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Estado de Minas

Embriaguez é precoce em Belo Horizonte

Pesquisa revela que a cada década cresce de 10% a 20% a quantidade de álcool consumido por jovens e adolescentes na capital. Frequência também aumenta e iniciação já chega aos 12 anos


postado em 30/10/2012 06:00 / atualizado em 30/10/2012 06:44

A morte do estudante Daniel Macário de Melo Júnior, de 27 anos, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), no sábado, reabre a discussão sobre o consumo excessivo de bebida alcóolica entre jovens de Belo Horizonte. Estudos mostram que, paralelamente à diminuição da idade média de quem começa a beber na capital, há aumento do volume ingerido. “A cada década, a quantidade de bebida alcoólica ingerida por jovens e adolescentes aumenta em 10% a 20% em relação ao consumo anterior. No mesmo intervalo de tempo, aumenta também a frequência”, explica o integrante do programa de neurociência da UFMG Amadeu Roselli Cruz, professor da Faculdade Promove e diretor de Pesquisa da Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro.

Como exemplo, o especialista afirma que, se há 20 anos os adolescentes começavam a ingerir álcool de maneira preocupante com 17 ou 18 anos, atualmente há crianças de 12 anos ou menos tomando quatro ou cinco latinhas de cerveja, quantidade considerada significativa para a idade. A frequência também aumentou nas últimas décadas, segundo ele. “Nesse período, os adolescentes que bebiam apenas no fim de semana passaram a beber na sexta-feira, sábado e domingo. Alguns bebem também na quarta-feira, quando há jogo de futebol”, lembrou. Os dados se referem a 2011 e fazem parte de uma pesquisa patrocinada pela Faculdade Promove e pela Universidade Santa Bárbara, com atualização de três a cinco anos.


As razões para o aumento de consumo de bebida alcoólica na adolescência estão ligadas à permissividade que o álcool encontra entre as famílias da capital. Na cidade que leva o título de Capital dos Botecos, cada vez mais os filhos estão absorvendo os hábitos dos pais de consumir álcool, independente do sexo, conforme o professor. “A propaganda que promove o consumo de álcool é maciça. Beber está na moda, é uma prática corriqueira nas novelas, nos botecos e nos lares”, diz.


Tolerância

O fato que chama atenção no consumo de álcool entre adolescentes, conforme o especialista, é que o uso tem tido aceitação inclusive em espaços públicos, como shoppings e bares, além do ambiente familiar, sendo este justamente o primeiro lugar para conter o primeiro gole, como explica o especialista. “A prevenção deve ser feita na família, que deve impor limites. Em segundo plano aparece a escola. Mas se a família não trabalha isso precocemente, a escola tem dificuldades de controlar.”


O professor Amadeu Roselli lamentou a morte de Daniel, mas diz que faltou a ele inteligência emocional para lidar com o consumo de álcool. “Era um universitário. Prestou um vestibular em uma instituição federal e se classificou frente a outros candidatos, o que mostra que teve uma boa educação cognitiva, mas a inteligência emocional foi de uma pessoa primária, imatura e sem limites”, avalia.


Em tom de preocupação, o professor alerta que o aumento de volume e frequência no consumo de álcool pode ter interferências físicas e comportamentais sérias para o adolescente, a depender da reação individual e da tolerância de cada um. “A quantidade de quatro a cinco latas de cerveja, por exemplo, é suficiente para provocar uma embriaguez significativa e consequentemente um retardo na maturação do cérebro desse adolescente”, afirma.

 

Como os pais podem ajudar

» Conscientizar-se sobre a prevenção em casa e buscar informações sobre os efeitos do álcool e o alcoolismo na adolescência.
» Perceber que seu papel é de estabelecer limites e acordos com os filhos.
» Evitar dizer apenas não e aprender a escutar os filhos e as razões deles para justificar o consumo de álcool.
» Dar o exemplo em casa, evitando o uso indevido de bebidas alcoólicas.
» Participar da vida do adolescente e supervisioná-lo, quando necessário.
» Propiciar qualidade de vida ao jovem e estimular hábitos saudáveis.
» Cobrar ajuda da escola no trabalho.
» Exigir das autoridades políticas públicas de prevenção ao consumo de álcool.

Energéticos são perigosos

A falta de controle no consumo tem feito também aumentar o número de atendimentos no Centro de Toxicologia de Hospital de Pronto Socorro XXIII, onde os jovens e adolescentes são maioria nos casos relacionados ao uso de álcool. Mesmo sem apresentar os dados, o coordenador da unidade, médico Délio Campolina, afirma que os números do ano passado superam os dados de 2010, quando 93 pessoas foram atendidas. Os números, segundo ele, são subestimados se considerados com todos os casos de coma alcoólico que têm como porta de entrada o setor de clínica médica do hospital, uma vez que o Centro de Toxicologia atende casos de álcool associado a outras drogas.


Entre os pacientes, segundo ele, têm sido cada vez mais comum a mistura da bebida com energéticos, como ocorreu com o estudante da Ufop que, além de cerveja e uísque, ingeriu também estimulante. “Eles são perigosos em excesso porque inibem o efeito depressor do álcool e mantém a pessoa acordada e bebendo mais. Associados a uma grande quantidade de bebida, os energéticos podem provocar quadros parecidos com os de outras drogas, como perda da consciência e da memória”, disse.


Ao listar os problemas provocados pelo consumo excessivo de álcool, Campolina destaca os acometimentos ao sistema nervoso central, com destruição de neurônios. Causa ainda desgastes do fígado, do sistema gastrointestinal, além de mudanças comportamentais, como alteração de humor, falta de concentração e piora na escola. O médico alerta ainda que é grande o risco de envolvimento com outras drogas, a partir do consumo de álcool.

 

NÚMEROS

12 anos

ou menos, é a idade média do início do consumo de álcool hoje

2 a 3 meses
É o tempo que diminui a cada ano na idade dos adolescentes que começam a beber

10% a 20%
É a média de aumento, a cada 10 anos, no volume de álcool ingerido por adolescentes

Fonte: Pesquisa do professor Amadeu Roselli Cruz
 

 


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