Mariana Salomão Carrara  -  (crédito: Renato Parada/Divulgação)

Mariana Salomão Carrara

crédito: Renato Parada/Divulgação

“Não fossem as sílabas do sábado”, de Mariana Salomão Carrara (foto), venceu o Prêmio São Paulo de Literatura na categoria romance. A escritora paulistana receberá premiação de R$ 200 mil, a mais alta entre os prêmios literários do Brasil. Como anunciado na edição passada do Pensar, quando foi publicado um trecho de “Tinta branca” de Alexandre Alliatti (vencedor na categoria Romance de Estreia), hoje é a vez de conhecer um trecho do romance premiado escolhido pela autora, nascida em 1986 e que tem como livros anteriores “Se Deus me chamar, não vou” (Nós, 2019), “É sempre a hora da nossa morte amém” (Nós, 2021).

A origem do livro, segundo a autora

“O ponto de partida do romance foi minha vontade de abordar a amizade entre duas mulheres. Queria escrutinar os detalhes desse amor, seus gestos de recusa e abandono, seus movimentos de dedicação plena. E acima de tudo queria falar de como essa amizade também pode ser uma família. A tragédia inicial, então, lança Madalena na vida de Ana, no meio de uma gestação enlutada e de um rancor inconsolável. A partir desse difícil vínculo, pude também trazer o tema da maternidade solo, enquanto Ana avançava lenta pelo doloroso caminho de conhecer, criar e amar uma filha nos escombros de um longo luto.”

Trecho de “Não fossem as sílabas do sábado”

“O tempo que o Miguel levou para atingir o André é o tempo de uma criança dizer sábado, uma criança pequena em qualquer dos outros andares do prédio aprendendo a dizer que é sábado, fala mais alto e prolongado o primeiro á, demora-se, e então deixa cair a palavra no segundo a, depois estala no do. Sábado.

Quando a criança termina de dizer sábado os dois explodem. Minha filha e Madalena tão repletas de sílabas, pesadas e muito firmes no chão. Catarina. Cansa se antes de chegar ao fim raspando a língua no céu da boca até terminar o nome, começa-se a chamá-la com um humor e termina-se em outro, às vezes o propósito de chamar Catarina se perde antes que se termine de dizer o nome, e isso deve determinar muita coisa pra ela, que sórdida mãe quase monossilábica escolhe para a filha um nome tão cheio”.

• “Não fossem as sílabas do sábado”
• Mariana Salomão Carrara
• Todavia Editora
• 168 páginas
• R$ 64,90