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Estado de Minas

Ação de despejo põe em risco proteção de animais na capital

Funcionário público procura um imóvel onde possa cuidar dos 48 cães e 11 gatos resgatados após serem abandonados ou vítimas de maus-tratos


30/11/2011 06:00 - atualizado 30/11/2011 06:32

'Tenho consciência de que extrapolei os limites da normalidade pela causa. Mas não dou conta de ver um animal sofrendo' - Franklin Oliveira, que procura um lar para os 59 animais que vivem sob seus cuidados
"Tenho consciência de que extrapolei os limites da normalidade pela causa. Mas não dou conta de ver um animal sofrendo" - Franklin Oliveira, que procura um lar para os 59 animais que vivem sob seus cuidados (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
No número 87, abaixo do nível da Rua Navantino Alves, numa casa de 25m2 e 100m2 de terreno, no Bairro Jardim Pirineus, Região Sul de Belo Horizonte, moram 48 cães, 11 gatos, um homem e uma mulher. Todos prestes a ganhar a rua por determinação da Justiça, que já expediu mandado de despejo compulsório a pedido dos proprietários do imóvel. Franklin Oliveira, de 43 anos, e a mãe, Iracema Soares da Costa, de 63, não se abatem com o fim do comodato da casa, que pertence ao antigo Hotel Taquaril, à venda para pagar dívidas.

Juntos, eles buscam forças e travam uma batalha pela paz da família e de todos os seus agregados. O blogueiro, funcionário público de nível técnico, que já foi presidente da Sociedade Protetora dos Animais, conta que, em 30 anos de militância, cerca de 3 mil animais abandonados já passaram pelos seus cuidados.

Só casos de adoção são 1.600, desde 2004, quando passou a catalogá-los. Hoje, além dos 59 bichos residentes, estão sob sua guarda um cavalo e uma mula, apreendidos pela PM Ambiental por sofrerem maus-tratos.

O cheiro da casa é forte e pode ser sentido da rua. A escadaria que dá acesso ao imóvel precisa ser lavada várias vezes por dia. A lambança é contínua. Quando um termina o “banheiro”, o outro começa. Ainda mais em dia de visita, com a movimentação concentrada à beira da rua. Não é missão para qualquer um.

“Tenho consciência de que extrapolei os limites da normalidade pela causa. Mas não dou conta de ver um animal sofrendo, largado, machucado, precisando de ajuda”, admite. E não dá mesmo. Depois do tom entristecido aplicado à fala para reconhecer seus excessos, Franklin retoma o entusiasmo e a motivação para falar dos casos mais recentes, guardados na cabeça e no cartão de memória da máquina fotográfica.

Lembranças Nas últimas semanas, em andanças pela região metropolitana em busca de uma nova moradia, foram muitos os resgates liderados por ele. Teve até encaminhamento para eutanásia de um caso sem solução.

Por mês, Franklin desembolsa R$ 1.500,00 para manter seus protegidos dignos e em estado de boa saúde. O montante representa parte significativa de seus vencimentos como assessor para assuntos de fauna da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Em meio aos cães, todos chamados pelo nome, o ativista desfila histórias particulares de um por um. Conta o caso do Oscarzinho e da Baianinha, que no início do ano passado tiveram a dona, moradora de rua, atendida às pressas pelo Samu.

O casal de vira-latas invadiu a ambulância para não sair de perto da dona e Franklin foi chamado para ajudar a controlar a situação. Da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Esplanada, a mulher foi transferida para hospital de Sergipe. Infelizmente, não se restabeleceu. Conta ainda o encontro com Silvinha, cadela atropelada no alto da Avenida Afonso Pena e largada à própria sorte. Entre os sobreviventes estão vários cachorros jogados no Arrudas e resgatados a rapel. Franklin não mede esforços para salvar a vida dos bichos.


Família e amigos apoiam o trabalho

Há dez anos Franklin não viaja. Não tem como deixar a casa e o compromisso assumido com os bichos. Além do apoio da mãe, fiel escudeira, tem na namorada, Vera Lúcia, de 49, importante aliada para dar conta da causa. “É minha cúmplice nessa história”, considera. O técnico em meio ambiente afirma que sem ajuda seria impossível se manter firme em seu trabalho voluntário.

Ele cita com carinho o amparo dos doutores Tereza, Marcos Vivian e Daniele, além dos auxiliares Beto, Ronaldo e Eliane. Mas o ambientalista também ouve críticas à sua atitude: “Por que fazer tanto por animais e não por pessoas?”. A resposta está na ponta da língua: “Enquanto várias pessoas tem a competência, o coração, para cuidar das crianças, dos idosos, eu tenho para cuidar dos animais. E acredito que, assim, acabo fazendo o bem para muitas pessoas que gostam e respeitam o direito de viver de todos os bichos”, avalia.

Para o mantenedor da casa de número 87, não há covardia maior que o abandono. “O animal que teve uma casa e depois vai para a rua cai em depressão. Sua imunidade fica baixa, ele adoece e morre”, afirma.

Embora firme na batalha por um novo lar para a família, o filho da dona Iracema não dá conta de esconder o incômodo com o momento difícil que atravessa com a ação de despejo. Fala com excitação e emenda um assunto no outro, num pedido de socorro. Como se quisesse que sua angústia coubesse numa página de jornal.


Feira de adoção 

As feiras de adoção promovidas uma vez por mês por Franklin Oliveira e seu grupo de proteção aos animais têm sempre grande frequência. A razão do sucesso é a força que o ambientalista vem reunindo com simpatizante da causa nas redes sociais da internet. O blog Francisco e um Assis (franklineumassis.blogspot.com) tem mais de 200 acessos diários. Desde 2009, é lá, em território virtual, a vitrine para as ações e adoções promovidas pela salvação de todos os bichos. Muito bem organizada, a galeria de animais em busca de um novo lar anuncia: “Aqui você visualizará os vários animais disponíveis para adoção. São cães, gatos, cavalos e outros. Os critérios para adoção são: entrevista, assinatura do contrato de responsabilidades e reembolso do valor equivalente a uma vacina óctupla. Todos os animais estão vacinados, vermifugados e com exame negativo para leshmaniose”.
 


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