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Estado de Minas É FÁCIL CULPAR A MÁQUINA

Especialistas lembram importância do uso da frenagem a motor em vias como o Anel Rodoviário

Alguns alertam que excesso de carga, falta de manutenção e velocidade alta aquecem sistema


postado em 29/09/2012 06:00 / atualizado em 29/09/2012 07:19

Na quinta-feira, carreta que transportava pedras arrastou 32 veículos no Anel Rodoviário e motorista alegou ter perdido o freio(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Na quinta-feira, carreta que transportava pedras arrastou 32 veículos no Anel Rodoviário e motorista alegou ter perdido o freio (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

A frequência de acidentes com veículos de carga pesada e o argumento de que o freio falhou deixam em risco os motoristas que trafegam pelo Anel Rodoviário, em Belo Horizonte. Para especialistas, uma mistura imprudente sobrecarrega o sistema de freios e provoca seu aquecimento: excesso de carga, falta de cuidado com a manutenção e, principalmente, velocidade acima da permitida, que exige uso constante do freio, sobretudo em declives. A opção para evitar acidentes como o da noite de quinta-feira, quando uma carreta de mineiro arrastou 32 veículos na altura do Bairro Betânia, seria o sistema auxiliar de frenagem, que usa a redução de marchas para controlar o veículo, conhecido como freio motor. De acordo com a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), foram 947 acidentes no Anel Rodoviário neste ano, envolvendo veículos de carga. Os feridos chegaram a 145 e os mortos a nove.

Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais, Fabrício Pujatti explica que o freio funciona por atrito, dissipando a energia do carro em calor. Segundo ele, se o motorista mantivesse a velocidade constante da carreta em trecho de descida das rodovias, gastaria menos energia e exigiria menos do sistema de frenagem, evitando o superaquecimento dos freios.

“É uma carreta com carga pesada e o motorista precisa freiar adequadamente, porque tem muita energia acumulada na descida. Se o caminhoneiro anda em alta velocidade e deixa para freiar em cima do radar, por exemplo, ele sobrecarrega muito mais o sistema do que se viesse a 60 quilômetros por hora na pista da direita. O superaquecimento existe, sim, mas o problema é deixar chegar  a esse ponto. Se isso ocorre até em um carro de passeio de mil quilos, imagina em um veículo de 30 mil quilos com carga pesada?”, questiona o especialista.

Fabrício diz que o mais apropriado em declives como o do Anel é usar o freio motor, com a marcha engrenada. A redução da velocidade na marcha, afirma ele, permite que o sistema de escapamento seja acionado, bloqueando parcialmente a descarga de ar, que fica retido dentro do motor. “Há um triângulo de fatalidade, com imperícia, negligência e imprudência. O projeto das montadoras é benfeito, mas dimensionado para carga determinada, o que muitas vezes não é cumprido pelos caminhoneiros. Os componentes dos veículos, como cintas e pastilhas de freio, precisam ser homologados pelas montadoras porque, senão, podem comprometer o sistema. Outro problema é a sobrecarga e o superaquecimento do sistema de freio, porque o motorista não dirige nem freia como deve”.

Para o doutor em engenharia de transportes Frederico Rodrigues, os motoristas não controlam os veículos com o freio motor porque isso implica em trafegar devagar. “Numa descida como no Anel, é imprescindível esse mecanismo para não sobrecarregar o sistema de freios. Pode até ser que a carreta do acidente de ontem (quinta-feira) tivesse problemas, mas o fato de entrar em trecho de declive já exige essa postura de veículos grandes por questões de segurança. É mais fácil evitar um acidente com redução na marcha, mas ele deveria estar em baixíssima velocidade, engatando a primeira para o motor segurar o carro”, avalia o especialista.

O consultor em transporte e trânsito Osias Batista Neto ressalta que faltam placas indicativas de perigo no Anel. Duas apontam a proximidade do trecho urbano, mas, segundo ele, não há nenhuma que alerte para a necessidade de o motorista usar freio motor e descer engrenado para não sobrecarregar o sistema de freios do veículo. Na opinião dele, o acidente de quinta-feira aponta indícios de que o motorista poderia estar em velocidade acima do permitido ou que teria descido com “marcha solta”, chegando ao Betânia com os freios superaquecidos.

“Há uma descida forte desde o Posto Chefão, numa via regulamentada para 90 km/h. Ali, o motorista não desce engrenado, mas 13 quilômetros depois está numa via urbana e precisa reduzir. Cada vez que ele passa por um radar, ele freia e depois solta o veículo, aquecendo o sistema de freios. As placas têm que falar o que o motorista precisa saber: reduza a velocidade, desça engrenado para não aquecer os freios, trecho urbano com alto índices de acidentes, use freio motor. E radar. Infelizmente, o Anel precisa de mais radares”, considera Osias.

Depoimento

O motorista Jorge Joel Ramos, de 50 anos, prestou depoimento na Delegacia de Acidentes de Veículos e foi liberado. Ele disse à polícia que descia na quarta marcha e que a carreta não respondeu quando ele tentou passar para a terceira. Segundo o motorista de Araranguá (SC), ele ainda teria jogado a carreta para o acostamento, mas, pela espessura do trecho, o veículo bateu no barranco e voltou para a pista. Jorge afirma que o sistema de freios esquentou. A carreta arrastou 32 veículos e só parou porque o motorista de um caminhão-baú conseguiu segurá-la com seu freio. Três pessoas tiveram ferimentos leves.

Jorge transportou pedras do Paraná para São José da Lapa, Região Central de MG, e, para não voltar vazio, carregou com minério em Nova Lima. O acidente ocorreu às 19h15 de quinta-feira, na altura do Bairro Betânia. O motorista se submeteu ao teste do bafômetro, que deu negativo. A delegada Cláudia Nassif tem 30 dias para concluir o inquérito e vai aguardar os laudos periciais, inclusive de análise do tacógrafo da carreta, que ficou preso às ferragens e foi recolhido.
 


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