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Estado de Minas

Ouro Preto: entre o antigo e o moderno


postado em 15/07/2012 07:15

 

Em 1940, quando o IBGE realizou seu primeiro censo, Ouro Preto tinha 27.890 habitantes. Nos levantamentos seguintes, a população foi crescendo até os 70.281 habitantes encontrados em 2010. Quando esteve na cidade, em 1851, o alemão Hermann Burmeister contou menos de “8 mil almas”. Ele percebeu que “as casas não se enfileiram em ruas compridas, formam antes pequenos núcleos”, agrupados “em redor dos vários templos”.

O crescimento da população fez com que a maioria dos núcleos se tocasse, além de fazer surgir novos bairros. Alguns deles, com edifícios de apartamentos e outras construções modernas, não lembram em nada o cenário protegido pelo Iphan. Nesses lugares, é comum que moradores se refiram à área central como “Ouro Preto”, como se fosse uma cidade à parte. Na Bauxita, há gente que quase nunca se desloca até as cercanias da Praça Tiradentes, a 2 quilômetros de distância.

O pessoal que vem de fora é que se interessa por Ouro Preto, a gente não está nem aí - Sônia Santos, de 46, dona de casa(foto: gladyston rodrigues/em/d.a press)
O pessoal que vem de fora é que se interessa por Ouro Preto, a gente não está nem aí - Sônia Santos, de 46, dona de casa (foto: gladyston rodrigues/em/d.a press)
“Só vou àquele lado em caso de extrema necessidade. Acho que a última vez foi no mês retrasado”, diz a dona de casa Sônia Santos, de 46, moradora da Bauxita. “Não gosto de ir lá, não. Sobe morro, desce morro, é muito cansativo”, concorda a vizinha Maria das Mercês Pio, dona de casa, da mesma idade. “O pessoal que vem de fora é que se interessa por Ouro Preto, a gente não tá nem aí”, admite Sônia.

Sônia e Maria das Mercês não entraram em quase nenhum dos museus e igrejas da área tombada, mas não é preciso sair da Praça Tiradentes para encontrar ouro-pretanos que não conhecem museu algum. Adriana Antônio Evaristo e Maria Aparecida dos Anjos caminham por uma hora do Bairro Santa Cruz, onde moram, até o restaurante em que trabalham, a poucos metros da praça. “Nunca entramos em museu, acredita? Só fui a duas ou três igrejas, para ver a missa”, diz Adriana, de 32.

Em Ouro Preto, os restaurantes mais frequentados pelos moradores, em geral, não são os preferidos dos turistas. Alguns cafés e restaurantes, especialmente nas ruas Direita e São José, não sobreviveriam sem a presença de forasteiros. “Mais de 90% do nosso ganho sai de turistas. Eles vêm pra gastar mesmo, pra comer bem”, comenta o húngaro Peter Bosze, de 56, dono de um restaurante de comida italiana na Rua Direita. Ele celebra a chegada de julho, mês em que a cidade, que tem 170 pousadas e hotéis, recebe mais visitantes. “Ganhamos um quarto do faturamento nesse mês. Esperamos o ano inteiro para que ele chegue”, completa.

Peter mora há 26 anos na cidade, onde teve seis filhos. Veio para trabalhar na exploração de pedras preciosas e foi ficando. “Adoro o clima de montanha. Os mineiros são receptivos. Apesar de ser uma cidade pequena, temos contato com o mundo por meio dos turistas. Não estamos esquecidos”, observa. O cientista político Juan Pablo Paes, a artista plástica Mara Paz e os três filhos saíram da Argentina para visitar Ouro Preto. “Estamos gostando muito. Os prédios são muito bonitos, bem conservados”, elogia Juan.

Normalmente, a cidade se enche de turistas entre quinta e sexta-feira e despede-se deles no domingo. Na segunda-feira, o núcleo histórico continua movimentado, mas por moradores. Na cidade, que tem 83% de católicos, segundo o Censo 2010 do IBGE, as igrejas ajudam a ditar a cadência do dia a dia. No século 19, Hermann Burmeister contou 10 igrejas “grandes e de belas torres”, conforme escreveu. É provável que sejam a mesmas dez tombadas pelo Iphan. As duas matrizes são a de Nossa Senhora da Conceição, a leste da Praça Tiradentes, e a de Nossa Senhora do Pilar, a oeste.

No primeiro domingo deste mês, o padre Marcelo Moreira, de 47, celebrou um casamento e três missas. “É um cansaço confortador. Vivenciar com o povo a fé compartilhada é realizar o que gosto, a missão que Deus me confiou”, disse à noite, na sacristia da Igreja do Pilar. Aos domingos, a sonolenta Ouro Preto é despertada pelos sinos das igrejas. Na de Nossa Senhora do Carmo, eles tocam às 7h30, chamando os fiéis para a missa das 8h30. Em ritmo acelerado, os badalos duram cerca de dez minutos. Todos os dias, o sacristão Jovelino Teodoro da Silva, de 70 anos, sobe os 74 degraus de uma das torres para tocar três sinos.

Hoje está um movimento horrível. Não tinha essa
Hoje está um movimento horrível. Não tinha essa "montoeira" de gente que tem hoje - Mirtes de Oliveira, de 78, dona de casa (foto: gladyston rodrigues/em/d.a press)
Para que a tradição não se perca, Jovelino tem alguns aprendizes. “Primeiro, você tem que ouvir bem para depois ir pegando o toque. Tem que ter cuidado, o sino é muito pesado”, alerta. Ele exerce o ofício desde os 7 anos, sem remuneração. Para atrair os garotos, porém, é preciso pagar “uma gratificação”, diz o professor: “Para incentivá-los, a gente dá 10 ‘paus’”. Jovelino lamenta que os jovens não prezem tanto as tradições religiosas. “São eles que dão vida e alegram Ouro Preto”.



História

No final do século 17, o bandeirante paulista Antonio Dias divulgou as primeiras notícias da descoberta de ouro na região que veio a compor o estado de Minas Gerais. Nos últimos anos daquele século, Dias e o padre João de Farias — que viraram nomes de bairros em Ouro Preto — fundaram os primeiros povoados no território elevado a vila em 1711, a Vila Rica. Em 1823, ao ser promovida para cidade, passou a se chamar Ouro Preto. Depois da vizinha Mariana, foi a segunda capital mineira até ser substituída, em 1897, por Belo Horizonte. Em 1980, virou Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.


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