Nas últimas décadas, diversas pesquisas científicas têm se debruçado sobre o poder de uma dieta nutritiva e equilibrada no tratamento da dor crônica. Segundo a médica intervencionista em dor e autora do livro Existe vida além da dor, Amelie Falconi, a partir desses estudos, já é possível afirmar que a alimentação impacta direta ou indiretamente na dor sentida pelo paciente, “visto que já está comprovada a associação da alimentação com a fadiga, sono, constipação intestinal e até com saúde mental, componentes de grande influência na dor crônica”.

Estudiosa do tema, Amelie ressalta a importância da alimentação na prevenção e no tratamento da dor oncológica, um tipo de dor crônica. “Diversas publicações científicas demonstram que uma alimentação adequada auxilia na prevenção da perda de massa magra, na redução da gordura, no funcionamento correto do intestino, na regulação do sono, na reposição de micro e macronutrientes, sintomas relacionados ao câncer e seu tratamento”, explica.

Outra dor sobre a qual a alimentação adequada costuma ter bastante influência, segundo a especialista, é a dor das articulações (de joelhos, pés ou quadril). De acordo com ela, o senso comum relaciona dores desse tipo ao excesso de peso decorrentes da má alimentação que sobrecarrega as articulações. No entanto, pondera Amelie, a má alimentação está associada a dores nos joelhos, pés ou quadril em razão da inflamação do organismo que ela proporciona.



A médica também explica que a inflamação ocorre quando as células do sistema imunológico respondem a uma infinidade de agressões ao organismo, entre as quais o estresse oxidativo induzido pela dieta. “Essa inflamação aguda aumenta a dor. O mesmo ocorre quando há inflamação crônica derivada de estilos de vida como tabagismo, falta de atividade física, ingestão de álcool, má alimentação, por exemplo. Esta, por sua vez, resulta em hipersensibilidade crônica, e dor crônica, além de diversas outras doenças crônicas”, diz.

Esse processo ocorre de maneira específica. “Quando há inflamação crônica são liberadas diversas substâncias no corpo chamadas de mediadores inflamatórios, que ativam os receptores de dor de maneira contínua. Estes, quando ativados, liberam mais mediadores inflamatórios, ocorrendo assim retroalimentação entre a dor crônica e a neuroinflamação”, relata Amelie.

Tendo em vista o papel dos mediadores inflamatórios na produção e manutenção da dor crônica, tão importante quanto o cérebro nesse processo é o intestino, afirma a médica. “Trata-se do órgão que apresenta o mais complexo e populoso sistema microecológico de nosso corpo, com cada microrganismo sendo responsável pela liberação de diversas substâncias mediadoras”, explica.

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Conforme Amelie, a relação entre o intestino e os processos que levam ao aparecimento da dor fica evidente quando se leva em consideração o impacto do sistema gastrointestinal e da microbiota na fisiologia do sistema nervoso central demonstrado por diversos estudos nos últimos anos.

“E para cuidar da saúde intestinal, nada melhor do que prezar por uma alimentação nutritiva e balanceada” diz a especialista. Tal dieta, destaca, caracteriza-se, primeiramente, pela ingestão de alimentos anti-inflamatórios, tais como frutas e vegetais, que contém muitas vitaminas, minerais e antioxidantes, leguminosas e ovos, e carnes (brancas e grelhadas).

Além disso, Amelie ressalta que uma dieta com alto teor nutritivo restringe a ingestão de alimentos industrializados (processados e ultraprocessados) porque sofrem adição de diversas substâncias nocivas à saúde, entre as quais, açúcares. “O consumo exagerado de alimentos de alto índice glicêmico pode contribuir para o estresse oxidativo e inflamação crônica que, como vimos, levam à dor crônica”, afirma.

Para combater a dor crônica, também é recomendável beber bastante água. “A hidratação adequada é essencial para o funcionamento de todo o organismo e sua falta causa ou piora dores de cabeça e musculares, cansaço, intestino preso, dificuldade concentração, irritabilidade, redução da força muscular e outras queixas comuns entre pacientes com dores crônicas”, diz.

A relação entre a baixa ingestão de água e dor física pode ser explicada, segundo a médica, pela hipótese sugerida por diversos estudos de que a desidratação provoca aumento da atividade cerebral relacionada a estímulos dolorosos, justamente por causa do aumento da sede, enquanto a reidratação, ao aliviar a sede, diminui a atividade cerebral relacionado ao estímulo doloroso. “Além disso, ingerir água adequadamente contribui para a eliminação de toxinas e funcionamento adequado do intestino, o que previne a inflamação crônica do organismo e consequentemente a dor crônica”, diz.

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