“A coleção”

Entre as pedras flores restos carnes
as palavras se desencontram em rimas
ou em ritmos desconexos
à procura de sentidos que não lhes sejam próprios
exclusivos
novos
ou sei lá
simplesmente à procura de nada
Só elas
palavras sós
formando uma infinita
coleção de versos jamais escritos
que se perderão no vazio
ou se encontrarão nos olhos
de quem lhes dê sentido


“Veraneio”

Verão sem trégua
caminhos que se perdem
com destino ao chão


“O amor de ontem”

Nosso amor de ontem
guardou o sentido do toque
das mãos que se sabiam juntas
pela última vez
e se desfez na contradição
das palavras que se perderam

Nosso amor de ontem
adormeceu intranquilo
enquanto os corpos
tocavam rolavam
rasgavam-se
quando em outros corpos

Nosso amor de ontem
se apagou feito silêncio
incondicional
sem adeus


“Luzes acesas”

Na madrugada
não há ninguém, ninguém passa
Em minha rua um vulto
uma planta, uma flor
luzes acesas e ninguém
Mas as casas estão cheias
Pouco importa se as luzes se acendam
ou se apaguem
as casas estão cheias
Ao longe uma música
enche de melancolia a rua vazia
e as casas cheias
de silêncio
e amanhã

Sobre o autor
Pedro Paulo Salles Cristofaro

Advogado e professor de Direito Econômico da PUC-Rio, Pedro Paulo Salles Cristofaro “tem a vocação do lirismo”, nas palavras de Geraldo Carneiro, no prefácio de “Entre dois silêncios”. “A matéria-prima de seus poemas são os encontros e os desencontros, o tempo, a celebração da vida, o desconcerto do amor”, afirma o imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Com ilustrações de Carlos di Celio e projeto gráfico de Ana Luisa Escorel, “Entre dois silêncios” “foi escrito ao longo de mais de quarenta anos”, afirma o autor: “Nele se encontram vários Pedros que se encontram em mim.”

“Entre dois silêncios”
• Pedro Paulo Salles Cristofaro
• Ouro Sobre Azul
• 84 páginas
• R$ 70

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