Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações Renato Kfouri crítica, em entrevista à Júlia Duailibi e a Octávio Guedes, a realização de enquete feita pelo Conselho Federal de Medicina com vários médicos, independente da especialização, sobre a obrigatoriedade ou não de aplicação de vacinas -  (crédito: Reprodução/Globonews)

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações Renato Kfouri crítica, em entrevista à Júlia Duailibi e a Octávio Guedes, a realização de enquete feita pelo Conselho Federal de Medicina com vários médicos, independente da especialização, sobre a obrigatoriedade ou não de aplicação de vacinas

crédito: Reprodução/Globonews

O comentarista da GloboNews Octávio Guedes ironizou nesta terça-feira (16/1) uma enquete feita pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) que questionava médicos, independente da especialização, se vacinação em crianças deve ser obrigatória e se os país têm o direito de não optar pela imunização. Ele chamou o CFM de "Conselho Funerário de Medicina".

A fala foi proferida enquanto Guedes, junto da repórter Júlia Duailibi, questionavam o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, sobre a vacinação de combate à dengue no Brasil, que deve começar no próximo mês em crianças e adolescentes de 6 a 16 anos, conforme orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS).

"O Conselho Funerário de Medicina está fazendo uma enquete que devia valer uma excursão pela Terra Plana. Parece aqueles programas de auditório: 'Dr. Renato Kfouri, o senhor troca a ciência por uma enquete que pergunta se pais devem vacinar seus filhos contra COVID-19'", afirmou o comentarista da GloboNews.

Kfouri, que é pediatra e imunologista, chamou a enquete de inútil e que "é um desserviço da saúde pública do país". Também foi levantada uma suspeição sobre a enquete. "Deve ter outros objetivos que não seja basear a ciência."

"O Conselho Federal de Medicina resolve perguntar pra médicos, pra todos os médicos, não está perguntando para os especialistas, se é importante ou não vacinar as crianças, se deveria ser introduzida no programa nacional de imunizações, se deve ser obrigatória ou não", queixou-se o médico.

Em seguida o especialista reforçou a reclamação, apontando que só poderia opinar, de forma consciente e profunda, sobre temas das quais ele é especialista.

"Eu, como médico infectologista, como pediatra, não tenho menor condição de opinar sobre stents cardíacos, próteses ortopédicas, cirurgia robótica, se devo usar tal equipamento ou não, não é da minha área. É uma pesquisa opinativa que só tem intuito causar mais desconfiança na população", concluiu.

Pesquisa CFM

O Conselho Nacional de Medicina fez quatro perguntas a médicos, com parte delas em caixa alta:

- "Atende ou já atendeu crianças com idades entre 6 meses a 4 anos e 11 meses?";

- "Atende ou já atendeu crianças com idades entre 6 meses e 4 anos e 11 meses com diagnóstico de covid-19 ou com complicações decorrentes da covid-19?";

- "A aplicação de vacinas contra covid-19 em crianças com idades entre 6 meses e 4 anos e 11 meses DEVE SER OBRIGATÓRIA?";

- "Após devidamente esclarecidos pelo médico assistente sobre os benefícios e riscos relacionados à aplicação de vacinas contra COVID-19 em crianças com idades entre 6 meses e 4 anos e 11 meses, os pais e responsáveis têm o DIREITO DE NÃO OPTAR pela imunização de suas crianças?".

Em nota, o CFM afirmou que a intenção da pesquisa é saber a percepção da classe sobre a obrigatoriedade da vacina contra COVID-19 em crianças de 6 meses a 4 anos e 11 meses e que essa prática enriquece o debate.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, sociedade científica, repudiou a realização do questionário, afirmou que "ciência não é matéria de opinião" e afirmou que "não se decide se a Terra é redonda ou plana, se Marte é um planeta ou um holograma, por meio de enquetes de opinião.