por vários dias para que o nível da água aumente e o córrego transborde. “Quando aquilo enche basta meia hora para que a água invada nossa casa”, conta a salgadeira que no ano passado teve um carro novo destruído pela água. “Não fosse o seguro, teríamos tido um prejuízo imenso”, revela a mulher. Acostumados com as inundações, Iraci e o marido tiveram de se adaptar e passaram a comprar móveis resistentes à água. “Não compramos mais mesas de madeira. Agora quase tudo é de pedra ardósia e mármore. Já o guarda-roupa está estragado, mas não adianta comprar, porque no ano seguinte vem a enchente e estraga tudo de novo.

Além do prejuízo material, Iraci teme pela saúde da família. Ela tem duas filhas de 10 e 14 anos e conta que é difícil evitar o contato delas com a água que vem do córrego durante as chuvas. “Você sabe como são as crianças. Para elas tudo é diversão e elas gostam de brincar na água. Mas acontece que isso aqui é contaminado”, diz.

Segundo os moradores, além dos transtornos durante as enchentes, a população sobre com a sujeira que fica nas casas e nas ruas depois que a água volta a baixar. “A gente encontra de tudo. Da última vez, além do lixo, a gente encontrou até cachorro morto que foi arrastado pela correnteza”, relembra a professora Pedrinha. Segundo Iraci, são necessários vários meses para deixar a casa limpa. “Vem muito barro e a sujeira é grande. Como tenho medo da contaminação, temos um kit chuva em casa, como galochas e capas de chuva”, afirma. A esperança das famílias é de que já no próximo ano, o governo municipal tome providências que resolvam o problema das inundações. “O prefeito eleito veio aqui e nos prometeu que vai fazer uma obra no córrego assim que as chuvas passarem. Espero que ele cumpra e que não tenhamos que passar por tudo isso de novo. Se não for feito nada, daremos uma ‘banana’ para ele daqui a quatro anos”, diz o marido de Iraci, Wilson Silva Oliveira.


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