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Estado de Minas

Falta atendimento de pediatria na capital de Minas

Pesquisa inédita mostra que 19 hospitais desativaram, total ou parcialmente, os serviços de pediatria em BH em quatro anos. Setor particular empurra pacientes para o SUS


postado em 31/01/2012 06:00 / atualizado em 31/01/2012 07:14

Lucileia Pereira tenta encontrar médico para tratar deficiência no pé do filho Riquelme Lucas, de dois meses(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press. )
Lucileia Pereira tenta encontrar médico para tratar deficiência no pé do filho Riquelme Lucas, de dois meses (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press. )
Ryan Gabriel, de 4 anos, tem plano de saúde, mas o tratamento médico dele é pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Para marcar consulta com um pediatra, só para daqui a três meses. Então, mesmo com plano, paguei uma consulta particular, que também não valeu a pena porque o médico não conseguiu descobrir o que ele tinha”, diz a mãe Vera Lúcia Pereira. Sem pediatra, ou sem solução, o jeito foi pedir socorro ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que neste ano passou a atender 100% pelo SUS.

O caso se repete com outras famílias que também podem arcar com o serviço médico mas acabam recorrendo ao atendimento público. E não é para menos. Segundo levantamento da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), 19 hospitais privados e públicos desativaram – total ou parcialmente – os serviços de pediatria nos últimos quatro anos em BH. Os públicos são: Alberto Cavalcanti, Júlia Kubstichek, Hospital e Maternidade Odete Valadares e Hospital Universitário São José. E os privados: Biocor, Dom Bosco, Evangélico, Felício Rocho, Lifecenter, Luxemburgo, Promater, René Guimarães, Santa Helena, Santa Lúcia, Santa Rita, Santa Terezinha, São Domingos, São Francisco e Socor.


“Esse número pode ser multiplicado por cinco ou seis levando em conta as unidades de saúde do interior do estado”, calcula o secretário-geral da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), Fernando Luiz de Mendonça.


Com atendimento particular limitado, o Sistema Único de Saúde passa a receber quem tem plano de saúde ou condições de pagar uma consulta. O médico residente em gastroenterologia pediátrica José Andrade Franco Neto, além de trabalhar no SUS, também presta serviço em dois hospitais particulares. “Não adianta ter dinheiro. O problema é a disponibilidade do serviço pediátrico”, diz. Ele conta um caso que exemplifica bem a crise da pediatria na capital: “Se um menino tem torção testicular não adianta procurar um consultório particular. Ele tem seis horas para fazer a cirurgia e evitar complicações. Então, já tive de orientar uma família a deixar o hospital particular e correr ao João XXIII. O que ocorre hoje é esse caminho inverso: o particular indicando o público”, afirma.


O médico especialista ganha, segundo Franco Neto, cerca de  R$ 30 por “ficha” atendida na rede privada. Para compensar o preço baixo, é preciso “fazer volume”. Uma consulta de 15 minutos, no entanto, pode não resolver o problema, como no caso no menino Ryan. Além disso, por esse modelo, o médico deixa de ter benefícios, como férias, 13º salário e aposentadoria. E, mesmo que se dedique por completo, a infraestrutura do hospital não ajuda, pois como a criança não dá lucro não é prioridade da administração.”


Sem retorno

Reginaldo de Araújo, presidente da Associação dos Hospitais de Minas Gerais (AHMG), que representa cerca de 300 dos 700 estabelecimentos no estado, entre públicos e privados, diz que o desgaste na pediatria é tendência até que o modelo de remuneração seja revisto. Em outras palavras, chegar a uma forma de criança encher os cofres do hospital. “O problema é dinheiro nos dois casos. No privado, a venda de produtos médicos para criança não dá retorno. É difícil a venda de uma prótese, por exemplo. No público, pode até ter plenas condições em ofertar o serviço, mas se a vaga não dá boas condições ao médico, ela não será preenchida”, explicou.


O secretário-geral da SMP reitera as razões pelas quais os serviços públicos e privados de pediatria vêm sendo fechados. “Manter um consultório particular exige um alto investimento e uma manutenção muita cara. A consulta é muito mal remunerada e os frequentes retornos não são pagos. As instituições hospitalares argumentam que é necessário dar lucro. Como a pediatria se baseia na consulta médica, ela não gera muitos exames ou internações caras e com isso não agrega um valor financeiro imediato”, avalia.

Qualidade

Fernando Luiz de Mendonça tem a receita para combater o caos, ou pelo menos amenizá-lo: “No setor público, o concurso ou um plano de carreira ou uma remuneração justa, associada ao controle social, poderia garantir qualidade a todos. Na saúde suplementar, valorização dos bons resultados, associada a um preço justo por consulta elevaria o padrão do setor”, afirmou.

É isso o que espera Luciléia Pereira, mãe de Riquelme Lucas, de dois meses, que nasceu com o pezinho virado. “Ele deveria ter sido atendido no Sofia Feldman, onde foi o parto, mas, como não havia pediatra na maternidade quando saí, me mandaram procurar um posto de saúde, que depois me mandou para o Hospital São José. Já são três semanas tentando ser atendida e, por isso, temo que o atraso possa ter comprometido a correção”, reclama.


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