Matéria publicada no Valor Econômico no último dia 15 (crédito para o articulista Jacílio Saraiva), causou bastante furor nas redes após seu conteúdo ser compartilhado nos diversos grupos que reúnem gestores hoteleiros por todo país. Iniciou-se um amplo e saudável debate sobre a questão, que para muitos retratou apenas “um dos lados da moeda”. Comentários recebidos apontam outros aspectos da relação causa x efeito da constatação cabal retratada na publicação. No arcabouço da questão está colocado que o setor hoteleiro cresce mas enfrenta escassez de gestores qualificados.

Sem encontrar gerentes plenos para contratar, empresas têm recrutado com base em comportamento e desenvolvendo suas próprias forças laborais. Adicione a esta equação o fato narrado que a disputa entre redes de hotéis faz o processo seletivo levar até 45 dias, tempo que considero longo uma vez que durante este processo o hotel fica sob comando interino podendo desta forma comprometer o cumprimento de suas metas qualitativas e quantitativas (resultados).

Depois de amargarem perdas de receitas durante a pandemia o setor tem um desafio pela frente: ao mesmo tempo em que há demanda para contratações, com a ampliação de hotéis, inaugurações saindo do papel e a chegada de novos concorrentes, vagas continuam em aberto por escassez de gestores.

Qual a solução que as empresas estão buscando?

Para preencher posições estratégicas, as empresas recorrem ao desenvolvimento de talentos “on the job” (no ambiente de trabalho), seleções internas e monitoramento constante do mercado.

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De acordo com o relatório Panorama da Hotelaria Brasileira 2023, do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) são esperados R$ 5,7 bilhões de investimentos no segmento até 2027, com 108 novos hotéis. “Hoje, o país tem 10,6 mil empreendimentos”, diz Orlando de Souza, presidente-executivo do FOHB, baseado em dados do mercado. “Somente em 2024, a previsão é de abertura de 23 novos hotéis apenas entre os associados ao FOHB”

Uma das consultorias ouvidas confirma que registrou um aumento de cerca de 80% na procura por média e alta gerências no setor em 2023 x 2022. Há uma retomada das viagens de turismo de lazer e de negócios, além da expansão de redes no Brasil. Os salários médios de gerentes variam de R$ 6 mil a R$ 10 mil, podendo ser CLT ou PJ (modalidade que cresceu muito durante e pós-pandemia) com possibilidade de remuneração variável associada a resultados financeiros dos estabelecimentos.

Fernando Viriato, Vice-Presidente de Talento e Cultura da Accor, diz que a empresa contratou 5,3 mil pessoas em 2023, sendo 3% em cargos de gestão. Na Accor, multinacional francesa com mais de 50 marcas, como Ibis e Novotel, e 5,5 mil hotéis em 110 países, sendo 340 no Brasil, há, pelo menos, duas inaugurações previstas no ano: em Pernambuco e Alagoas.” Há uma migração de profissionais de turismo para outros segmentos”. Este ano, a estimativa é concluir 4,8 mil admissões, com 3% do conjunto para cadeiras de comando, temos 280 vagas disponíveis agora, sendo 33 para gestores. A curva de contratações cresce por conta do turnover, considerado alto na indústria de hospitalidade, e pela ampliação de quadros.” Usualmente cargos de gerência geral são os mais desafiadores de serem preenchidos por conta das responsabilidades da função, para superar isso, investimos em programas de desenvolvimento de lideranças e recrutamento no mercado”.

O que fazer diante da escassez de gestores?

Embora haja vagas disponíveis, encontrar candidatos com experiência pode ser um desafio. Por isso monitorar o mercado e estar atento a questão salarial ajustando estratégias de retenção em voga como flexibilidade de horários e planos de carreira tangíveis aos candidatos são elementos essenciais na busca.

No grupo português Vila Galé, com 42 unidades hoteleiras, sendo dez no Brasil, fechar uma colocação de gestão demora, em média, três meses, segundo Marina Mendonça, coordenadora de treinamento, desenvolvimento e seleção. “Trata-se de um aumento de 50% no tempo que levávamos em anos anteriores. Vejo uma migração de profissionais de turismo para outros segmentos e as posições em resorts, localizados em cidades em crescimento, acabam sendo declinadas por alguns candidatos.”

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O índice de aprovação em entrevistas focadas em “soft skills” está reduzido, Já as características técnicas podem ser adquiridas internamente, em treinamentos ou “On the Job”.

Afinal, o segmento busca mais o gestor estratégico ou o gestor executor? É possível encontrar os dois na mesma pessoa com competências igualmente elevadas? A busca por médias lideranças não é menos complexa. Ao longo dos últimos anos reduziram-se os cursos de formação de profissionais no setor de turismo com ênfase em hotelaria e gastronomia. Em especial entre os jovens predomina a máxima de “viver mais a vida e conhecer lugares”. Na coluna da semana que vem vamos falar de contrapontos importantes pontuados por gestores hoteleiros ante essa sensível mas importantíssima discussão.

“Vem aí a nova temporada do Podcast Gestores da Hotelaria. Vamos falar de gestão, liderança e muito mais! Aguardem a programação”

Maarten Van Sluys (Consultor Estratégico em Hotelaria – MVS Consultoria)

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