A semana de festejos juninos no Nordeste costuma ser de total pasmaceira no Congresso. Mas a decisão tomada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Reublicanos-PB), de colocar na pauta da sessão desta quarta-feira, 25, o PDL (Projeto de Decreto Legislativo) que susta o decreto de aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) quebrou o recesso informal e surpreendeu o governo.
O Planalto esperava que o assunto só voltasse a ser discutido no início de julho, confiando nos 15 dias dados por Motta para que a equipe econômica apresentasse uma alternativa ao aumento das alíquotas do IOF e de algumas modalidades de investimento. O governo insistia no aumento linear. Nos bastidores, o desrespeito ao prazo é tratado no Planalto como quebra de acordo.
Na manhã desta quarta, ainda atônitos com a pauta, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscavam decifrar os motivos que levaram Motta a antecipar a votação do IOF. Várias hipóteses foram aventadas para a irritação do comandante da Câmara.
A entrevista de Haddad
A mais forte seria a reação a entrevista concedida pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) à Record, na terça-feira, 25. Haddad se colocou contrário ao projeto que aumenta o número de deputados, uma das prioridades de Motta. A proposta já foi aprovada na Câmara e está na pauta desta quarta-feira, 25, do Senado, onde enfrenta resistência de parte dos senadores.
Haddad, ao ser questionado sobre o assunto, cobrou “exemplo” do Parlamento quanto ao controle dos gastos. “Estamos num momento que vamos congelar o debate sobre aumento de gastos até encontrar o caminho da sustentabilidade (das despesas)”. Hoje, auxiliares do Planalto buscaram rever a entrevista para entender o que realmente foi dito e buscar uma forma de equacionar o problema com Motta.
Com o gesto desta quarta-feira, o presidente da Câmara dobrou a aposta nas disputas do Congresso com o o Planalto e com o STF. Na próxima sexta-feira, Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), vão participar no Supremo da audiência pública convocada pelo ministro Flávio Dino para debater as emendas parlamentares. Esse é o principal ponto de atrito entre os poderes nos últimos dois anos, continua sem solução e ajuda a explicar a má vontade do Congresso com o governo.
