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Estado de Minas

Leis seca e do silêncio alteram o perfil de Belo Horizonte

Conhecida como capital dos botecos, BH enfrenta o desafio de cumprir a Lei Seca, que coíbe a mistura de álcool e volante, e a do Silêncio, que contrapõe diversão e sossego


postado em 23/11/2011 06:00 / atualizado em 23/11/2011 07:07

 

Um dos grandes desafios dos donos de bares com mesas nas calçadas em belo horizonte é tentar controlar os ruídos que desafiam a Lei do Silêncio(foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS %u2013 19/8/11)
Um dos grandes desafios dos donos de bares com mesas nas calçadas em belo horizonte é tentar controlar os ruídos que desafiam a Lei do Silêncio (foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS %u2013 19/8/11)

Belo Horizonte não gosta de copo vazio. Para celebrar a vida, comemorar os gols e até afogar as mágoas, o bar é o ponto de encontro preferido. E o desafio é manter a principal característica da cidade – capital de botecos – em meio ao cumprimento das leis Seca e do Silêncio. Especialistas dizem que são leis de conscientização, civilidade e respeito ao próximo e que o entendimento passa pela mudança de comportamento e atitude de cada um. Mas, para quem está na madrugada, é mais fácil encontrar alternativas para cumprir a Lei Seca do que diminuir o volume da euforia, principalmente sob efeito do álcool.

Cientista social da PUC Minas, Juracy Costa Amaral explica que a cultura dos botecos surgiu em BH pela falta de opção de lazer e divertimento. Para ele, BH não corre risco de perder essa fama se forem instituídos padrões de convivência que reduzam os conflitos na vizinhança. Segundo dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, bares, boates e casas de show lideram o ranking de reclamações do Disque-Sossego. Até agosto, foram registradas 4.563 queixas por barulho em estabelecimentos deste tipo. O número representa 89% das as ligações do ano passado e já supera as de 2009 em 10%.

“Não vejo como a lei pode normalizar uma prática brasileira. Trata-se de civilidade, o grande desafio é a educação. BH perdeu isso, é uma capital individualista e até egoísta. O trânsito explica isso, a cultura do grito também. Os bares proliferaram sem ordenamento e não oferecem estrutura de comodidade. As pessoas vão para as calçadas e vias públicas. Parece que se divertem no espaço do outro. Não dá para abrir um bar em qualquer lugar, de qualquer jeito. É preciso aproveitar lugares esquecidos, como Pampulha e as praças da Liberdade e da Estação. Acho que também é possível mudar essa forma de pensar, se estimularmos a cortesia e o respeito”, diz ele.

Quem surgiu e cresceu nesse ambiente de botecos diz que o limite de 45 decibéis para o período entre 22h e 7h é impossível de ser cumprido. Tecladista do Skank, o músico Henrique Portugal é a favor de regras, mas quando elas são plausíveis. Para ele, a Lei do Silêncio é muito restritiva. “Nem quem está incomodado com o barulho pode abrir a boca para reclamar. Esse limite inviabiliza tudo: não pode chover e ventar, neném não pode chorar, não pode passar carro na rua e nem pode haver conversa, porque a média é de 60 a 70 decibéis”, afirma. “Já estive dos dois lados, tocando até tarde nos bares, e convivendo com barulho na casa dos meus pais, que moravam na Savassi. Mas, quando começamos, a legislação era mais solta e as reclamações eram comuns. Acho importantes que haja regras, mas daquelas que possam ser executadas.”

Título merecido

Integrante do movimento Clube da Esquina, o músico e compositor Toninho Horta defende a cultura do boteco e o horário de funcionamento dos bares da forma como é hoje. “BH é capital da música, da arte, da cultura e do boteco também. Regularização não é uma área que me compete, mas acredito que a gente vá continuar bebendo e se divertindo. BH tem esse título que é muito merecido e não vai perdê-lo. Não vai mudar nada, a não ser deixar de beber e dirigir. Essa lei, sim, é importante.”

O psicólogo Vitor Ferrari, da PUC Minas, apela para o sentimento de comunidade para resolver este impasse. “Quem está se divertindo no bar com amigos hoje pode querer descansar e dormir sossegado amanhã. O raciocínio é muito simples, basta se colocar no lugar do outro”, afirma. “Só não sei o quão idealista isso pode parecer em querer tentar sensibilizar alguém para o barulho, quando esse alguém bebe e assume a direção de um carro arriscando a vida de outras pessoas”, questiona o psicólogo.

Fechados mais cedo

Além do rigor no cumprimento da Lei Seca nos últimos meses, esta semana o cerco foi apertado para conter o barulho oriundo de bares em BH. Conforme o EM revelou nessa terça-feira, o Ministério Público fechou acordo para que bares próximos à universidade Fumec, na Rua Cobre, no Bairro Cruzeiro, Centro-Sul de BH, fechem às 22h30 em todas as sextas-feiras. O MP também estuda entrar com ação civil pública impondo restrição de horário a bares no Bairro de Lourdes em cumprimento à Lei do Silêncio.


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