A 20 dias da abertura da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, capital do Pará, o Brasil convive com vários dilemas. No momento em que a maioria dos ambientalistas nacionais e estrangeiros se opõe aos combustíveis fósseis, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) concedeu à Petrobras o licenciamento para prospecção de petróleo na Foz do Amazonas. Um tema polêmico em relação a emissão de gases de efeito estufa.

Mas essa não é a única divergência brasileira que deverá aquecer os debates da COP30. A preservação dos ecossistemas inspira discussões acaloradas entre os que defendem o patrimônio natural e aqueles que defendem a expansão do agronegócio e de indústrias, o que resulta em redução agressiva da cobertura vegetal e impacta as fontes hídricas.

O Cerrado, depois da Floresta Amazônica, está entre os biomas mais afetados pelo desmatamento e incêndios para limpeza de áreas. A bióloga e professora da Universidade de Brasília (UnB) Mercedes Bustamante afirma que “a proteção do Cerrado ainda é um desafio urgente”.

“A savana tropical é a mais biodiversa e berço de oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras”, destaca a cientista integrante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ela ressalta que o Cerrado é fundamental para a estabilidade ambiental do Brasil e da América do Sul.

Uma das coleções do MapBiomas revela que, entre 1985 e 2024, o Cerrado perdeu 40,5 milhões de hectares de vegetação nativa (28%), devido aos avanços da agropecuária e de outras ocupações. A região de Matopiba – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – é considerada o epicentro da mudança, devido ao avanço do agronegócio. Neste ano, a região teve um investimento de R$ 400 milhões em uma fábrica de fertilizantes.

Mas não basta investir na expansão dos negócios e ignorar a importância da preservação ambiental. A cientista Mercedes Bustamante adverte que a agricultura é a atividade econômica que “mais depende dos recursos naturais”, entre eles polinizadores, controle de pragas, solos saudáveis e biodiversos e estabilidade climática. Ou seja, temperatura adequada e chuva na hora e na quantidade certa.

No entendimento da bióloga, a proteção devida ao Cerrado é um desafio. Vencer esse obstáculo passa por ações voltadas ao engajamento social em defesa do bioma e por ações de fortalecimento da governança territorial e financiamento de políticas públicas.

Preservar o Cerrado e todas as suas virtudes para o equilíbrio climático não é só uma contribuição robusta para mitigar o aquecimento global, mas política indispensável para a qualidade de vida e para o crescimento dos bons negócios. Essa colaboração passa pelos meios de comunicação, de modo a sensibilizar os brasileiros, assim como ocorreu com a Amazônia, hoje defendida por expressiva parcela da sociedade brasileira.

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