Estátua de Tiradentes em Ouro Preto, onde ocorreu a Conjuração Mineira -  (crédito: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A.PRESS)

Estátua de Tiradentes em Ouro Preto, onde ocorreu a Conjuração Mineira

crédito: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A.PRESS


Com a proximidade de abril, mês fatídico para a Conjuração Mineira, vale a pena se inserir nos “Autos da devassa” para conhecer nuances do processo jurídico, que sentenciou inconfidentes à morte e uma maioria ao degredo. O livro “Tiradentes”, de autoria do escritor Oiliam José, editado pela Itatiaia, esmiúça fatos curiosos sobre o movimento revolucionário, tão pertinente aos mineiros, recheado de episódios de traição, medo e ódio, que resultou na aparição do herói nacional e cultuado mártir da liberdade.

A obra relata detalhes dos depoimentos de Joaquim José da Silva Xavier, homem comum, de pouca instrução, cristão, mulherengo, vítima por quatro vezes de preterição na carreira militar, encarcerado na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. O alferes rechaçou qualquer ideia de sublevação ao mando português nos três primeiros depoimentos. Fê-lo por anuência com os demais companheiros de conspiração. Todos acordaram, antecipadamente, que se um deles fosse preso rebateria de pronto o propósito de insubmissão à monarquia lusitana.

Diante do escrivão, apenas na quarta vez, estropiado pelo cárcere torturante, Tiradentes assumiu ser o patriota nacionalista em toda dimensão, na tentativa de reduzir alheias responsabilidades diante da acusação de insurgência e crime de lesa-majestade. Executado por enforcamento, logo esquartejado, um quarto do corpo de Tiradentes ficou no Sítio das Cebolas, próximo a Paraíba do Sul; outra parte em Arraial da Igreja Nova, atual Barbacena; próximo a Conselheiro Lafaiete, em Estalagem da Varginha, espetou-se uma terceira parte em poste de madeira; a última parte coube ao sítio das Bandeiras, vizinho de Vila Rica. Por fim, restou a exposição por vários dias, sob a guarda de sentinelas, da cabeça salgada à Praça da Cadeia, na barroca capital, até o seu misterioso desaparecimento.

 

ANZOLADA

Pescador de lambari e cará desde criancinha, o mineiro descobriu que o esporte chegou ao ápice do profissionalismo. Além do material embarcado com alta tecnologia, que requer de varas e carretilhas a iscas artificiais siliconadas, existem locais neste país com toda a infraestrutura possível e inimaginável para conforto da turma do anzol, em especial nas regiões Centro-Oeste e amazônica. Apenas um porém nessas aventuras para o nosso gentio em busca de traíras, tucunarés e pintados: a fama de pão-duro dos mineiros bateu além da fronteira.

Os chamados “piloteiros”, encarregados de conduzir os barcos a motor até aos locais onde pululam cardumes, viram o rosto ao saber que os mineiros chegaram a hotéis e embarcadouros. Os paulistas, por exemplo, pagam em forma de gorjeta uma baita grana a essa gente que domina os pesqueiros, enquanto os mineiros, donos de inquestionável sovinice, desembolsam uma nota de oncinha pintada do pantanal ao dia. Se muito...


INTERESSEIROS

São inúmeros os segmentos da vida brasileira que se sentem à vontade para meter o bedelho no Plano Nacional de Educação (2024-2034), que em breve será submetido ao Congresso. A diretriz de uma política educacional, açambarcando atuais e futuras gerações, precisa de planejamento e longo prazo, requisitos básicos. Os tigres asiáticos estipularam uma meta de um quarto de século. Em menos tempo colheram as benesses do desenvolvimento e civilidade. As polêmicas e controvérsias em torno do documento se fazem, por óbvio, por motivos políticos, ideológicos e religiosos.

Iletrado de carteirinha, um leitor desta coluna também deu sua democrática sugestão, claro, em vão: extinção do analfabetismo; ensino universal gratuito da creche ao curso superior; fim do vestibular (Enem); remuneração digna, autonomia e qualificação máxima a educadores e escolas; e, por fim, acolhimento em qualquer escola pública em qualquer nível a todo brasileiro acima de 50 anos.

 

BEST-SELLERS

Os frequentadores de livrarias, para uns poucos, muitos, para outros tantos, raros, viram nascer de uns tempos para cá a classificação de uma nova categoria literária nas prateleiras, concorrendo com biografia, romance, autoajuda, psicologia, poesia, literatura, etc. Se chama diversidade. Ali encontram-se obras voltadas para o indigenismo, feminismo, LGBTQIA+ e questões raciais. As obras ficam em locais estratégicos no visual e manuseio, pois vendem bastante. A literatura pautada no identitarismo traz apelo de consumo e público cativo, porque é cidadania.


RECONHECIMENTO

O talento ajuda, mas a genialidade se prova insuperável: Millôr Fernandes, falecido em 2012, já recomendava com louvores a leitura do livro “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves, lançado em 2006, tema carnavalesco da tradicionalíssima Portela este ano. Agora, na lista das mais vendidas, a obra romanceada, com quase mil páginas, traz profunda reflexão sobre a importância do papel dos negros na sociedade brasileira, após mais de três séculos de escravidão. Outrora, serpentina, confete e beijos, o carnaval incorporou todo um saber.


CARESTIA

Furioso com a economia no trajar e os descalabros ouvidos dos foliões de passagem por seu táxi, o motorista soltou essa em plena quarta-feira de cinzas: “Faltou apenas o Bloco do Povo, pois com o quilo da banana prata a R$ 14 e a caturra a R$ 10, a quaresma obrigou ao jejum bem antes do carnaval”.