Todos esses insultos silenciosos à pele levam à formação de radicais livres -  (crédito: PIXABAY/REPRODUÇÃO)

Todos esses insultos silenciosos à pele levam à formação de radicais livres

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Um dos grandes destaques da indústria farmacêutica é a possibilidade de atuar com ingredientes biomiméticos, isto é, que simulam ações que ocorrem no nosso corpo. E o mais recente destaque é a melanina sintética e biomimética, apresentada em um estudo recente da Regenerative Medicine, publicação da Nature.


“Conhecemos a melanina como o pigmento que dá cor à pele, olhos e cabelos. Mas ela também é capaz de protegê-la, agindo como um filtro natural que absorve e dispersa a luz solar. É por isso que nossa pele mancha: o escurecimento após a exposição solar é uma reação para fotoproteger o material genético (DNA) celular”, explica a dermatologista Ana Maria Pellegrini. “Com o creme, os pesquisadores notaram uma dupla ação: de potencialização da proteção solar e de reparação dos danos”, acrescenta a médica.


A melanina sintética imita a melanina natural da pele humana, pode ser aplicada topicamente em uma pele ferida, acelerando a cicatrização, e na pele aparentemente sã para tratar danos internos, segundo a médica. “A tecnologia funciona eliminando os radicais livres, produzidos por lesões na pele, como queimaduras solares, além de acalmar o sistema imunológico. Ao acalmar a inflamação destrutiva nessa superfície, o corpo pode começar a curar em vez de ficar ainda mais inflamado. Em contrapartida, se não for controlada, a atividade dos radicais livres danifica as células e, em última análise, pode resultar em envelhecimento da pele e câncer de pele.”


De acordo com a dermatologista, muitas pessoas não notam os danos solares, mas eles ocorrem também internamente. “Se você se expor todos os dias ao sol, sofrerá um bombardeio constante e de baixo grau de luz ultravioleta. Isso piora durante os horários de pico do meio-dia e no verão. Sabemos que a pele exposta ao sol envelhece mais que a pele protegida por roupas e filtro solar”, diz a médica.


“Todos esses insultos silenciosos à pele levam à formação de radicais livres que causam inflamação e quebram o colágeno. Essa é uma das razões pelas quais a pele mais velha parece muito diferente da pele mais jovem”, acrescenta. “Além disso, a exposição crônica pode furar esse bloqueio da melanina natural da pele, danificando o DNA celular, o que é um risco, pois aumenta a chance de cancerização do paciente”, destaca a dermatologista.


Os cientistas que publicaram o trabalho científico estudam a melanina há quase 10 anos e já a testaram, com sucesso, como protetor solar. “O creme de melanina sintética pode ser usado como intensificador de proteção solar para proteção adicional e como intensificador de hidratante para promover a reparação da pele. Ele poderia ser usado antes de sair ao sol, com efeito preventivo, e depois de tomar sol, com efeito curativo. Em ambos os casos, o estudo mostra redução nos danos e na inflamação da pele”, destaca a médica.


Outra funcionalidade seria utilizar a melanina sintética em produtos para cicatrização, tratamento de bolhas e feridas abertas, além de pacientes em tratamentos oncológicos de radioterapia. Os cientistas usaram um produto químico para criar uma reação com bolhas em uma amostra de tecido de pele humana em um prato. O creme facilitou uma resposta imunológica, ajudando inicialmente a recuperar as enzimas eliminadoras de radicais da própria pele e, em seguida, interrompendo a produção de proteínas inflamatórias. Nas amostras que não receberam tratamento com creme de melanina, as bolhas persistiram. “O tratamento tem o efeito de colocar a pele em um ciclo de cura e reparação, orquestrado pelo sistema imunológico”, finaliza Ana Maria.