Oscilações climáticas repentinas representam risco adicional para idosos -  (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Oscilações climáticas repentinas representam risco adicional para idosos

crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press

As mudanças ambientais agravam um cenário já preocupante para a população idosa brasileira. “As condições climáticas extremas, como ondas de calor, colocam uma pressão adicional sobre um sistema de saúde que já enfrenta dificuldades em fornecer assistência de qualidade”, alerta Leonardo Brando de Oliva, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

As oscilações climáticas repentinas representam um risco adicional para os idosos, devido à fragilidade de seu sistema imunológico, tornando-os mais suscetíveis a doenças respiratórias, por exemplo. Segundo Maura Neves, otorrinolaringologista do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), os idosos que já lutam contra condições como pneumonia, sinusite ou rinite, estão em maior risco de agravamento de sua saúde devido às mudanças bruscas de temperatura. “Isso acontece porque as vias aéreas estão preparadas para permanecer em um clima que seja constante no local e, quando a temperatura deixa de ser constante e varia rapidamente, gera irritação nas vias respiratórias”, conta.

Os indicadores de envelhecimento da população brasileira atingiram níveis recordes, com a proporção de pessoas com 65 anos ou mais chegando a 10,9% do total de habitantes no país. Dos 203,1 milhões de brasileiros, 22,2 milhões estão agora nessa faixa etária, de acordo com os dados do Censo 2022, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo o instituto, a previsão é que até 2060 o país tenha 58,2 milhões de idosos. “O grande desafio do SUS é conseguir abranger e dar assistência a essa população que envelhece tão rápido”, diz Oliva.

O médico descreve o processo de envelhecimento da população brasileira como “peculiar” devido à coexistência de desafios de saúde típicos de países em desenvolvimento, como a presença contínua de doenças como dengue, chikungunya e problemas relacionados à falta de saneamento e desnutrição. Paralelamente aumentam os problemas de saúde característicos de nações desenvolvidas, como o aumento da incidência de demência e cânceres.

Com o avanço da idade, várias partes do corpo sofrem com o processo de envelhecimento e enfrentam desafios para continuar funcionando adequadamente.

Isso inclui o mecanismo de sede, que torna os idosos mais suscetíveis à desidratação. O sistema de regulação da temperatura corporal também é afetado, o que po- de resultar em complicações como insuficiência renal, agravamento da insuficiência cardíaca e acidentes vasculares cerebrais (AVCs), como aponta Oliva. O professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC-UFBA), Ismael Silveira enfatiza que todos os idosos, independentemente de possuírem ou não comorbidades, são mais vulneráveis aos efeitos da exposição ao calor.


De acordo com João Fernando Monteiro Ferreira, cardiologista e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), existe uma relação entre o aumento de mortes e as altas temperaturas. “Se observamos pacientes idosos que já têm mecanismos prejudicados de manutenção de pressão e fluxo, e usam várias medicações, como anti-hipertensivas, tudo isso pode deflagrar esses eventos de saúde”, evidencia.

Em meio a todas as questões de ordem física, a saúde mental também se revela vulnerável às mudanças do clima. “Tudo que interfere na socialização do idoso pode ter uma interferência negativa na saúde mental”, observa Oliva. A reclusão que é imposta aos idosos em dias muito quentes, muito frios ou de fenômenos extremos, como tempestades e nevascas, impede a vida em comunidade, tão cara a esta parte da população. Quanto mais frequentes estes eventos extremos se tornam, maior é a ameaça generalizada ao bem-estar da terceira idade.