Ministro da Defesa, José Múcio. -  (crédito: Agência Brasil)

Ministro da Defesa, José Múcio.

crédito: Agência Brasil

BRASÍLIA, DF - Por determinação do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, o Exército adiou a assinatura do contrato com a empresa israelense Elbit Systems de 36 viaturas blindadas de obuseiros 155 mm - espécie de canhão de grande alcance e precisão que será utilizado pela artilharia.

 

O contrato inicial para a entrega de um primeiro lote do equipamento militar seria assinado na na última terça-feira (7/5), segundo comunicado interno do Exército obtido pelo jornal Folha de S.Paulo. A nova previsão é finalizar a compra em até 60 dias.

 

Múcio solicitou o adiamento na tentativa de ganhar tempo para costuras políticas, com o objetivo de aplacar resistências de petistas e de aliados do presidente Lula (PT).

 

A decisão coincide com o momento em que as Forças Armadas se dedicam ao enfrentamento da catástrofe no Rio Grande do Sul. Na avaliação de aliados de Lula, a compra de um equipamento bélico poderia ofuscar a ação positiva dos militares.

 

 

A aquisição de quase R$ 1 bilhão entrou na mira de políticos e apoiadores do governo devido à postura crítica que as lideranças brasileiras têm adotado contra a conduta de Tel Aviv na guerra com o grupo terrorista Hamas.

 

O cantor Chico Buarque, os ex-ministros José Dirceu e Paulo Sérgio Pinheiro e outros adeptos do governo petista enviaram carta a Lula pedindo que o Brasil interrompesse a importação das armas israelenses - iniciativa encabeçada pela Anistia Internacional e pelo coletivo Vozes Judaicas por Libertação.

 

No Exército, a justificativa para o adiamento é a necessidade de o processo licitatório passar por uma nova análise jurídica devido a alterações na reta final da contratação. A informação foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada pela Folha de S.Paulo.

 

Generais afirmaram, sob reserva, que o objetivo é detalhar as razões pelas quais a empresa israelense venceu a licitação - evitando que eventuais questionamentos possam embarreirar a compra dos equipamentos militares.

 

O principal receio da cúpula militar era de o presidente Lula vetar a aquisição dos obuseiros. O governo, por razões diplomáticas, tem proibido a exportação de munições e armamentos brasileiros para a Ucrânia, país invadido pela Rússia desde fevereiro de 2022.

 

Lula, porém, comunicou ao ministro da Defesa que não iria criar complicações à compra dos blindados israelenses a despeito dos apelos de petistas e aliados.

 

Renovação da frota

 

O armamento israelense faz parte de um projeto chamado Atmos. O processo licitatório prevê que a empresa Elbit Systems entregará dois obuseiros como amostra nos primeiros 12 meses de contrato. Os demais 34 serão enviados em lotes anuais até o fim de 2034.

 

A Elbit Systems superou empresas de França, China e Eslováquia na reta final da disputa. Militares afirmaram à Folha, sob anonimato, que um dos principais diferenciais da empresa israelense é possuir subsidiárias no Brasil com capacidade de fabricar a munição de 155 mm e garantir suporte logístico.

 

 

As fábricas brasileiras são as empresas Ares Aeroespacial e Defesa e AEL Sistema, com sedes no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, respectivamente. A contratação da empresa de Israel, portanto, seria uma forma de aquecer a base industrial de defesa brasileira.

 

Em nota, a Elbit Systems afirmou que a montagem final dos obuseiros será feita no Brasil. "Aproveitando as estruturas de logística e produção implementadas pelo grupo e em colaboração com alguns potenciais parceiros nacionais a serem definidos em conjunto com o Exército Brasileiro", disse.

 

A empresa não quis comentar o adiamento da assinatura do contrato. Procurado, o Exército não se manifestou.

 

Guerra na Palestina

 

O presidente Lula tem adotado posição crítica à ofensiva israelense na Faixa de Gaza, que envolve operações em hospitais e bombardeios em regiões populosas. O número de mortos no território palestino beira os 35 mil, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.

 

Em viagem a Adis Abeba, na Etiópia, Lula chegou a comparar as ações militares de Israel com o extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler. "Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus", afirmou em fevereiro.

 

A declaração do presidente gerou reação do governo de Binyamin Netanyahu, que declarou o líder brasileiro "persona non grata". "Não esqueceremos nem perdoaremos", disse à época o chanceler do país, Israel Katz. "Em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, diga ao presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que retire o que disse."

 

Mesmo diante de repercussões negativas e impacto diplomático, Lula não se retratou e, cinco dias após a declaração, voltou a falar que Israel estava cometendo um genocídio contra o povo palestino. "O que o governo de Israel está fazendo com a Palestina não é guerra, é genocídio", disse Lula, que enfatizou: "Se isso não é genocídio, eu não sei o que é."