Tezza e as cartas do pai: “um romance da memória”

“Um livro muito atípico, o mais difícil da minha vida.” Assim o escritor catarinense, radicado em Curitiba, Cristovão Tezza define o romance “Visita ao pai”, que lançará em outubro pela Companhia das Letras (nova editora do autor de “O filho eterno” depois da publicação dos ótimos “Beatriz e o poeta”, “A tirania do amor” e “A tensão superficial do tempo” pela Todavia). Ele conta ao Pensar que o pai, o professor e advogado João Batista Tezza, guardou todas as cartas, telegramas, bilhetes e dedicatórias que escreveu entre 1931, quando ingressou como soldado em quartel em Florianópolis, até 1959, ano de sua morte após acidente de lambreta. “Conheci muito pouco meu pai (ele morreu quando eu tinha 6 anos), e não cheguei a ter uma memória afetiva muito forte dele. Passei a vida olhando os 24 volumes de correspondência. E finalmente resolvi enfrentá-los”, revela o escritor. “A correspondência não é um diário ou um espaço de reflexões ou literatura; ele transcreve exclusivamente as cartas que envia, sempre com anotação das datas (e às vezes com os detalhes da hora exata em que escreveu). Também não são cartas de pegada filosófica ou poética; são corriqueiras, tratando da vida cotidiana mais prática e objetiva, apenas com um momento ou outro de reflexão acidental de acordo com a circunstância e o destinatário”, detalha. Tezza define “Visita ao pai” como “um romance da memória”: “É uma reflexão romanesca sobre o contraste de gerações e as diferenças (e semelhanças) entre o tempo do meu pai e o meu”, antecipa. 

Poetas mineiros em festival paulistano

Ana Martins Marques, Edimilson de Almeida Pereira, Chico Alvim, Renato Negrão e Juliana Perdigão estão entre os escritores mineiros confirmados na primeira edição do festival “Poesia no Centro”, de 16 a 18 de maio de 2025, em São Paulo. Com treze encontros de poetas, jornalistas e pesquisadores, a programação é ancorada no tripé Palco-Megafone-Circuito no Teatro Cultura Artística. "Nessa primeira edição, pudemos pensar em cada detalhe para entendermos qual seria a cara que daríamos a esses dias de poesia”, afirma Irene de Hollanda, diretora do festival. Além da delegação mineira (que, por extensão, inclui Prisca Agustoni, suíça radicada em Juiz de Fora), estarão presentes autores de todo o país, como Adelaide Ivánova, Angélica Freitas, Fabrício Corsaletti, Leonardo Gandolfi, Marília Garcia e Juliana Perdigão, e cinco convidados estrangeiros: Patrícia Lino (Portugal), Roberta Iannamico (Argentina), Stephen Sexton (Irlanda), Tracy K-Smith (EUA) e Uljana Wolf (Alemanha). “Nossa vontade era buscar formatos que ampliassem perspectivas para as discussões e leituras do festival, e nesse sentido decidimos complementar o que acontecerá no palco com ações como a chamada aberta e o convite a livrarias e centros culturais para contribuírem com parte da programação”, complementa Irene. Leia, a seguir, depoimentos das curadoras do festival. 

“O Festival Poesia no Centro, em seu tripé (Palco, Megafone e Circuito), procura reforçar o interesse da Livraria Megafauna em ser um espaço de diversidade e pluralidade no que diz respeito à multiplicidade de casas editoriais contempladas, bem como à região de origem, gênero, raça e geração dos poetas convidados. Isso vale também para as livrarias e instituições convidadas para o Circuito Poesia no Centro, todas elas comprometidas com a difusão e democratização da leitura. Além disso, na montagem das mesas, tentamos contemplar manifestações poéticas distintas, com o objetivo de possibilitar que espectadores que porventura não sejam leitores de poesia possam achar o tipo de poesia de que gostam. Nesse sentido, temos a ambição de modestamente contribuir com a ampliação do público leitor de poesia.”

Rita Palmeira, curadora do Festival Poesia no Centro

"O objetivo principal da chamada aberta e da curadoria é se voltar para um aspecto fundador da poesia: a fala, o canto, o recitação, a reunião, o folguedo. Antes da palavra escrita, havia a voz, e captou-se pela poesia algo ainda anterior: a oralidade, então sobretudo encenada com o auxílio da música e até da dança. O Megafone, assim como o sarau, o slam, a roda de samba, o repente, a tertúlia vai reunir pessoas por meio da palavra vibrando no ar. Das duzentas inscrições, selecionei cinquenta nomes que espelham a diversidade e multiplicidade da poesia feita no Brasil hoje, pessoas de inúmeros estados do Brasil e até do mundo. Selecionei ainda doze poetas a convite e haverá algumas atrações surpresa. Vai ser uma festa!"

Bruna Beber, curadora do espaço Megafone

Jessé Souza em nova edição


“O problema real da classe média branca e da elite jamais foi a corrupção, mas a inclusão popular.”

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“Procurei reconstruir a ‘identidade nacional’ a partir da perspectiva dos humilhados por ela. O tema da escravidão passa, no presente livro, a ocupar o lugar central na explicação da sociedade brasileira no lugar da suposta e fraudulenta versão culturalista da herança ibérica e da corrupção inata do povo brasileiro, como no cânone criado por Sérgio Buarque (em ‘Raízes do Brasil’).”

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“A influência da escravidão se mantém, posto que tanto a legitimação da ordem social como um todo bem como a reprodução das classes sociais são explicadas precisamente por meio das máscaras modernas do racismo, que permitem a continuidade da ordem escravocrata.”

Trechos do prefácio da nova edição de “A elite do atraso: da escravidão à ascensão da extrema direita”, de Jessé Souza, que acaba de ser lançada pela Editora Civilização Brasileira. A primeira edição, de 2017, vendeu quase 400 mil exemplares e é considerado um dos maiores best-sellers das ciências sociais no Brasil. O livro mais recente do autor, “O pobre de direita”, chegou a 50 mil exemplares vendidos em menos de seis meses.

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