Há muitas frases e denominações conhecidas sobre Roma: “Quem tem boca vai a Roma”, “Roma, Cidade Eterna”; “Todos os Caminhos Levam a Roma”, “É bom se perder em Roma”, “A Cidade das Sete Colinas”, “Museu a Céu Aberto”, “Roma é Amor ao contrário”... Todas são lógicas e encantadoras, menos a última, que me incomoda. Claro que sei que a frase se refere ao palíndromo, que é a coincidência da palavra que se lê igual da esquerda para a direita e da direita à esquerda. Mesmo assim, não é correto. Penso nisso depois de guardar as malas no quarto do hotel em que estamos, enquanto dou uma ajeitada no visual antes de – que maravilhosa sensação - sair pela primeira vez à rua para descobrir uma nova – ainda que antiga – cidade.

Assim como quem vejo à minha frente, no espelho, sou eu e não o contrário de mim, Roma e Amor são uma coisa só. Roma é amor em estado puro, pleno, perfeito. Mal chegamos aqui e estamos, eu e minha esposa, a repórter fotográfica Maria Pereira Gontow, apaixonados pela cidade.

 

Maria Gontow/Esp.EM - Icônica fonte foi cenário para o filme "La Dolce Vita" com a bela Anita Ekberg e Marcello Mastroiani
Maria Gontow/Esp.EM - Café da manhã no Hotel de Russie Roma. Sabor e requinte em frente ao 'jardim secreto'
Maria Gontow/Esp.EM - Basílica de São Pedro, ícone renascentista e templo de fé para o católicos, foi construída em 1506
Maria Gontow/Esp.EM - Museu do Coliseu, com quase 2 mil anos tem muita história de glória e horror
Maria Gontow/Esp.EM - Fontana del Nettuno, na Piazza Navona, maravilha barroca do escultor Giovanni Ceccarini
Maria Gontow/Esp.EM - Subir as escadarias da Piazza Spagna é de tirar o fôlego. Vale pela vista
Maria Gontow/Esp.EM - Fontana di Trevi mesmo com tanta gente é um lugar inesquecível em Roma

 Já que descarto uma das frases, que tal criar ou apropriar-me de outra: “Quem tem pernas vai a Roma!” Antes de mesmo de chegar decidimos que ficaríamos hospedados na área do Centro Histórico – no coração da cidade – e que procuraremos fazer praticamente tudo a pé. Sem radicalismo, claro, que o turista tem o direito de mudar de planos de acordo com rumo os desejos e acontecimentos.

O que visitar na Cidade Eterna

 

Subir as escadarias da Piazza Spagna é de tirar o fôlego. Vale pela vista

Maria Gontow/Esp.EM

Como é emocionante andar pelas ruas estreitas e repente se descobrir em frente à linda e icônica Piazza di Spagna. Ali, do lado oposto às escadarias, começa a via dei Condotti onde se passa por algumas das mais famosas e cobiçadas marcas do mundo, como Armani, Bulgari, Louis Vuitton, Gucci, Dior e Prada, além de cafés e docerias clássicos e deliciosos, como o Antico Caffe Greco. Assim como a Condotti, há muitas outras ruas instigantes a serem percorridas.

 

Fontana del Nettuno, na Piazza Navona, maravilha barroca do escultor Giovanni Ceccarini

Maria Gontow/Esp.EM

Também ali pertinho está a Piazza Navona, de estilo barroco, situada onde antes estava o estádio Domiciano, com cerca de 30 mil lugares. Foi construída a pedido do papa Inocêncio X. Hoje mescla cultura e história com modernidade. Destaque para suas esculturas, três fontes (a Fontana dei Quattro Fiumi, Fontana del Moro e Fontana del Nettuno), construções imponentes (como o Palácio Pamphilj, construído onde está situada a embaixada brasileira) e também cafés, bares e restaurantes. Não é, de modo geral, a melhor dica para quem procura alta gastronomia. Mas poucos lugares são tão incrivelmente belos e inesquecíveis para pedir um drinque (nós optamos pelo Aperol), sorvete, café ou mesmo um petisco e passar o final de tarde.

