A recuperação de veículos furtados ou roubados em Belo Horizonte aumentou 10 pontos percentuais no ano passado em comparação a 2010. O que pode parecer motivo de alívio não está ligado a uma melhora do policiamento, mas, segundo especialistas em segurança pública e policiais, a uma mudança no uso desses carros. Eles estariam sendo cada vez mais usados para prática de crimes e depois abandonados para não incriminar as quadrilhas.
A análise é corroborada por estatísticas. Segundo a Polícia Civil, enquanto os registros de furto, ou seja, sem uso de violência ou ameaça, cresceram 13% na comparação de 2010 com 2011, as ocorrências de roubo, sob coação e ameaça, subiram 44,3%. “Geralmente, quem usa o veículo para outras finalidades criminosas pratica violência”, afirma o sociólogo especialista em segurança pública Luiz Flávio Sapori.
Outro fator que explicaria o incremento das atividades criminosas com o uso de veículos roubados que depois são abandonados é o mapeamento da recuperação dos carros e motos na capital mineira. De acordo com a COP, as regiões Central e Sul são onde menos se roubou veículos, sendo também onde percentualmente menos se encontra os automóveis. No Centro, forma 711 veículos roubados ou furtados no ano passado e apenas 214 (30%) recuperados. Na Região Sul, 849 veículos levados e apenas 246 (29%) reavidos. A explicação para isso seria a maior segurança dessas regiões, todas monitoradas por câmeras, com maior vigilância e movimento. “O trabalho primordial nesse combate tem sido feito pela Polícia Militar, que está nas ruas e que tem a possibilidade de conferir placas e rastrear veículos que estão sendo levados”, afirma Sapori.
A esperança do garçom Jales Rodrigo Soares Dias, de 20 anos, é justamente que sua moto levada ontem por volta das 16h na Avenida Cristiano Machado, altura do Bairro Ipiranga, acabe sendo abandonada depois de usada pelos ladrões. “O delegado informou que geralmente os bandidos largam a moto num lugar mais vazio e longe. Tomara que façam isso mesmo, porque é meu único meio de transporte e não terminei ainda de pagar (a motocicleta)”, desabafou.
Pelos dados da COP, os bairros que ficam em regiões mais afastadas da área central são onde mais se encontra os veículos roubados em Belo Horizonte. As regiões de Venda Nova e Noroeste concentram esses números, com 1.233 e 892 recuperações, respectivamente. As duas regiões são também campeãs em roubos e furtos, com 1.437 e 1.363 registros. “Mesmo se me devolverem a moto, o susto que é você ser abordado por dois ladrões armados, que já chegam apontando o revólver e desligando a chave da ignição, é um verdadeiro trauma”, disse o garçom, enquanto fazia seu boletim de ocorrência na Delegacia Especializada de Investigação a Furto e Roubo de Veículos, local onde quem tem automóvel ou moto levada deve procurar. O Detran também divulga as listas de veículos recuperados. As pessoas têm três dias para tirar seu automóvel do pátio para não pagar diária, necessitando levar a documentação e ter todos os impostos quitados.