
Em rodovias que cortam Minas é possível encontrar exemplos de placas que mais servem para desorientar do que orientar motoristas. Na BR-040, especialmente no trecho entre Belo Horizonte e Conselheiro Lafaiete, na Região Central, o problema se agrava: muitas vezes, nem sequer é possível enxergar a placa. Por conta do movimento de caminhões de mineradoras, parte da sinalização fica coberta de pó de minério. O trecho também apresenta falhas na sinalização horizontal, que em muitos casos se resume à pintura que demarca as faixas.
Dos 440 quilômetros que separam Belo Horizonte do Rio de Janeiro, os mais complicados são os 100 que ligam a capital mineira a Conselheiro Lafaiete. A maioria das placas que indicam a velocidade permitida na rodovia estão sujas de pó. Em algumas delas, não é possível ler o que está escrito. “Fica complicado saber qual é o limite a ser seguido. A quantidade de radares e a variação das velocidades contribuem para aumentar ainda mais a confusão, então acaba que não sei a quantos quilômetros por hora andar”, diz Guilherme Peixoto, de 24 anos, há três trabalhando como caminhoneiro.
As placas que mais ficam sujas são as que indicam a direção das curvas. Apesar de passarem quase despercebidas durante o dia, elas são muito importantes à noite, pois ficam visíveis quando recebem a luz dos faróis e ajudam a apontar o traçado. Como a grande maioria está coberta de pó, os motoristas precisam recorrer às faixas que demarcam os sentidos opostos, mas quase todo o percurso está sem olhos de gato e a pintura amarela está apagada em muitos pontos.
Dificuldades Esse conjunto de características torna muito perigosa a viagem à noite na rodovia. O estudante Felipe Almeida, 23, conta que já passou por ali várias vezes, indo para Lafaiete, e já teve dificuldades no período noturno. “Você vai pela sua visão. Se acontece qualquer coisa fora do normal, o jeito é torcer para estar bem tranquilo e conseguir enxergar uma saída em meio à escuridão. E o farol alto não pode ser usado, porque ofusca a vista de quem vem no sentido contrário”, diz.
Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral, lembra que o sistema rodoviário vai muito além do pavimento e que as intervenções sistemáticas são importantes para corrigir deficiências. “Simplesmente não há gestão do dinheiro público e por isso não existe manutenção. A fiscalização também é zero, pois os caminhões de minério rodam sem lonas e ninguém faz nada. É um descaso com o contribuinte que paga seus impostos”, avalia.
Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que mandou nota por meio de sua assessoria de imprensa, “o tráfego intenso de carretas de minério torna difícil a manutenção e limpeza das placas e dos dispositivos de drenagem”, diz o comunicado. O Dnit afirma ainda que já se reuniu com representantes das mineradoras e um termo de ajustamento de conduta (TAC) foi firmado no sentido de manter a carga de minério coberta com lonas. Além disso, segundo o órgão federal, o TAC prevê a lavagem das carretas antes de entrarem na rodovia. Nesse caso específico, o Dnit informou que quem tem competência para fiscalizar os veículos é a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
O Dnit também informou que, no trecho da BR-040 entre Sete Lagoas e o Trevo de Curvelo, de fato há excesso de vegetação e placas cobertas ou danificadas. “O Dnit enfrentou questões judiciais por cerca de um ano e só na semana passada foi possível assinar contrato com a empresa que fará a manutenção no trecho. Nos próximos dias os trabalhos terão início”, diz a nota.
A Polícia Rodoviária Federal, por sua vez, informou que tem registrado boletins de ocorrência por conta da sujeira deixada na BR-040. As ocorrências são encaminhados ao Ministério Público Estadual para que providências sejam tomadas. A PRF informou que “três mineradoras da região já foram autuadas pelo MPE”.

Palavra de especialista
Paulo Resende, Fundação Dom Cabral
Sinalização exige estudo
Em países desenvolvidos, o planejamento de tráfego tem na sinalização um de seus principais pilares. No Brasil, a sinalização é feita da cabeça dos gestores, sem estudo. É preciso tomar como base o pensamento de quem está trafegando pela primeira vez no local. Os três pilares de uma boa sinalização são a redundância, com vários avisos seguidos para a mesma situação, a clareza da informação e o pensamento de quem não conhece a pista, mantendo as placas que orientem uma pessoa que está passando pela primeira vez no local.
