Clésio Andrade

Empresário e empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, senador, presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte) e fundador do Sest Senat


A crise dos Correios é grave e insustentável. A empresa acumula prejuízos que devem chegar a R$ 10 bilhões este ano, muito acima dos R$ 2,6 bilhões registrados em 2024. A estatal enfrenta queda rápida de receitas, aumento de custos e dívidas impagáveis.

O balanço da empresa mostra que as despesas gerais e administrativas saltaram 53,5%, passando de R$ 3,14 bilhões para R$ 4,82 bilhões até setembro último. Já os custos operacionais se mantiveram praticamente estáveis, em torno de R$ 11,7 bilhões. Das 10.638 agênciasde atendimento, 85% são deficitárias.

Vale lembrar que os Correios gozam de imunidade fiscal. Ao contrário das demais empresas, a estatal não paga impostos como IPTU, ICMS, IPVA, ISS e Imposto de Renda. Mas nem com tamanha vantagem, a estatal consegue ser competitiva. E pior: o benefício gera uma concorrência desigual com as empresas privadas do setor.

Os Correios sustentam mais de 86 mil empregados, cuja folha de pagamentos saltou de R$ 15,2 bilhões em 2022 para R$ 20 bilhões em 2024. Mesmo com a empresa em crise, em 2022, os servidores tiveram dois grandes reajustes salariais: um de 9,75% e outro de 10,12% (o dobro da inflação), além de um abono indenizatório de R$ 1 mil para cada empregado. Em 2024, a folha de pessoal levou outra bordoada, com 6,57% de reajuste, mais um aumentando de 30% a base salarial da categoria. Trata-se de uma situação insustentável até para uma estatal perdulária.

Sem conseguir bancar tantos desequilíbrios, os Correios entraram em um buraco negro, que se aprofundou rapidamente com o acúmulo de juros resultantes de uma série de dívidas contraídas para cobrir custos ordinários da empresa.

Ao fim de 2024, diante de uma situação que já era considerada crítica, a estatal tomou R$ 550 milhões em empréstimos para fechar as contas do ano. A empresa estima que a taxa de juros efetiva para esses empréstimos é de 21,99% ao ano, percentual que certamente contribuiu para agravar ainda mais a sua situação fiscal.

Sem uma gestão realista, com despesas crescentes e receitas caindo, em 2025 a crise está se revelando catastrófica. O caixa está vazio e dívidas atrasadas. Os Correios vão fechar o ano com um rombo recorde estimado em R$ 10 bilhões. É a beira da falência.

Para surpresa de ninguém, diante de uma crise fiscal inédita, qual foi o caminho escolhido pela diretoria dos Correios? Fazer mais dívidas. Neste início de dezembro, a empresa anunciou a decisão de contrair mais R$ 20 bilhões em empréstimos, dinheiro que não irá para investimentos, mas para pagamento das dívidas atrasadas e a vencer.

Tudo isso mostra que os Correios estão em um beco sem saída, alimentando um círculo vicioso que inviabiliza a empresa, desequilibra as contas públicas e onera os cidadãos.

Não há plano de recuperação que dê conta de tamanho descalabro. Chegou a hora de o governo federal adotar uma solução definitiva para os Correios. As novas tecnologias tornaram os serviços postais praticamente dispensáveis e os serviços de entrega de encomendas já são realizados por empresas privadas com mais eficiência e menores custos. Basta uma reorganização do mercado e uma revisão criteriosa da legislação para modernizar o setor e tirar o peso dos Correios das costas do povo brasileiro.

A experiência de outros países, como Alemanha e Holanda, que enfrentaram problemas semelhantes, pode indicar caminhos para o Brasil. Esses países fizeram a eliminação gradual do monopólio postal, profissionalizaram a gestão das operadoras, afastaram as ingerências políticas, e, em alguns casos, avançaram para a privatização. Os resultados foram rapidamente sentidos: melhoria na qualidade dos serviços, sustentabilidade financeira e aumento da inovação.

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