Todos – ou, para ser mais exato, quase todos - os caminhos levam a monumentos históricos e sítios arqueológicos. Passamos por uma rua do comércio e moda e – que emoção! – chegamos quase sem querer ao Pantheon (Panteão de Agripa). É o mais conservado do Império Romano, com cerca de 1.900 anos. No local, eram adorados os deuses e imperadores romanos. No século 7, quando o Cristianismo já era – desde 380 - a religião oficial do Império Romano, passou a ser uma igreja católica. Imponente por fora é também impressionante por dentro, com sua incrível cúpula com 43 metros de diâmetro, com uma abertura ao centro por onde entra a luz e as colunas coríntias de pedras maciças. O local tem entrada gratuita.

Localizado na Piazza Della Rotonda – centro de Roma, o monumento Pantheon que significa "para todos os deuses"

Maria Gontow/Esp.EM

Do lado de fora, vale a pena caminhar pela Piazza de la Retonda e ver a arquitetura do Pantheon, o comércio e as pessoas do mundo inteiro. Muita gente compra lanches em lugares bem próximos e senta ao redor do monumento, em qualquer cantinho das escadarias, muretas e beira das calçadas em torno à piazza. Nossa escolha foi o tradicional Antica Salumeria, com saborosos queijos e embutidos. Há também cafés e restaurantes. O melhor de tudo é curtir e aproveitar o astral e a vista estonteante.

No mesmo dia ou no dia seguinte – como é difícil definir o tempo em uma cidade com 2.700 anos! – vale demais voltar à Pizza Spagna e de lá subir, vagarosamente a escadaria de 135 degraus em direção à Igreja Trinità dei Monti. Não é pela extensão da escada – até mesmo porque há elevador – mas lá de cima a vista é de tirar o fôlego.

Depois, que tal ir a um lugar que a maioria dos turistas não conhece? Situada na colina Pinciana, a Vila Borghese é o terceiro maior parque de Roma. Também dali a vista é exuberante. Os romanos costumam se divertir pelo parque, fazem piquenique, ficam estirados na relva (no verão e primavera) e passeiam por suas alamedas, seja caminhando ou alugando bicicletas individuais ou coletivas. Para o turista vale, demais, uma visita à Galeria Borghese e passear pelas obras de obras de Ticiano, Canova, Rubens Caravaggio, Rafael, Da Vinci e muito mais.

vista a partir da entrada da Vila Borghese

Maria Gontow/Esp.EM

Após o parque (em algumas épocas do ano de alguns lugares dá para ver um inesquecível pôr-do-sol) no caminho de volta a gente passa, depois de descer pelas escadarias ou alamedas próximas, por praças, fontes, cafés, lojas e ruas repletas de história e modernidade.


 

Fonte da paixão

Icônica fonte foi cenário para o filme "La Dolce Vita" com a bela Anita Ekberg e Marcello Mastroiani

Maria Gontow/Esp.EM
 

Com seus 26 metros de altura por 20 de largura, a Fontana di Trevi é a maior fonte da Cidade Eterna. Inaugurada em 1762, faz parte das fachadas do Palazzo Poli e foi projetada por Nicola Salvi. Os melhores horários para quem busca quietude, sem disputar espaço com outros turistas, é de madrugada ou nas primeiras horas da manhã. Preferimos ir no horário normal. Mesmo que estejamos na Europa, sempre é mais tenso andar com celular, dinheiro e documentos em uma cidade grande e deserta. Com calma, mesmo com o local cheio de gente, dá para se aproximar, sentar para admirá-la. Não entre na água como Anita Ekberg e Marcello Mastroiani em “La Dolce Vita, de Federico Fellini”. Mas dá para fazer fotos do local e também algumas selfies, eternizando a alegria de se visitar uma cidade tão linda e, talvez, ao lado de quem amamos. Diz a lenda que quem jogar uma moeda de costas para a fonte terá sorte e voltará a visitar a cidade. Vale a pena o ritual. Mas se você está em Roma, já é um sortudo!

