O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dito que está “tranquilo” para a disputa eleitoral de 2026, quando tentará se reeleger a um quarto mandato. Ao fechar o ano, ele antecipa alguns pontos que vai priorizar no discurso que usará na campanha. Lula pretende enfatizar o desempenho da economia, o compromisso com o combate à violência contra a mulher e um retorno ao discurso mais à esquerda de defesa de melhores condições de trabalho, por exemplo. No caso da economia e das mulheres, no entanto, Lula terá que preparar antídotos, explicar atitudes ou circunstâncias que não corroboram para amenizar desgastes.
O governo considera que o discurso para a economia está mais fechado, apesar de pesquisas indicarem se tratar da área mais mal avaliada pela população. Na questão do controle de gastos, 50% dos eleitores indicam o desempenho do governo nesse quesito como ruim ou péssimo e 19% a consideram ótimo ou bom, de acordo com levantamento divulgado nesta terça-feira, 16, pelo Ipsos-Ipec. O combate à inflação registrou 48% de ruim e péssimo, um ponto a menos do que em setembro. Seu pior momento neste ano ocorreu em março, com 57% de desaprovação.
Lula, segundo auxiliares, atribui esse desempenho ao preconceito do mercado em relação a seu governo e, nesse sentido tentará se contrapor ao pensamento dominante no setor financeiro de que seu governo não se preocupa com o equilíbrio das contas públicas. O presidente já começou a repetir e recorrerá ainda mais à ideia de que analistas “erraram feio” ao fazer previsões para seu governo.
“Tudo aquilo que teoricamente os analistas políticos achavam que era impossível acontecer em um governo que tinha menos de 120 deputados, numa Câmara de 513, e 15 senadores em um Senado com 81, aconteceu”, repetiu o presidente no discurso de abertura da reunião ministerial, na quinta-feira, 17, e no café com jornalistas, no dia 18. “Isso não aparece com a força que deveria aparecer nas pesquisas de opinião pública porque existe uma polarização no país”, reclamou o presidente.
Violência contra a mulher
Ao tratar do tema das mulheres, Lula busca focar no combate ao feminicídio e à violência. A ideia é encampar um movimento de homens “pelo fim da violência contra a mulher”. O entorno de Lula já percebeu que o tema teve engajamento das redes na semana em que houve comoção no país com a notícia sobre uma mulher que foi arrastada em São Paulo por um carro dirigido por seu ex-namorado. Lula procurou mostrar que sua indignação partiu da primeira-dama, Janja da Silva, que teria chorado ao saber da notícia.
No café com jornalistas, o presidente não foi questionado sobre o assunto, mas repercutiu o episódio envolvendo o cantor Zezé di Camargo, que ofendeu nas redes as filhas do apresentador Silvio Santos, que dirigem o SBT após a morte do pai, em agosto deste ano. Lula chamou de “cretinice” a atitude do cantor disse que ele “não teria coragem de fazer aquele ataque a homens”.
Sem paridade
O discurso de Lula em defesa das mulheres, no entanto, não avança para as questões do empoderamento feminino, área que o presidente tem colecionados passivos de imagem. O presidente não toca na questão da paridade de gênero nas instâncias do governo e é justamente nesse ponto que ele sofre críticas. Neste mês, advogadas criaram um manifesto contra a decisão de Lula de ignorar a nomeação de mulheres para as vagas nos TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) em diversos estados. Lula só nomeou homens para nove vagas dos TREs. Some-se a isso o mal-estar devido às indicações feita pelo petista para o STF.
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Em outubro, cinco advogadas da Rede Feminista de Juristas acionaram o STF para que Lula indicasse uma mulher negra para a vaga deixada pelo ministro Luís Roberto Barroso. Em novembro, Lula preferiu indicar o nome do ministro Jorge Messias (Advogacia-Geral da União). Na reação da entidade, as advogadas argumentaram que Lula repete um ” padrão excludente na composição do sistema de justiça brasileiro”.
