Preso após condenado no STF e inelegível até 2060, Jair Bolsonaro conseguiu, ao menos até agora, assegurar seu sobrenome nas urnas em 2026. A indicação de seu filho primogênito, Flávio Bolsonaro, para concorrer ao Palácio do Planalto irá moldar o ano do ex-presidente. Trata-se de uma aposta política arriscada, que ignora os altos índices de rejeição do sobrenome da família, na tentativa de manter o controle absoluto sobre o gordo espólio eleitoral da direita brasileira.
Temendo a irrelevância política após a prisão, Bolsonaro não irá, segundo aliados, abrir mão da candidatura de Flávio. A expectativa do ex-presidente — e dos bolsonaristas que orbitam o seu entorno — é que, mesmo preso, ele seja o principal articulador político da direita no ano eleitoral. Uma grande ironia para aqueles que, há poucos anos, achincalhavam Lula por coordenar os movimentos do PT de dentro da carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
O cenário, pelo menos até o final de 2025, não se desenhou como o esperado por Bolsonaro e seus aliados. Líderes do Centrão, que declararam em alto e bom som que estavam ao lado do ex-presidente, não abraçaram, ao menos até agora, a escolha de Flávio como o nome do pai para a corrida presidencial. A cautela com que a candidatura do senador vem sendo tratada é vista como um sinal de fraqueza de articulação política do ex-presidente.
O capital eleitoral de Jair Bolsonaro é um ativo por si só. Todos do campo da direita querem contar com o apoio dele. No Centrão, apesar das críticas a Flávio, avalia-se que ele pode chegar ao segundo turno empurrado pelos votos bolsonaristas — o desafio seria vencer sua alta rejeição no segundo turno. A análise na classe política, entretanto, é que Bolsonaro inevitavelmente não será o principal articulador político de seu campo em 2026 e não concentrará em si as decisões como em 2018 e 2022.
Além da atenção com a corrida presidencial, Jair Bolsonaro também terá como prioridade as eleições ao Senado, que renovarão dois terços das cadeiras na Casa em 2026. O bolsonarismo espera eleger um exército de senadores para, a partir de 2027, avançar em retaliações contra os ministros do STF identificados como os algozes de seu líder. Para isso, a família deverá lançar dois candidatos com altíssimas chances de eleição ao Senado: Carlos em Santa Catarina e Michelle no Distrito Federal. Outro nome certo para a vitória, Eduardo Bolsonaro teria mais dificuldades para construir sua candidatura.
A propósito, foi no Congresso dominado pelo Centrão que o bolsonarismo não conseguiu aprovar sua principal pauta em 2025: a anistia a Bolsonaro e a todos os condenados pela tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro. A tendência para 2026 é que os presidentes das Casas, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, alinhem-se cada vez mais ao governo. O movimento tornaria o próximo ano mais difícil para um protagonismo dos aliados de primeira hora do ex-presidente.
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A leitura entre parlamentares é que o cenário será outro se Bolsonaro decidir abandonar a candidatura de Flávio e apoiar um nome que gera uma maior adesão do Centrão, como Tarcísio de Freitas. Pessoas próximas ao ex-presidente, contudo, consideram que a troca dificilmente vai acontecer. Ou seja: Jair Bolsonaro vai para o tudo ou nada.
