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Estado de Minas

Quem segue a lei nas BRs é ameaçado

Obedecer à sinalização de velocidade implantada nas BR's, além de ser tarefa confusa, é um risco extra para motoristas, que sofrem pressão de carretas e de ultrapassagens proibidas


postado em 20/08/2012 06:54 / atualizado em 20/08/2012 08:03

Seguir estritamente a velocidade permitida pelas placas de sinalização do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) se mostra tão ou mais perigoso do que burlá-las nas mais perigosas estradas mineiras. Quem cumpre essas regras sente ao volante o risco que corre. Acaba na frente de filas de motoristas impacientes e caminhoneiros apressados, pressionando para que se abra caminho pelo acostamento, fazendo ultrapassagens perigosas e fechando condutores mais lentos como forma de “puni-los” por atrasar os imprudentes, ao rodar dentro da velocidade legal. Ameaças de uma aventura que enfrentam aqueles que trafegam pela BR-040, nos 72 quilômetros entre BH e Congonhas do Campo, na Região Central, e na BR-381, a Rodovia da Morte, nos 103 quilômetros entre a capital mineira e João Monlevade, no Vale do Aço, como verificou o Estado de Minas.

Antes da instalação dos equipamentos de limitação de velocidade, se cumpria o trajeto pela BR-040 em 53 minutos, numa velocidade média de 81,5 km/h. Com os aparelhos o desempenho caiu para 1 hora e 16 minutos (43,3% a mais) e 56,8 km/h (-31%). Na BR-381, o deslocamento durava 1 hora e 13 minutos à média de 84,6km/h e passou a 1 hora e 36 minutos (31% a mais) rodando a 64,3km/h (-24%). Contudo, a desaceleração brusca nos radares é imediatamente “compensada” pelos motoristas nos trechos sem a presença dos aparelhos de fiscalização eletrônica, ainda que disponham de placas que exibem a velocidade tolerada.

Em dois trechos com limite de 60 km/h nessas rodovias o EM flagrou veículos acelerando fundo, chegando a trafegar superando o dobro do permitido. No km 417 da BR-381, em São Gonçalo do Rio Abaixo, na Região Central de Minas, a velocidade máxima tolerada é de 60 km/h na descida sinuosa. Com os dois radares mais próximos a 10 quilômetros, a reportagem flagrou motoristas a 103 e a 118 quilômetros por hora. Em cinco minutos de monitoramento com um medidor móvel de deslocamento, 47 veículos passaram por lá em velocidade média de 77,8 km/h, sendo que 45 (95,7%) estavam acima dos 60 km/h permitidos.

Enquanto a reportagem percorria esse trajeto cumprindo à risca a velocidade determinada pelas placas, vários outros veículos mais rápidos fizeram manobras arriscadas para abrir caminho. Ao todo, nas providências que foi obrigado a tomar para que o pior não ocorresse, e que incluíram abrir passagem pelo acostamento, o motorista da equipe precisou deixar 31 automóveis e carretas ultrapassarem.

Na BR-040 a imprudência foi ainda mais grave. No km 600, em Congonhas, na Região Central, o limite de 60 km/h foi superado em 110% por uma picape que passou à noite a 126 km/h. Em cinco minutos de medições, 53 veículos trafegaram a uma velocidade média de 79,4 km/h. Do total, 51 (96%) estavam acima do permitido.

O desrespeito completo, na opinião do mestre em engenharia de transportes e professor da PUC Minas Paulo Rogério da Silva Monteiro, se dá em razão da falência do modelo adotado pelo Dnit. “Os motoristas tendem a não respeitar sinais de trânsito incoerentes. É preciso melhorar a regra. Não adianta a fiscalização ser precisa e a regra ruim”, argumenta. “O motorista em uma reta com limite de 60 km/h respeita primeiro. Olha para os lados. Não vê nada. Acha que é uma placa velha ou punitiva. Se for numa curva fechada a tendência é respeitar”, exemplifica o especialista.

 

Respeite as placas e fique desorientado

 

Se por um lado os sete radares instalados na BR-040 entre BH e Congonhas funcionam e multam como anunciado, a sinalização na rodovia é deficiente e traz perigo a quem pretende respeitá-la. Enquanto a equipe de reportagem percorria o trecho de 72 quilômetros para medir em quanto tempo os radares aumentaram a viagem, por três vezes a confusão de placas impedia de saber qual era a velocidade correta a ser seguida. O problema ocorreu principalmente após se deixar uma área coberta por fiscalização eletrônica. As placas chegam a indicar a redução de 110 km/h, 100 km/h e
80 km/h para 60 km/h, mas não informam qual a velocidade que se deve desenvolver ao passar pela área monitorada.

Para o especialista em transporte e trânsito Paulo Rogério Monteiro, isso indica que o que foi pensado “foi a fiscalização e não a sinalização em toda a extensão da rodovia”. Placas confusas estão por toda parte, algumas completamente ilegíveis por causa do minério jogado pelas carretas, que tampa letras e números. Trechos antigos e desativados ainda exibem placas de 60 km/h muito próximo a partes ativas da via, deixando na dúvida os condutores.

Em Itabirito, na Região Central, uma sequência de placas com limite de 40 km/h foi instalada no km 583 na época das chuvas, quando barreiras enormes ruíram dos barrancos e interromperam o pavimento. A obra já terminou há quase três meses, mas as placas que indicam uma redução brusca com alerta de obras permanecem ao longo do caminho.

Questionado sobre os problemas nessas rodovias, o Dnit se restringiu a enviar por e-mail uma relação antiga – de julho – sobre os locais onde os radares foram instalados e quais estavam em funcionamento.

Um ano de denúncias


Os perigos dos radares inativos entre os operantes na BR-381 vêm sendo denunciados pelo Estado de Minas há um ano. Desde 15 de agosto do ano passado, os acidentes provocados pelos aparelhos que obrigam pessoas desavisadas a frear bruscamente foram expostos, quando eram ainda 18 os aparelhos instalados, dos quais 10 inoperantes, entre eles um sem câmera e outro tampado com um adesivo do fabricante (foto) . “No início, os radares ajudaram. Mas muita gente viu que são uma enganação e voltou a correr e a bater nos que ainda acreditam”, afirmou, à época, o borracheiro José da Fonseca Costa, de 56 anos, que trabalhava em frente ao detector de velocidade do km 410 da BR-381, em Roças Novas, distrito de Caeté. Procurado para dar explicações, o Dnit, que já havia informado que todos os equipamentos estavam em funcionamento no trecho desde abril de 2011, admitiu que “alguns” ainda não estavam em operação, por falta de ligação elétrica. “Eles dependem de extensão de rede da Cemig, o que já está sendo providenciado”, informou o departamento.


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