(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Descendentes e imigrantes sírios que vivem em BH angustiados com conflito

Confrontos já mataram mais de 20 mil pessoas no país do Oriente Médio


postado em 05/08/2012 07:14 / atualizado em 05/08/2012 07:19

 Farid Sarsur, diretor de arte, neto de sírios(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Farid Sarsur, diretor de arte, neto de sírios (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Desde janeiro de 2011, a Síria vem sendo alvo de conflitos entre rebeldes opositores ao governo do presidente Bashar al-Assad, cujo partido está no poder desde a década de 1960, e o Exército do país. Até agora, mais de 20 mil pessoas já teriam morrido. De olho no país de origem, que vive o que a Cruz Vermelha internacional já classifica como guerra civil, descendentes de sírios em Belo Horizonte, principalmente os que têm parentes no local, estão com o coração apertado.

Na capital mineira, eles se encontram no Esporte Clube Sírio, onde realizam eventos sociais, culturais e comemorativos, e também na Igreja do Sagrado Coração de Jesus dos Siríacos Católicos, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de BH. Preocupado com a situação, o padre George Rateb Massis viajou para seu país na semana passada levando alimentos e dinheiro arrecadados pela igreja. De acordo com o cônsul honorário da Síria na capital, Lycio Cadar, o padre foi ao encontro do bispo de Homs, uma das cidades bombardeadas no conflito. “O bispo está fazendo um trabalho muito importante de solidariedade, acolhendo as vítimas dessa cidade”, diz.

O diretor de arte Farid Sarsur é neto de imigrantes, tem primos de 2º grau que moram na Síria e diz que está triste com o que o país está vivendo. A última vez que teve contato com um dos parentes foi há sete anos e agora não sabe como ele está. “Sei que é de Homs. É muito complicado dizer se o governo da Síria está certo ou errado, porque não vivencio isso. Sei que é um ditador e tem muita coisa que não sabemos.” Para rever parte da família e conhecer o lugar de onde vieram seus avós, Sarsur planejava uma viagem para lá em alguns anos. “Mas é complicado. Como vou? Não tem jeito, a gente não sabe o que está acontecendo, não tem segurança. Mas a gente fica triste, é o lugar de onde venho. Não nasci lá, mas me preocupo, existe essa ligação”, lamenta.

Assunto evitado

Uma das soluções encontradas por descendentes também é evitar o assunto. Vanessa Hissa Gomide, proprietária do restaurante de comida síria Sbuni, prefere não se inteirar dos fatos. “Tenho uma tristeza tão grande com essas guerras, que quando passa o assunto no jornal mudo de canal para não saber. Acho isso tão absurdo que tento me alienar. É por coisas assim que os descendentes estão aqui”, analisa Vanessa. Ela lembra que o avô era um filho único que, também fugido do domínio turco, veio parar no Brasil. “Era um menino mimado que, criança, tinha de pegar numa metralhadora e sair para a guerra. Graças a Deus ele saiu de lá e eu nasci aqui. Tento participar, mas me dá um aperto no coração tão grande que ouço a sabedoria da minha mãe”, afirma Vanessa. A mãe dela dizia que a ignorância – de ignorar e não de burrice – nos poupa de muitos sofrimentos na vida. “Acho que hoje estou aprendendo que é verdade o que ela dizia. Evita sofrer com coisas que a gente não pode mudar.”

A presidente do Clube Sírio, Najwa Seif, é síria, se casou com um brasileiro de mesma descendência e se mudou para Belo Horizonte em 1987. Ela tem irmãos e primos que vivem na capital, Damasco. Todos os dias eles se falam pela internet. “Damasco hoje está tranquila, mas o povo não está feliz”, diz ela, que é tradutora pública de árabe e professora de língua.

População

Não há números oficiais no consulado da Síria em BH nem na embaixada em Brasília que dão uma dimensão da comunidade em Minas Gerais. A razão é que no começo do século 20, libaneses e sírios, ao fugir do domínio turco, usavam um documento único quando migravam para o Brasil. De acordo com a embaixada da Síria em Brasília, a estimativa é de que 1,5 milhão de sírios tenham vindo para o Brasil entre 1840 e o começo da Segunda Guerra Mundial. Depois desse período, o fluxo migratório foi para outros países. Em Minas, as maiores comunidades, de acordo com o consulado honorário em Belo Horizonte, estão em Juiz de Fora, Teófilo Otoni, Uberaba, Governador Valadares e Belo Horizonte.

Como foi a chegada ao Brasil


 

Padre George Rateb Massei, da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no Bairro Funcionários, viajou à Síria levando donativos arrecadados em campanha na capital(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Padre George Rateb Massei, da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no Bairro Funcionários, viajou à Síria levando donativos arrecadados em campanha na capital (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Há dois estudos realizados em Minas Gerais, publicados na internet, que detalham a imigração. Em 2004, Leonardo Fígoli e Elaine Vilela apresentaram um trabalho intitulado Migração internacional, multiculturalismo e identidade: sírios e libaneses em Minas Gerais. Na publicação, explicam que “o início de uma corrente migratória livre de sírios e libaneses para o Brasil se dá no último quarto do século 19 (…). As circunstâncias em que ocorreu o deslocamento fizeram com que os imigrantes fossem logo classificados pelos agentes e pelas instituições governamentais, ao ingressar no território brasileiro, com várias designações genéricas, como “turcos”, “árabes”, “turco-árabes” ou mesmo “sírio-libaneses”, o que explica a imprecisão dos registros oficiais por origem”.

Eles deixavam seus países para fugir do império turco. Entre 1900 e 1903, uma lei turca impedia a emigração, mas ela foi derrubada em 1903, quando “o contigente de indivíduos provenientes da Síria e do Líbano para o Brasil volta a crescer ininterruptamente até a Primeira Grande Guerra”, segundo o estudo.

Comerciantes

Ao chegar, eram poucas as opções de trabalho. A encontrada foi tornarem-se “mercadores ambulantes, que desempenhariam um papel econômico essencial, enquanto distribuidores de mercadorias, no complexo sistema da cadeia produtiva”, diz o estudo. Fígoli e Vilela escrevem ainda que, depois de acumular recursos com essa atividade, esses imigrantes abriam pequenas lojas onde haviam mais consumidores e acabavam por tornar esses lugares centros comerciais.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)