É triste um país que tem uma fila com mais de 35 mil nomes interessados em adotar (adotantes) e cerca de 30 mil crianças em situação de acolhimento. Amanhã (25) é o Dia Nacional da Adoção, mas somente 4 mil bebês e crianças estão efetivamente aptos a ganhar uma família.


Além de uma infinidade de papéis que precisam ser preenchidos e uma série de etapas a serem cumpridas para que o processo seja definitivamente concluído, o sistema brasileiro ainda lida com questões comportamentais que fogem ao seu controle. Embora o interesse de pessoas e famílias em adotar uma criança seja nítido, é visível também a incongruência entre as expectativas (exigências) dos candidatos a pais adotivos e o perfil das crianças.


De acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), mantido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a preferência por crianças brancas, com, no máximo, 3 anos de idade, que não tenham laços familiares anteriores conhecidos nem condições de saúde que necessitem de cuidados específicos acabam se transformando em entraves para que os processos de adoção evoluam.


Aproximadamente 98% das famílias desejam adotar crianças perfeitamente saudáveis, diz o CNJ, o que reduz imensamente as chances de adoção para quem tem deficiência ou alguma necessidade específica, e aqui incluem-se aqueles com transtorno do espectro autista (TEA), cujo diagnóstico tem crescido bastante nos últimos anos.


Como resultado, o Brasil tem um número elevadíssimo de crianças e adolescentes ocupando instituições de acolhimento. Dados do CNJ mostram que cerca de 92% das crianças em busca de adoção têm mais de 6 anos de idade, e cerca de 48% do sistema é composto por adolescentes entre 12 e 17 anos.


Essas estatísticas corroboram para a imagem de um Brasil preconceituoso, racista e pouco sensível à causa da adoção, mais especificamente à causa da adoção tardia. A verdade é que faltam campanhas de conscientização, numa tentativa de sensibilizar a sociedade sobre o tema.


Outra barreira que impede que esse processo funcione é a rejeição dos adotantes quanto a grupos de irmãos. O que costuma ocorrer é a adoção de brasileiros por estrangeiros, muitos deles afeitos a não separar irmãos ou ainda simpáticos às histórias geralmente tristes de crianças e jovens com alguma deficiência.


Independentemente de raça, gênero, faixa etária ou desenvolvimento cognitivo, a adoção é um ato de amor, de generosidade e desejo. Ensinar à sociedade valores como inclusão, diversidade, igualdade e aceitação do que é diferente precisa ser um exercício diário e não somente debatido entre os agentes que vivenciam essa situação, mas também entre as pessoas que estão no ambiente escolar, entre as famílias e entes políticos. Caso contrário, corremos o risco de transformar o ato de adotar em algo frio, mecânico, sem entusiasmo. Por isso, é preciso mudar. É preciso evoluir.