Fernanda Patriota

Diretora de Operações e Portfólio da Motriz

Fred Amancio

Diretor de Parcerias Institucionais da Motriz

Vivemos uma crise mundial no ensino da matemática ao mesmo tempo que o desenvolvimento do mundo está ligado a esse campo. Esse foi um dos pontos levantados no encontro que reuniu, na Universidade de Stanford, profissionais que debateram ideias para fortalecer a agenda e melhorar a educação básica nesta área do conhecimento. Termos como “inteligência artificial” e “algoritmo” já se estabeleceram no vocabulário e nas rodas de conversa de todos nós. O que poucos sabem é que eles estão intimamente ligados à matemática. A defasagem no ensino de hoje está criando barreiras para o futuro.

O uso da IA recolocou a matemática no centro do debate sobre o futuro da educação. Por trás dos assistentes virtuais, dos apps de tradução, música, vídeos, filmes, séries e das plataformas de recomendação que moldam o nosso cotidiano, há algoritmos – e, por trás deles, pura matemática. A IA representa um conjunto de modelos matemáticos e estatísticos que aprendem a reconhecer padrões e prever resultados. Futuras tecnologias dependem da matemática, ou seja, se nossas crianças não aprenderem bem hoje, inovações podem ficar prejudicadas.

Há caminhos. Um deles passa por criar uma cultura que não estigmatize a matemática. Para uma criança, aprender números é tão importante quanto aprender as letras que formam o nome. O ensino não deve ser traumatizante, e a matemática deve ser lecionada como uma linguagem comum. Precisamos construir caminhos para criar prazer pela matemática e favorecer a aprendizagem, sem traumas. É importante quebrar a visão de muitos de que matemática é para poucos. Assim, é fundamental que a disciplina não seja motivo de bloqueio ou estigma, mas sim de curiosidade e interesse.

Outro caminho que pode ajudar a pavimentar um futuro menos doloroso na matemática passa pelos modelos didáticos. O foco precisa estar no processo, no estímulo ao raciocínio, e não no número final da equação “X” ou do problema “Y” ou em procedimentos engessados que levam a matemática ser desinteressante.

Exemplos para o Brasil vêm da Europa. A Polônia por meio de reformas curriculares e investimento na formação docente, saltou quase 80 pontos no PISA em pouco mais de uma década e hoje supera a média da OCDE. Essa trajetória evidencia que o avanço não depende só de recursos financeiros, mas de políticas educacionais consistentes e de uma visão de longo prazo sobre o papel da matemática na formação cidadã. Em tempos de IA e automação, a distância que separa o Brasil das nações líderes não é apenas numérica – é uma diferença de projeto, de valorização do conhecimento e de capacidade de preparar os jovens para o mundo que já chegou.

Por aqui, a Motriz atua para minimizar os impactos de um ensino deficiente em matemática, e desenvolvendo projetos com redes de ensino parceiras. No Ceará, por exemplo, em 2024 foram mais de 1,6 mil profissionais formados para atuação nos anos finais; também apoiamos a política estadual de educação integral em 184 municípios, sendo um deles o de Ararendá. Estar no sertão do Ceará e a 350 quilômetros de Fortaleza não foram barreiras para a ação da Motriz em parceria com o poder público, que culminou com 73% dos estudantes do município progredindo em Matemática.

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Ainda assim, reverter esse quadro exige mais do que mudar métodos: é preciso reconstruir a forma como o país enxerga a matemática – sem estigmas e como uma ferramenta de futuro. n

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