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Estado de Minas

Manutenção de relógio ajuda a preservar a história de Sabará


postado em 13/03/2012 06:00 / atualizado em 13/03/2012 06:39

Em 30 dias, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo terá de volta seu relógio secular, que hoje está sob os cuidados de Joaquim Santana Lourenço(foto: BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS)
Em 30 dias, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo terá de volta seu relógio secular, que hoje está sob os cuidados de Joaquim Santana Lourenço (foto: BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS)
Os ponteiros da história de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, acertam contas com a preservação. Depois de cinco anos sem funcionar, o relógio da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no Centro da cidade, foi retirado, na manhã de sábado, para limpeza e reconstituição de peças, o que deve levar um mês.


Segundo o responsável pelo serviço, o relojoeiro reparador Joaquim Santana Lourenço, de 53 anos, o equipamento de fabricação inglesa e com mais de 200 anos só vai retornar à torre esquerda do templo católico após a semana santa. Por volta das 11h, toda a engrenagem estava pronta e embalada para ser levada à oficina do relojoeiro no Bairro Lagoinha, na Região de Venda Nova, na capital.


O desmonte e retirada do relógio, que ocorre pela primeira vez desde 1783, começou às 6h30, e, devido ao peso das peças de ferro, Joaquim contou com o apoio de dois trabalhadores. “São peças fundidas ainda em areia e não em fresas mecânicas, a exemplo das de hoje.”


Trata-se de um relógio totalmente artesanal, com a particularidade de ter apenas um ponteiro, em forma de flecha e medindo um metro, para marcar as horas cheias”, explicou o especialista, lembrando que os minutos são calculados na fração. “O som da batida é mais forte do que a do sino e a cidade inteira ouve.” O ponteiro ficou no local e os números, em algarismos romanos, são pintados na parede. A igreja é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1938.

Reforma Ao começar a examinar peça por peça, Joaquim verificou que há desgastes e folga no mecanismo, excesso de óleo e graxa e algumas gambiarras, como as encontradas no pêndulo. “Vou lixar o que for preciso, tirar a sujeira e refazer os dentes da engrenagem.  Daqui a 30 dias, terei que subir com as peças e remontá-las no local”, disse Joaquim, destacando que será adicionado um motor para dar corda, embora toda a estrutura se mantenha original.


O relógio funciona com um sistema de pesos de cimento – um de 40kg e outro de 35kg –, sustentados por cabos de aços e que fazem as vezes de corda – e as horas são marcadas a partir de um martelo que bate no sino e aciona o badalo. “Hoje todos os relógios são eletrônicos, fabricados na China. Este aqui é uma obra rara, joia de qualidade, feito para não acabar”, comentou Joaquim, enquanto examinava o regulador de velocidade – um tipo de freio do mecanismo –, a roda de carga e a manivela do relógio da Igreja, pertencente à Ordem Terceira do Carmo, e que tem obra de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730–1814).

Ofício em extinção

Com mais de 30 anos de experiência no ramo e dedicado exclusivamente ao relógios de época, principalmente os dos séculos 18 e 19, Joaquim conta que se interessou pela atividade na infância, “lá pelos 12 anos, influenciado por um primo em Guaraciaba”, na Zona da Mata, onde nasceu.


Bem-humorado, Joaquim está certo de que tem uma profissão que não dá para fazer hora: “Meu ofício está em extinção, pois há poucos profissionais no mercado. Nunca fico à toa e gosto muito de trabalhar com mecânica”, contou o relojoeiro. O currículo inclui reparos de equipamento de Lagoa Formosa, na Região do Alto Paranaíba, e Pedra do Anta, na Zona da Mata. O restauro está sendo custeado por um comerciante de Sabará, irmão leigo carmelita, que cumpre uma promessa e prefere o anonimato.


Entusiasmado com a reforma, o coordenador de patrimônio da Ordem Terceira do Carmo, José Bouzas, conta que o relógio da Igreja do Carmo pontua a vida de muitas gerações de sabarenses. “A catraca do relógio fazia um barulho muito alto. Era nesses momentos que, voltando do Cine São Luiz com as garotadas, passávamos perto do cemitério do Carmo para assustá-las. O cenário e o barulho da catraca eram um terror”, recorda-se Bouzas. “

 

 

Memória

 

Intervenções de Aleijadinho

 

A pedra fundamental da Igreja de Nossa Senhora do Carmo foi lançada em 8 de junho de 1763. Cinco anos mais tarde, com a obra bem adiantada, a Ordem Terceira do Carmo decidiu modificar o risco original feito pelo mestre Tiago Moreira. Nas décadas seguintes, o templo sofreu muitas alterações, inclusive com intervenções de Aleijadinho. A construção, com características do terceiro período do barroco, tem alvenaria de pedra, com torres quadradas e nave única. Na parte interna, tanto a nave quanto a capela-mor apresentam forro de tábuas lisas e curvas, com pinturas decorativas. O painel central representa o episódio de Elias sendo transportado para o céu num carro de fogo. Segundo os especialistas, as pinturas principais são de autoria de Joaquim Gonçalves da Rocha, destacando-se ainda o conjunto de imagens de São João da
Cruz e São Simão Stock, ambas esculpidas pelo “gênio do barroco”.


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