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Estado de Minas

BH tem 88,6% mais casos de erro hospitalar

Internações relacionadas a falhas em procedimentos médico-hospitalares quase dobram em BH durante o primeiro semestre de 2012. Cardiologia é especialidade com mais complicações


postado em 30/08/2012 06:00 / atualizado em 30/08/2012 06:42

Desconfiado: Alan Castro Novais não consegue superar medo de médico depois que ingeriu ácido no lugar de sedativo, quando se preparava para fazer uma tomografia (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Desconfiado: Alan Castro Novais não consegue superar medo de médico depois que ingeriu ácido no lugar de sedativo, quando se preparava para fazer uma tomografia (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Uma simples visita de rotina ao pediatra é motivo suficiente para o menino Alan Breno Castro Novais, de 2 anos, se contorcer, gritar, usar as unhas e até os dentes para tentar escapar da consulta. O desespero se deve ao trauma que desenvolveu depois de ter a boca, a traqueia e o esôfago corroídos quando uma técnica em enfermagem lhe ministrou, por via oral, ácido tricloroacético em vez de sedativo. Foram 22 dias internado, desde 7 de abril, sendo cinco deles na unidade de terapia intensiva (UTI). “Ele fica até vermelho quando chega ao médico. Criou pânico. Fica repetindo: ‘Embora, mamãe, embora mamãe’”, conta a mãe do garoto, a manicure Érica Aparecida de Castro Novais, de 31. O sofrimento do menino e de sua família ilustra uma situação que se agrava em Belo Horizonte. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o número de acidentes durante a prestação de cuidados médicos e cirúrgicos e de incidentes em diagnósticos e terapias aumentou 88,6% entre o primeiro semestre do ano passado e deste ano.

Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), internações por esses motivos dispararam no período, passando de 79 casos nos seis primeiros meses de 2011 para 149 internações em 2012. Ao longo de todo o ano passado houve apenas 30 internados a mais do que o total registrado durante este semestre em BH. É a pior parcial semestral dos últimos cinco anos, menos grave apenas que o quadro registrado em 2009, quando houve 187 casos durante os primeiros seis meses.

Neste ano, duas pessoas já morreram pela imperícia e más condições hospitalares, de acordo com registros nos hospitais que atendem ao SUS, média que se manteve ao longo desses anos. Nem todos os pacientes são provenientes de hospitais públicos e postos de saúde, uma vez que, de acordo com médicos e enfermeiros, há quem seja atendido na rede particular e até receba alta antes de sentir os efeitos do cuidado inapropriado, sendo levado para atendimentos de urgência da rede SUS quando o quadro piora em casa.

Corações sofridos

Entre as causas que mais contribuíram para a internação de pessoas em Belo Horizonte por problemas nos cuidados médicos e hospitalares, o destaque são os incidentes com o manejo e com os próprios dispositivos para diagnósticos e terapias cardiovasculares. Esse tipo de ocorrência levou 91 pessoas de volta aos leitos e enfermarias, ou seja, 61% do total. Entre esses episódios podem ser citados imperícia no uso e defeitos em catéteres, que são tubos inseridos em veias e cavidades para ministrar medicamentos, aparelhos de monitoramento, implantes, próteses, marcapassos, instrumentos e material específico, incluindo suturas.

Em segundo lugar aparecem os acidentes não identificados durante a prestação de cuidados médicos e cirúrgicos, com 30 ocorrências. O caso do menino Alan, que ingeriu ácido em vez de anestésico quando era preparado para ser submetido a uma tomografia no Hospital Infantil São Camilo, se encaixa nessa categoria, que engloba também o uso de sangue incompatível em transfusão, de líquido errado em infusão, falha de sutura ou de ligadura, cânula mal posicionada na anestesia e realização de operação inapropriada, entre outros. Na sequência aparecem as sequelas de intervenções que se agravam depois da alta do paciente, com 11 casos, e as situações adversas com aparelhos ortopédicos, que chegam a nove.

Para o presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), esses problemas se agravaram pela falta de estrutura, sobretudo na rede pública de saúde. “Temos hospitais sucateados, falta de infraestrutura, de planejamento, de investimentos em equipamentos, insumos e pessoal”, afirma. O Estado de Minas tentou contato ontem com representantes da Sociedade Mineira de Cardiologia, para saber quais tipos de problemas levam a especialidade a ser a líder em regresso médico, mas nenhum deles foi encontrado. A especialidade é a que historicamente recebe mais pacientes.


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