 

 

Arena histórica

 

Museu do Coliseu, com quase 2 mil anos tem muita história de glória e horror

Maria Gontow/Esp.EM

Não é tão próximo do Centro Histórico, mas dá para chegar em uma hora de caminhada. É incrível olhar, de fora e de dentro, o Coliseu, monumental estádio, de 57 metros de altura e quase dois mil anos de história. A antiga arena foi utilizada para sangrentas lutas e batalhas. Dá para imaginar a multidão – povo, nobres, senadores – gritando extasiada, pelo grande espetáculo. Calcula-se que 70 mil pessoas podiam estar presentes simultaneamente. Algumas estimativas dizem que ali morreram 500 mil pessoas, entre gladiadores, cidadãos romanos condenados, estrangeiros e escravos e um milhão de animais.. O poder de Roma deixou marcas para a eternidade, mas explorou e massacrou milhões de pessoas e animais. Dá vontade de aplaudir! Mas, a gente também imagina e sente o terror das pessoas e dos animais aprisionados nas galerias que ficavam abaixo da arena, enquanto ouviam os gritos de pavor e dor de quem era estraçalhado. Nesse caso, quem tem boca “vaia Roma”! No passeio ao Coliseu é possível comprar ingressos que incluem o Monte Palatino e o Fórum Romano, centro da vida romana imperial e republicana, onde ficavam os prédios públicos e religiosos, e espaços para as famosas discussões, debates e discursos.

 Templo de cultura e fé

Basílica de São Pedro, ícone renascentista e templo de fé para o católicos, foi construída em 1506

Maria Gontow/Esp.EM

Com 23 mil metros quadrados, A Basílica de São Pedro é o principal templo do Catolicismo do mundo. Vale também subir pela escada na cúpula e se encantar com a vista da cidade, a 136 metros de altura. Depois de apreciar na Praça de São Pedro, as colunas. sua beleza e imponência, procure por uma obra surpreendente e nem tão conhecida: “Angels Unawares”, escultura de um barco com refugiados e migrantes de mundo, de diferentes etnias, países e religiões de Timothy Schmalz. A obra encanta e nos convoca à empatia. Em nossa leitura, transmite a mensagem que fé e a crença em Deus deveria nos aproximar de todos os seres humanos.

 

"Angels Unawares", escultura de um barco com refugiados e migrantes de mundo, de Timothy Schmalz

Maria Gontow/Esp.EM

Para quem aprecia a arte, o Museu do Vaticano é programa para o dia inteiro. Tem um acervo impressionante, que é dividido em muitas áreas, onde é possível apreciar desde peças egípcias, etruscas, gregas e romanas a obras de gênios como Giotto e da Vinci e, claro, a Capela Sistina, maravilha da criação feita por Michelangelo, ainda que muitas vezes o excesso de gente, funcionários pedindo pressa e guias falando alto possam prejudicar um pouco a experiência sublime.

 

O Vaticano é uma cidade-estado, o menor país do mundo. Para um programa completo (visitar os Museus Vaticanos, a Praça de São Pedro e a Basílica de São Pedro), lembre-se de que os museus fecham aos domingos, com exceção do último de cada mês. Além de comprar antes os ingressos, vale mais uma dica: chegar cedo, se possível antes das 9h. Aliás, a dica de comprar ingressos antes vale para a maioria das atrações turistas de Roma. Na capital italiana, muitas vezes as filas também parecem eternas...

