A um ano das eleições para o Palácio Tiradentes, forças políticas ainda se movem nos bastidores - (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Pres – 5/2/18)
crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Pres – 5/2/18
Falta pouco menos de um ano para as eleições e apenas o vice-governador Mateus Simões (PSD) aparece como candidato claramente colocado à sucessão do governo estadual – um retrato que remete a outubro de 2021, quando só Romeu Zema (Novo) e Alexandre Kalil (à época no PSD, hoje no PDT) estavam de fato no páreo. Em outubro de 2025, as demais forças políticas ainda se movem nos bastidores: articulações discretas, sondagens internas e projetos em maturação marcam o cenário. Para analistas, a lentidão não é sinal de fraqueza, mas de tradição.
Largando na frente, o vice-governador, que deixou o Novo para se filiar ao PSD, é hoje o único nome tratado como oficial para a disputa em 2026. Sua candidatura é vista como “natural” dentro do grupo de Romeu Zema, não apenas pelo cargo que ocupa, mas por se apresentar como fiador do chamado “zemismo”. Além disso, Simões conta com o reforço político do secretário da Casa Civil, Marcelo Aro, peça-chave na engrenagem de articulação do governo.
Neste momento, já articula apoios com a federação PP-União e sinaliza diálogo com Republicanos e PL. É o que, em 2021, Zema fazia discretamente, sondando partidos, mantendo-se distante de Brasília e de articulações ruidosas. “Simões ocupa hoje a cadeira de ‘nome certo’, como Zema ocupava quatro anos atrás. Em Minas, é sempre assim: um ou dois colocados e o resto orbitando, em outubro. O jogo só vira quando chega o ano da eleição”, avalia o cientista político pela UFMG, Lúcio Mauro Costa, em entrevista ao Estado de Minas.
A dúvida maior do momento é Rodrigo Pacheco. Ex-presidente do Senado, ele não será candidato pelo PSD, já fechado com Simões. Mas nos bastidores negocia com o MDB, de onde poderia montar uma chapa com apoio do PT. É o movimento mais próximo de uma candidatura competitiva de oposição. Na quinta-feira (23), ele confirmou que deve definir uma possível candidatura até o fim do ano.
A situação repete a incerteza de 2021, quando o PT não tinha candidato próprio e acabou se juntando a Kalil apenas em 2022. Agora, novamente, a esquerda espera a definição de outro nome para decidir seu caminho. “Em Minas, a esquerda historicamente tem dificuldade de se afirmar sozinha. Isso depois da impopularidade do governo Fernando Pimentel (PT). Pacheco seria o polo de convergência, mas ele próprio ainda não sabe se entra. O STF é outra possibilidade. Essa indecisão não é fraqueza: é o tempo político mineiro. Outubro é o mês da espera. Se ele passar na frente, talvez perca outras oportunidades”, diz Costa.
Na direita, ao contrário, o movimento é barulhento. Cleitinho Azevedo (Republicanos) já disse que não recua. Nikolas Ferreira (PL), deputado mais votado do Brasil em 2022, também não dá sinais de desistência. Ambos querem liderar o bolsonarismo mineiro.
Em 2022, o campo bolsonarista também sofreu: o senador Carlos Viana foi candidato pelo PL, mas o presidente à época, Jair Bolsonaro, preferiu um apoio “manso” a Zema, deixando seu próprio candidato isolado. Viana terminou fora do partido, constrangido por um gesto presidencial que, em Minas, valeu como recado: a unidade conservadora só se dá de última hora.
“Esse filme pode se repetir. Se Nikolas e Cleitinho insistirem, eles enfraquecem o campo inteiro. Minas não sustenta dois nomes fortes no mesmo espectro. O exemplo de Viana em 2022 está aí para mostrar que o bolsonarismo mineiro ainda não aprendeu a jogar com o calendário estadual”, analisa o cientista político.
Tentando manter-se como oposição, Alexandre Kalil volta ao jogo pelo PDT. Ex-prefeito de Belo Horizonte, foi o principal adversário de Zema em 2022, mas perdeu ainda no primeiro turno, com 35% dos votos. Hoje, retorna com menos popularidade, sob investigações do Ministério Público, mas pode se aliar novamente ao PT e ser o "plano B" de Lula em 2026.
Kalil era, em 2021, o nome certo da oposição, assim como Simões é hoje o nome certo da continuidade. A diferença é que sua força se perdeu. “Kalil tinha densidade, tinha o recall de prefeito da capital, tinha Lula em seu palanque. Mesmo assim, perdeu no primeiro turno. Agora, sem o PT e com denúncias, está mais próximo do papel de Pestana em 2022: presença conhecida, mas sem musculatura para polarizar”, avalia Lúcio Mauro Costa.
