O aproveitamento de um gás altamente poluente é a aposta para a geração de energia na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Arrudas, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Uma central termoelétrica inaugurada nessa terça-feira vai evitar que toxinas sejam eliminadas no meio ambiente e fornecer 90% da energia consumida na unidade. A ideia é expandir o modelo em outras plantas da Companhia de Saneamento de Minas Gerais para torná-las autossustentáveis.
A termoelétrica aproveita o gás eliminado numa das fases do tratamento de esgoto, que é a reação anaeróbica feita dentro de equipamentos conhecidos como biodigestores. Nesse processo, o esgoto produz metano, que é canalizado para a central, onde é queimado, gerando calor que gira dentro das turbinas que produzem eletricidade.
Foram investidos R$ 50 milhões no novo sistema, que tem capacidade de produção de 2,4 megawatts - energia que seria suficiente para abastecer cerca de 3 mil famílias. Com a nova fonte de energia, espera-se uma economia de R$ 2,7 milhões. A ETE Arrudas trata 40% do esgoto coletado em BH e 40% do que é recolhido de Contagem. Ela é um dos instrumentos para a revitalização do Rio das Velhas - Meta 2014.
O processo da termoelétrica começa com a interceptação dos esgotos nas margens dos cursos d’água, levando os dejetos para a estação de tratamento. Na fase preliminar, são eliminados sólidos grosseiros e areia. A sequência é o tratamento biológico, onde atuam o decantador primário, o reator e o decantador secundário.
"O que sedimenta nesses decantadores é lodo, que decompõe biologicamente a matéria orgânica com oxigênio. O líquido gerado a partir disso está nos padrões ambientais e vai para os córregos. Já o lodo vai para os biodigestores", explica o superintendente de gestão de energia da Copasa, Marcelo Gaio. Nesse processo, é produzido biogás (dois terços de metano e um terço de gás carbônico), que servirá de combustível da microturbina que é acoplada a um gerador para produzir energia.
Tecnologia
O governador Antonio Anastasia destacou que essa é a primeira ETE da América Latina a ter a queima do gás da decomposição. "Vamos continuar investindo no tratamento de resíduos para que tenhamos de fato uma melhoria grande no tratamento do Rio das Velhas. Isso se reflete na Região Central, Norte e até no Nordeste do país. É um avanço tecnológico que faz economia e demonstra a preocupação com o meio ambiente", disse. O presidente da Copasa, Ricardo Simões, informou que há projetos também para a estação de tratamento de Ibirité, também na Grande BH. "A obra está em licitação e será construída com recurso de um banco alemão. Ela usará processo de biogeração também", afirmou.
A ETE Arrudas tem capacidade de tratamento de 2.259 litros por segundo, o equivalente a 194,4 milhões de litros de esgoto por dia. As obras para a ampliação da estação começaram em novembro do ano passado e receberam recursos de R$ 186 milhões.