Marcela Dantés -  (crédito: Rafael Motta/divulgação)

Marcela Dantés

crédito: Rafael Motta/divulgação


Eu precisava tomar uma decisão, o Cristóvão que não sabia de mim, que não tinha pai e nenhuma certeza, e que poderia ou não receber bem a informação de que, antes dele, era eu.


Eu não podia acreditar que Pedro Cruz tinha me escondido essa parte da história, esse detalhe discreto como um cavalo dentro do meu quarto, uma informação que podia, como pouca coisa, mudar meus passos seguintes. E não venha me dizer que ele avisara que havia muito a ser dito, um irmão não se deixa para o fim, a loucura da família passando para uma nova geração que vagava sozinha pela cidade, sem suporte, sem frio, sem perdão. Nós três loucos e ninguém por nós. E quem era a mãe desse menino sozinho, como é que se morre e deixa alguém sem sapatos no mundo? Se eu quisesse saber dele, teria que dizer de mim, e agora havia tão pouco que eu sabia, quase nada além da sensação constante e crescente de que alguma coisa muito ruim aconteceria a mim, antes mesmo que eu pudesse me preparar para isso.


– Vamos, Cristóvão, eu vou caminhando com você. Também tenho que ir nessa reunião, sabia?
– É Barão, por favor.
– Você sabe para que lado fica, Barão?
– A vila é redonda, Matilde. Fica para o lado que a gente quiser.

O livro na visão da autora

“’João Maria Matilde’ conta a história de Matilde, uma mulher que passou a vida certa de ser filha de um pai desconhecido. Aos quase quarenta anos um telefonema direto de Portugal altera sua perspectiva. João Maria é seu pai, está morto e lhe deixou um testamento. Matilde, então, viaja em busca dessa história. A viagem acaba por se tornar um grande teste: psicologicamente fragilizada, ela tem que enfrentar os seus maiores medos, sua síndrome do pânico e alguns delírios que insistem em aparecer quando ela mais precisa de sua lucidez. A narrativa ganha, então, um tom altamente reflexivo e dramático, a partir da qual é possível conhecer uma história forte e emocionante, o relato de uma loucura que é transmitida por gerações e que, apesar das tentativas dos familiares, não conseguiu ser apagada da história. A versão que Matilde encontra em Portugal é surpreendente, emocionante e transformadora. O livro começou a ser gestado em 2016, quando fui a autora residente do Festival Literário de Óbidos, a convite do José Eduardo Agualusa. A experiência da residência literária, a descoberta de Portugal e todo o processo de escrita do livro me possibilitaram um mergulho em temas que me são muito caros: a saúde mental, os laços familiares, um olhar para dentro de si. ‘João Maria Matilde’ é o resultado dessa mistura e desse processo, ao mesmo tempo caótico e catártico.”

“João Maria Matilde”
• De Marcela Dantés
• Autêntica Contemporânea
• páginas
• R$ 54,90

Poesia feita em Minas navega no Oceanos

Dois nomes da poesia mineira estão entre os finalistas do Prêmio Oceanos 2023: Prisca Agustoni, escritora suíça radicada em Juiz de Fora, com “O gosto amargo dos metais” (7Letras), e o belo-horizontino Ricardo Aleixo, com “Diário da Encruza” (Segundo Selo, coleção Contemporaneidades Periféricas). Eles concorrem com a carioca Cláudia Roquette-Pinto (“Alma corsária”), o brasiliense Guilherme Gontijo Flores (“Entre costas duplicadas desce um rio”) e o português Pedro Eiras (“Paraíso”). Nenhum autor brasileiro chegou à final da categoria romance.

Qual foi a sua leitura mais marcante dos últimos tempos?

Antônio Fagundes Ator

Antônio Fagundes

Instagram/Reprodução

“A supremacia branca é o sistema politico não nomeado que fez o mundo moderno o que ele é hoje.” Essa é a primeira frase desse maravilhoso livro do Charles W. Mills, “O contrato racial”. A obra é uma explicação clara e contundente do que é, do que foi e do que está sendo a supremacia branca. Um livro que realmente abre a cabeça da gente para muitos problemas que a gente enfrenta com relação ao racismo.

Antônio Fagundes
Ator, em cartaz hoje e amanhã em Belo Horizonte com a peça “Baixa Terapia”, no Sesc Palladium

Teatro em versão bilíngue

A dramaturga mineira Silvia Gomez faz lançamento neste sábado (11/11), a partir das 14h, na Livraria Quixote (R. Fernandes Tourinho, 274 - Savassi). O livro, publicado pela Editora Javali em edição bilíngue, reúne as peças “Mantenha fora do alcance do bebê” e “Neste mundo louco, nesta noite brilhante”, com tradução para o espanhol. Os espetáculos tiveram montagens no Brasil e no exterior, como Argentina e México. Em tempo: Silvia Gomez, que nasceu em BH, celebra 20 anos de sua primeira peça encenada.