Na última sexta-feira, o governo de Donald Trump anunciou sua visão de mundo e como pretende agir nos próximos anos no contexto global. A Casa Branca divulgou documento no qual detalha a nova estratégia nacional dos Estados Unidos, com o resgate de uma das diretrizes mais importantes da política externa norte-americana: a Doutrina Monroe. Lançada em 1823 pelo então presidente James Monroe, ela cunhou uma ideia que se tornou um mantra para o atual incumbente republicano: “A América para os americanos”.


Assim como ocorreu no século 19 e em outros períodos da história, a estratégia nacional atualizada pelo governo Trump pretende ampliar a influência militar e econômica na América Latina. “Após anos de negligência, os EUA reafirmarão e farão cumprir a Doutrina Monroe para restaurar a preeminência americana no Hemisfério Ocidental (América Latina) e proteger nosso acesso a áreas-chave em toda a região”, atesta o documento. “O Corolário Trump à Doutrina Monroe é uma restauração sensata e eficaz do poder e das prioridades americanas, consistente com os interesses dos EUA”, prossegue o texto de 33 páginas.


A atualização da política externa norte-americana pode ser vista como a formalização de tudo que o presidente Donald Trump tem dito e feito nos últimos anos – e que o levou a conquistar um novo mandato na Casa Branca. O resgate da Doutrina Monroe vai ao encontro do lema “Make America Great Again”, conhecido pela sigla Maga. Trata-se de uma estratégia voltada para reposicionar a maior potência militar e econômica diante de um mundo repleto de desafios nos quais, muitas vezes, os Estados Unidos exercem um papel fundamental.


Oficialmente, o governo Trump pretende ampliar suas ações na América Latina. As operações militares na região do Caribe e a ofensiva contra a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela representam um grau acima no nível de intervenção norte-americana na região. As operações têm alcançado tamanha contundência que há suspeitas da ocorrência de crimes de guerra no enfrentamento ao tráfico de drogas. Em outra frente, o presidente republicano mantém evidente seu posicionamento ideológico ao autorizar o apoio bilionário para o governo de Javier Milei seguir adiante com as reformas na Argentina. E conduz uma negociação tarifária lenta e gradual com o Brasil, após anunciar punições a autoridades por meio da Lei Magnitsky e repudiar uma suposta “caça às bruxas” nos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores.


Há outros pontos relevantes no Corolário Trump. O governo norte-americano reafirma o ceticismo em relação à Europa, classificada como um continente decadente. E sustenta, de forma categórica, que a imigração e o federalismo representam uma ferida de morte aos países membros do bloco, fragilizados em sua soberania. “Se as tendências atuais continuarem, o continente será irreconhecível em 20 anos ou menos”, prevê Washington. Mais uma vez, os EUA avisam que não pretendem financiar a segurança militar na região, deixando para os europeus a tarefa de controlar a política autocrática e expansionista de Vladimir Putin.


A visão de mundo externada pelos Estados Unidos serve de alerta para a diplomacia brasileira. Após os avanços na redução do tarifaço, é fundamental persistir na histórica relação bicentenária mantida pelos dois países e evitar divergências de rasa natureza ideológica, desprovida de pragmatismo. Os EUA deram um recado ao mundo. É preciso tirar o melhor proveito da mensagem.

compartilhe