Por fim, o PSDB, que já foi hegemônico em Minas, tenta retomar fôlego com Aécio Neves. Em 2022, Marcus Pestana foi candidato e não chegou a 1% dos votos. Agora, Aécio aposta em sua própria imagem para resgatar relevância. Em 2010, Aécio era o principal nome mineiro na cena nacional. Em 2025, luta para manter o PSDB no mapa eleitoral. “Aécio simboliza o passado, mas não garante o futuro. É um nome forte no imaginário, frágil na prática. Minas guarda respeito pela memória, mas não costuma votar na nostalgia”, interpreta o Lúcio Mauro.
Outubro como prólogo
O compasso atual é, em si, uma tradição. Minas não se decide em outubro do ano anterior. Foi assim em 2021: Zema e Kalil eram os únicos colocados. Só em 2022 vieram as definições, PT na vice de Kalil, Carlos Viana lançado pelo PL, Marcus Pestana pelo PSDB, e Bolsonaro apoiando Zema pela tangente. O roteiro é quase cronológico:
Outubro de 2021
Zema e Kalil postos, pesquisas com vantagem do governador.
Março de 2022
PT anuncia André Quintão como vice de Kalil.
Abril de 2022
PL lança Carlos Viana.
Abril de 2022
PSDB oficializa Marcus Pestana.
Agosto de 2022
Bolsonaro sinaliza apoio a Zema, esvaziando o PL.
Outubro de 2022
Zema vence no primeiro turno com 56,18% contra 35% de Kalil.
Mas a fotografia de outubro sempre enganou. Em 2014, o tucano Pimenta da Veiga só consolidou candidatura na boca das convenções, quando já enfrentava o favoritismo de Fernando Pimentel. Em 2018, o próprio Zema era tratado como coadjuvante até semanas antes da eleição, quando virou e superou Antonio Anastasia. Em 2021, o cenário parecia restrito a dois nomes, mas acabou com outros na urna. Outubro, em Minas, é menos calendário e mais cultura: é o tempo do bastidor, não da vitrine.
Lúcio Mauro Costa resume: “Outubro é o mês do ensaio. Minas gosta de maturar em silêncio e definir só no ano eleitoral. Quem se lança cedo demais se desgasta; quem espera demais perde o trem. É um traço cultural. O presente repete o passado porque esse é o ritmo da política mineira.”
Até março de 2026, quando se encerra a janela de filiações, e em julho, nas convenções partidárias, o cenário deve seguir em aberto. O histórico, porém, mostra que em Minas nada se define com meses de antecedência: eleições passadas provaram que as candidaturas só se consolidam às vésperas da disputa.
Possíveis nomes nas urnas em 2026
Edesio Ferreira/EM/DA Press – 24/9/25
Mateus Simões (PSD)
Vice-governador, deixou o Novo para se filiar ao PSD e consolidou-se como herdeiro de Romeu Zema. Aponta-se como candidato da continuidade, com discurso de gestão técnica e articulação liderada por Marcelo Aro. É o único nome oficialmente posto até agora.
Geraldo Magela/Agência Senado – 01/2/25
Rodrigo Pacheco (PSD)
Ex-presidente do Senado, avalia trocar o PSD pelo MDB para viabilizar candidatura com apoio do PT. Interlocutores não descartam que seja indicado ao STF por Lula, o que o tiraria da disputa. Sua decisão pode redefinir o campo de oposição.
Gladyston Rodrigues/EM/D.A Pres – 8/11/22
Cleitinho Azevedo (Republicanos)
Senador eleito em 2022, construiu base no interior com discurso popular e estilo simples. Aparece na frente em algumas pesquisas e espera contar com votos bolsonaristas, mas tem sido duramente criticado por Eduardo e Carlos Bolsonaro.
Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press – 4/7/25
Nikolas Ferreira (PL)
Deputado federal mais votado do país em 2022, aposta na força das redes sociais e no apelo entre jovens. Tem respaldo da direção nacional do PL, mas encontra resistência em dividir espaço com Cleitinho.
Jair Amaral/EM/D.A Press – 14/8/24
Alexandre Kalil (PDT)
Ex-prefeito de BH, foi o principal adversário de Zema em 2022, quando perdeu no primeiro turno. Retorna pelo PDT e ensaia novamente uma aliança com o PT, mesmo ainda sem ter se encontrado com Lula, que apoiou nas últimas eleições.
Edesio Ferreira/EM/D.A Press – 3/8/18
Aécio Neves (PSDB)
Ex-governador e deputado federal, busca recolocar o PSDB no tabuleiro após o fiasco de 2022, quando Marcus Pestana teve menos de 1% dos votos. Seu nome resgata a memória do período tucano em Minas, mas encontra dificuldades para se projetar no cenário atual.