 

Quem tem boca vai a Roma

 

Taverna Trilussa,no Trasteveri - uma das mais famosas de Roma

Maria Gontow/Esp.EM

Há em Roma opções gastronômicas para todos os gostos, estilos, propostas e bolsos. Muitas vezes a escolha passa pelo charme. Em outras, pela alta gastronomia. Ou pelas mesas estarem situadas em frente a um prédio icônico. No tradicional Rosati, aberto em 1922, um mix de bar, café e doceria, situado na Piazza del Papolo 4/5/5A, prove delicias como o Maritozzo e Canoli. É bonito por dentro, mas com o tempo bom é ótimo ficar do lado de fora, apreciando a piazza, com suas duas igrejas gêmeas: Santa Maria in Montesanto e Santa Maria dei Miracoli, erguidas por desejo do papa Alexandre VII e o obelisco Flaminio, de 24 metros de altura, construídos nos tempos dos faraós Ramessés II e Merneptá (entre 1232 e 1220 a.C) e levados por Augusto para Roma. Aliás, existem na cidade muitos lugares com vista inesquecível. Um deles é o Terrazza Les Étoiles (restaurante italiano com um toque internacional – Via dei Bastioni, 1), bem pertinho do Vaticano.

Próximo ao Coliseu, há inúmeras opções gastronômicas, como a clássica casa romana Trattoria Monti (Via di S. Vito, 13) . Próximo à Piazza Navona e o Pantheon fica o Pietro (a tratoria é pequena. Por isso é fundamental reservar), na Vila dei Pianellari, 19 tel: 06-686-8565). Também por ali, a 50 metros da Fontana di Tevi, está o Comodo Mercato Trevi, conceito diferente de restaurante, com cinco cozinhas e múltiplas opções gastronômicas (Via del Lavatore, 88-B). É uma das boas novidades de Roma.

A Osteria Dell’Arco (Via G. Pagliari, 11) é charmosa e pequenina. Tem ótimas massas e bons preços. No charmoso bairro Trastevere, situado às margens do rio Tibre, há bares, restaurantes, monumentos, igrejas antigas e comércio. Vale demais passear pelo bairro e também percorrer as margens do Tibre. Escolhemos a Taverna Trilussa, (www.tavernatrilussa.it). Excelente e com vários ambientes, todos charmosos e diferentes entre si. Também no Trastevere, um dos dos lugares recomendados é a Trattoria da Enzo (Via dei Vascellari, 29), que descobrimos em uma das nossas caminhadas.

 

Saboroso gelato

Também há dezenas de boas sorveterias, como a Giolitti (Via degli Uffici del Vicario, 40), próxima à Fontana di Trevi; e a Venchi (Via del Corso, 335). Fora do badalado Gueto Judaico, , mas pertinho dele, fica o Piperno (Monte dè Censi, 9 – tel 06-6880-6629), com ótima carta de vinhos e o melhor da cozinha judaico-romana. Também é fundamental reservar antes. Não deixe de experimentar a carciofi alla giudia (alcachofras judaicas, fritas). São crocantes e suculentas. Peça também o antepasto e depois escolha um dos peixes que estão na entrada da casa e para que o preparem no forno. Ou peça uma massa, claro.

 

Onde ficar

Suíte do Palazzo Ripetta

Palazzo Ripetta/ Divulgação

Palazzo Ripetta – em uma das mais antigas e tradicionais ruas do centro histórico de Roma, a Via di Ripetta, 231, fica o Palazzo Ripetta. O antigo quatro estrelas deu lugar, há um ano, a um hotel sofisticado, cinco estrelas, que une tradição e charme ao conforto, requinte e modernidade. Hoje possui 78 quartos e luxuosas suítes em um prédio construído pela primeira vez no século 17, como um Conservatório liderado por freiras. Palazzo Ripetta

O Hotel de Russie, do grupo Rocco Forte Hotel, inaugurado em 2000, está situado ao longo da elegante Via del Babuino, 9, meio do caminho entre duas das mais famosas e icônicas praças de Roma – a já citada a Piazza di Spagna e a bela Piazza del Popolo. É excepcional em todos os sentidos. Um dos destaques é o seu “Secret Garden”. www.roccofortehotels.com

Suíte do Hotel de Russie

Maria Gontow/Esp.EM

 

compartilhe