Um comerciante revelou nessa sexta-feira ao Estado de Minas que há pequenos bares e lanchonetes no Centro de Belo Horizonte que desrespeitam os cuidados com armazenamento dos botijões. Disse também que a fiscalização só se intensifica quando há explosão ou denúncias de vazamento. “A prevenção é muito importante”, alerta, lembrando de uma explosão seguida de incêndio numa lanchonete da Rua Carijós que causou mortes há cerca de 15 anos: “Vazou gás a noite toda e tudo foi pelos ares quando eles abriram a porta na manhã seguinte. Teve até gente morta”.
Dono do tradicional Café Palhares, no Centro da cidade, o empresário João Lúcio Ferreira diz que a atenção ao vazamento de gás deve ser uma preocupação constante. “Gás é um perigo! São vidas aqui, inclusive as nossas, é preciso ter muito cuidado. Não dá para tratar desse assunto só quando acontece uma fatalidade”, diz ele, que instalou os botijões próximo à cozinha, no segundo andar, em um corredor ventilado. Apenas um funciona dentro da loja, para o uso das panelas que aquecem carne e outros pratos.
O gerente da casa, Edson Geraldo Soares, verifica se os equipamentos estão devidamente fechados e testa se há vazamento com uma receita muito simples: esponja e sabão líquido. “Os botijões funcionam o dia inteiro e todas as noites e quando fechamos olho um por um. As mangueiras têm um prazo curto de validade e também são sempre trocadas. Quando se percebe algum cheiro, imediatamente testamos se o vazamento é aqui e nunca tivemos problemas”, conta ele.
Tragédia anunciada
A explosão causada por vazamento de gás no Rio de Janeiro foi uma tragédia anunciada, diz o presidente da Associação Brasileira dos Revendedores de GLP (Asmirg-BR), Alexandre Borjaili. Belo Horizonte, assim como outras grandes cidades, também mantém verdadeiros barris de pólvora. Ele esclarece que o prazo de validade dos recipientes de gás é de 15 anos, mas não há fiscalização. “Temos feito denúncias e alertas, inclusive ao Congresso Nacional e até ao gabinete da Presidência da República, para buscar soluções. Não adianta chorar depois que acontece”, disse. “A tragédia do Rio é mais um alerta da realidade do setor do gás de cozinha. Nossos rastreadores identificam, em média, quase um acidente por dia com botijões, mas o silencio é a resposta dos órgãos de fiscalização”, afirma Alexandre
A maioria dos botijões de gás que circula no país, conforme Alexandre, não tem data de fabricação visível em alto relevo, como deveriam. “Muitos já estão com o prazo de validade vencido ou ilegível”, disse. Outra falha, segundo ele, é que não deveriam ter a apenas a data de fabricação, mas a data de validade, de forma clara e nítida, para o consumidor saber se pode levar para dentro de casa. O selo do Inmetro é outra exigência para o produto.
O presidente da Comissão de Direito da Construção da Ordem dos Advogados do Brasil seção Minas Gerais, Francisco Maia Neto, alerta que não há uma lei específica sobre a obrigatoriedade do uso de gás canalizado em edifícios residenciais. “A instalação de sistemas de gás canalizado em prédios já construídos ou em construção deve obedecer à Norma Brasileira 15526. Ela regulamenta de que forma deve ser feita essa instalação e o material a ser usado”, esclarece.
Memória
Explosões feriram seis pessoas em BH
Em apenas dois dias, em janeiro deste ano, seis pessoas ficaram feridas em duas explosões envolvendo botijão de gás em BH. No dia 1º, três funcionários de uma obra ficaram feridos no Bairro Belvedere, Região Centro-Sul, depois que a válvula de um botijão estourou quando os operários esquentavam o almoço. Com o impacto, um dos trabalhadores, que estava no andaime, caiu do sétimo andar. No dia seguinte, um botijão explodiu numa pizzaria da Avenida Américo Vespúcio, no Bairro Aparecida, Região Noroeste. O local estava fechado e a porta de aço foi arremessada longe, atingindo três pessoas que passavam na rua. Houve incêndio, que foi controlado pelos bombeiros.