Neste mês, o Brasil entra em mais uma edição da campanha Maio Amarelo, iniciativa que tem o intuito de alertar sobre um mal antigo e disseminado na sociedade brasileira: a violência no trânsito. Em um país eminentemente urbano e com graves carências de transporte público, a convivência entre motoristas, ciclistas, motociclistas e pedestres tem se mantido perigosa, quando não trágica.


A campanha vem em momento oportuno, pois a realidade das vias preocupa. Após um período de arrefecimento, o trânsito brasileiro voltou a matar mais. Nos últimos anos, o Brasil vinha apresentando uma redução expressiva no número de mortes. Dados compilados pelo Observatório Nacional de Segurança Viária indicam que, desde 2015, a quantidade de óbitos por ano ficava abaixo da casa dos 40 mil. A partir de 2020, no entanto, a brutalidade sobre rodas voltou a recrudescer. Em 2022, informa o Ministério da Saúde, 34 mil pessoas pereceram ante o descontrole de motoristas a conduzir de forma descontrolada uma máquina que pode se tornar uma arma letal.


É um cenário aterrador. A cada 15 minutos, em média, um brasileiro perde a vida por conta de algum “acidente”. Nem está inclusa nessa estatística a quantidade de feridos. Em 2022, foram mais de 212 mil internações, ao custo de R$ 350 milhões anuais. “São R$ 350 milhões que poderiam ser investidos em construção de hospitais, unidades”, alertou a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do ministério, Ethel Maciel, durante o lançamento da campanha Maio Amarelo na última quinta-feira.


No cotidiano brasileiro, não faltam histórias para corroborar esse cenário desolador. Os moradores de Paraopeba (MG) ainda estão de luto pela morte do ciclista Thauan Maciel, 26 anos, atropelado na terça-feira por uma van no acostamento da BR-040 enquanto treinava com amigos. Dois amigos de Thauan, também ciclistas, seguiam hospitalizados até o fim da semana. Em Brasília, no início de abril, cinco ciclistas também foram varridos por um motorista. O exame de alcoolemia constatou que o responsável pelo atropelamento estava bêbado. Mais: o condutor já tinha em seu histórico uma morte por atropelamento. E dirigia há anos sem carteira de habilitação válida.


Mas talvez tenha ocorrido em São Paulo a história mais emblemática sobre a gravidade da violência no trânsito. Após reiterados pedidos da polícia, a Justiça decretou a prisão de Fernando Sastre de Andrade Filho, motorista do Porsche que matou um motorista de aplicativo ao chocar-se com o veículo a mais de 150 km/h. As circunstâncias do acidente – indícios de embriaguez, conduta equivocada das autoridades, tentativa de fuga do local – explicam quão grave é a situação no trânsito brasileiro.


Não por outra razão que o tema da campanha Maio Amarelo, este ano, é “Paz no Trânsito começa por você”. É um apelo para que os brasileiros tenham mais responsabilidade e empatia quando estiverem ao volante. Trata-se de um compromisso com a vida, bem maior e intransferível em uma sociedade civilizada.