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Carlos Eloy Carvalho Guimarães foi também deputado estadual e federal e ex-secretário de estado -  (crédito: PAULO FILGUEIRAS/EM;/D.APRESS)

Carlos Eloy Carvalho Guimarães foi também deputado estadual e federal e ex-secretário de estado

crédito: PAULO FILGUEIRAS/EM;/D.APRESS

 

Quando os elogios são servidos à farta, resta apenas o excepcional por atributo. O ex-deputado estadual e federal, ex-secretário de estado e ex-presidente da Cemig Carlos Eloy Carvalho Guimarães conheceu três homens "extraordinários" e "educadíssimos", segundo ele, ao longo de sua existência: José Monteiro de Castro (1909-1994), Clóvis Salgado da Gama (1906-1978) e Hilton Ribeiro da Rocha (1911-1993). O primeiro foi raposa felpuda da antiga UDN. O mais votado deputado para a Assembleia Constituinte de 1946, ex-secretário da Fazenda e da Justiça. “Notável capacidade política, valente, gostava de confusão”, resumiu Eloy. O ex-governador Hélio Garcia quando tinha algo a lhe atormentar a cachola recorria a seu guru, no apartamento da Rua Timbiras. Já aposentado, dado no meio como vestal da política mineira, Castro reconheceu que seu partido espicaçou em demasia Getúlio Vargas: “Fomos injustos. Ele esteve à frente de um governo duríssimo, mas humano. Não precisava apertar a mão dos trabalhadores, muito menos beijar criancinhas”. É da sua lavra a expressão “sem ódio e sem ressentimentos”, encarnada por Hélio Garcia na campanha de 1990. Advogado, assumiu o Gabinete Civil da presidência no governo Café Filho.

O segundo foi médico, professor, ex-governador de Minas e ex-ministro da Educação e Cultura. Membro do Partido Republicano, esteve à frente do projeto de elaboração de um novo código de ensino primário e da criação de numerosos colégios estaduais. Vice de Juscelino Kubitschek, assumiu o governo de Minas em 1955 e 56, depois foi vice de Magalhães Pinto, nos anos 60. Seu nome está por trás dos projetos de criação do Palácio das Artes e do Teatro Marília. Intelectual de fino trato, acreditava que o compartilhamento do conhecimento levaria a sociedade a uma convivência melhor.

O terceiro, de renome internacional, foi considerado o maior oftalmologista do país. Um especialista em prevenção da cegueira e reabilitação visual. Gente de todos os estados vinha a Minas em busca de tratamento por suas mãos. Atendia pobres e ricos com a mesma dedicação. Catedrático da Faculdade de Medicina de BH, aos 31 anos, assumiu por duas vezes a presidência da Associação Médica. Foi admirador dos médicos Antônio Aleixo, Hugo Werneck, Ezequiel Dias e Alfredo Balena, hoje nomes de ruas e avenidas na capital. Hilton Rocha ostentou o número 0001 na carteira do Conselho Regional de Medicina. “Nunca aceitou entrar para a política, embora tenha recebido inúmeros convites”, lembrou Eloy, sob o argumento de que “era um cientista e não podia errar”. No discurso de posse da diretoria da Academia Mineira de Medicina, período 1970-1972, no papel de orador da turma encabeçada por Oswaldo de Mello Campos, Hilton Rocha se esbaldou na leitura de 95 laudas. Peça de oratória que o médico Émerson Fidelis, que posteriormente presidiu a entidade, guarda com carinho pela abrangência histórica e cultural. “Ser acadêmico é ter a consciência tranquila no cumprimento de nossos deveres e de nossa missão. É não haver regateado esforços em benefício dos que sofrem”, refletiu, na ocasião. Já naquela época, Hilton Rocha atacava a criação de novas escolas de medicina, tese que se sustenta até hoje nas palavras do atual presidente da entidade, José Carlos Serufo: “O Brasil não precisa de mais médicos. É essencial que a população receba atenção integral à saúde, com qualidade e resolutividade”. Em tempo: os três notáveis, mais Eloy, transitaram com desenvoltura nos corredores dos períodos autoritários e democráticos.

BATE E VOLTA

Os Correios são de indiscutível eficiência. Em maio passado, um missivista de BH enviou correspondência manuscrita a uma sua amiga em Brasília. No início de junho, ou seja, um mês após a selagem simples, a empresa registrou mudança de endereço da destinatária, conforme carimbo na frente do envelope. Em meados deste novembro, a carta voltou às mãos do remetente, comprovando o zelo da estatal no serviço de postagem, embora o processo tenha custado sete meses.

CORPORATIVA

O coronel reformado do Corpo de Bombeiros José Honorato Ameno assumiu este ano a presidência da União dos Militares de MG, considerada a mais antiga entidade associativa da categoria, fundada em janeiro de 1948. Ela agrega 5.200 integrantes, inclusive civis, e contém 16 núcleos no interior. Ameno foi chefe de gabinete do coronel Picinin na Câmara de BH e na Assembleia Legislativa.

VERMELHO NO AZUL

Visto que a trágica situação financeira de Minas não sai da berlinda é bom recorrer a Arthur Bernardes. Advogado à frente de seu tempo, foi empossado presidente de Minas Gerais em 7 de setembro de 1918, ao fim da Primeira Guerra. Devido à crise mundial, a emissão de papel moeda era às toneladas no governo federal. Em seu primeiro exercício financeiro, compreendido entre janeiro e dezembro de 1919, num orçamento em que a despesa foi fixada em Cr$ 35.362.400,00 a arrecadação chegou a Cr$ 51.639.969,44, com saldo de Cr$ 16.277.569,44. Fato inédito na administração. A dívida externa montava 186.754.500 francos-ouro. No ano seguinte, ele conseguiu reduzi-la para 132.924.250 francos-ouro, resgatando a sua quarta parte. A redução desse passivo restaurou o crédito do estado, que passou a bom devedor. Com a redução das obrigações do serviço da dívida externa, Bernardes liquidou os pepinos advindos de condenações judiciais. Além disso, quitou os débitos congelados oriundos de impostos arrecadados do café pertencentes a São Paulo e os juros em atraso das apólices conversíveis Rio-Minas. Ao assumir o governo, o patrimônio do estado estava avaliado em Cr$ 112.670.009,60, em péssimo estado de conservação. Além de consertar os imóveis, construiu e adquiriu outros, ampliando-o para Cr$ 185.885.186,60. Esticou em muito a malha ferroviária, reduziu o imposto sobre o café na exportação, também sobre os cereais e gado. O livro "Arthur Bernardes - estadista da República", do escritor Bruno de Almeida Magalhães, disseca bem o personagem, nascido em Viçosa.