A poeta, ensaísta e dramaturga Leda Maria Martins lança neste sábado (29/11), na Livraria da Rua, “A fina lâmina da palavra”, pela Editora Cobogó. O livro reúne textos críticos sobre literatura, teatro, artes visuais e historiografia, definidos pela autora como “exercícios de pensamento”. O evento começa às 11h.

A coletânea articula leituras que vão de Nelson Rodrigues e Machado de Assis a artistas contemporâneos como Sonia Gomes e Jota Mombaça. No teatro, Leda analisa obras de Jhonny Salaberg e Dione Carlos. aproximando sua produção crítica de debates atuais sobre dramaturgia, performance e visualidades. “São em geral textos breves que abordam seu objeto de reflexão sob variados prismas teóricos e críticos, realçando aspectos relevantes e significativos da criação artística abordada no livro. Ali percorro várias das possibilidades de exercício crítico”, explica. “Elejo obras e autores cujo trabalho com linguagens estéticas nos estimula à percepção mais arguta e à fruição.”

A autora destaca que os ensaios observam a maneira como escritores e artistas exploram repertórios, experimentações e fabulações que tensionam tradições e renovam debates estéticos. “Me interessam muito os modos como os autores acionam de diversas maneiras as tecnologias das linguagens artísticas, nos seus âmbitos de elaboração estética e poética, as formas que esculpem, os repertórios criativos que acessam, a engenhosidade das fabulações, as experimentações que processam, as insurgências que manifestam, nos muitos e variados percursos do trabalho de criação, sempre um complexo labor e uma realização que nos estimulam a percepção arguta e a fruição prazerosa.”

O lançamento contará com a presença da professora Maria Nazareth Fonseca, referência nos estudos afro-diaspóricos, e da dramaturga Dione Carlos, cuja obra dialoga diretamente com temas presentes no livro. 

Leia abaixo trecho do livro “A fina lâmina da palavra”

“O desejo da escrita marca muitas veredas da produção literária negra, na contramão de empecilhos e restrições de vária ordem. Carolina Maria de Jesus também nisso se destaca. Nessa cartografia, a autora, com seu desejo manifesto de ser escritora, desafia a autoridade do cânone e a incompleta escolaridade. De restos e fragmentos de livros, recolhidos no lixo, alimenta sua ânsia de leitura e de escrita. Ler e escrever tornam-se seus mais vorazes utensílios e instrumentos de construção do próprio ser social e da formação escritural. Em seus diários e em sua rotina, ler e escrever são os absolutos de uma existência minguada. É na escrita que a vivência se traduz em audacioso relato poético, em cujo labor a escritora, como em ritos, se entrega. E se nutre.

um homem não há de gostar de uma mulher que não pode passar sem ler.

E que levanta para escrever.

E que deita com lápis e papel debaixo do travesseiro. 

Por isso é que prefiro viver só para o meu ideal.

Carolina enfrenta a carência de instrução, transfigura gêneros e institui uma poética ousada na qual transpira um impulso inovador da escrita. Mais tarde, Conceição Evaristo, com sua noção de escrevivência, nos oferece subsídios crítico-teóricos inestimáveis para pensar e reconhecer a escritora como uma das precursoras de uma linhagem transformadora da poiesis, ancorada em um eu autorreflexivo e autodidata que revelaria algumas nuances das subjetivações negras, em particular as femininas, tornando o texto de Carolina exemplar.

Nesse mesmo tônus, poderíamos ressaltar a literatura de Oswaldo de Camargo e de Adão Ventura, por exemplo, em que o ser negro se transveste em soluções escriturais ardilosas que evocam a experiência do vivido em figurações polissêmicas que revestem de inúmeras possibilidades de ressignificação imagens que estranham e inquirem os estereótipos, rasurando-os.”

"A fina lâmina da palavra"

De Leda Maria Martins

Editora Cobogó

264 páginas

R$ 92

Lançamento neste sábado (29/11), de 11h às 14h, na Livraria da Rua (Rua Antônio de Albuquerque, 913, Savassi, BH), com participações de Maria Nazareth Fonseca, Dione Carlos e da autora.

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