Na última semana, duas datas em sequência jogaram luz às questões globais sobre o meio ambiente. Na quinta-feira (21), o Dia Internacional das Florestas foi celebrado. Criado em 2012 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o objetivo era destacar a importância desses ecossistemas, além de alertar sobre o perigo de degradação. Na sexta-feira (22), foi a vez do Dia Mundial da Água, instituído em 1993 para promover a conscientização e evidenciar a relevância do recurso. Mesmo depois de anos do estabelecimento de ambas as iniciativas, as propostas continuam urgentes.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) informa que as florestas cobrem cerca de 31% da superfície terrestre, sendo essenciais para a vida no planeta. A melhoria da qualidade do solo, da água e do ar, segundo a entidade, depende delas. Ainda conforme a FAO, a expansão de espaços agrícolas e pastagem de gado vem sendo o maior motor do desmatamento global.

Em 2020, relatório apresentado pelo Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em parceria com a FAO, mostrou que a taxa de desflorestamento teve redução nas últimas três décadas. Mas o estudo salientou que, apesar disso, as áreas de florestas continuam a diminuir e, de 1990 até a publicação do documento, 178 milhões de hectares desapareceram do planeta.

Na Amazônia, entre janeiro e fevereiro de 2023 foram derrubados 523 km² de floresta. Em 2024, o registro é de 196 km², significando que o desmatamento no bioma teve uma queda de 63% quando comparado com o mesmo período do ano passado. Um respiro importante, mas ainda aquém do ideal.

Diante da necessidade de recuperação, a ONU escolheu como tema deste ano "Florestas e inovação: novas soluções para um mundo melhor", reforçando o papel fundamental da tecnologia na manutenção do verde. A campanha apontou as atuais alternativas de monitoramento, a exemplo do uso de drones, como respostas complementares na luta contra incêndios e no mapeamento de terras de conservação. A modernização da produção de materiais sustentáveis também foi levantada.

O Dia Mundial da Água apresentou a proposição “Água para a prosperidade e a paz”. A gestão sustentável do recurso foi destacada como essencial para a promoção de benefícios a indivíduos e comunidades, incluindo saúde, segurança alimentar e energética, proteção contra riscos naturais, desenvolvimento econômico e de serviços. A importância do uso consciente e a necessidade de acabar com a poluição são metas constantes, mas o acesso ao recurso entra cada vez mais na pauta dos debates. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que aproximadamente 2 bilhões de pessoas bebem água contaminada por excrementos, expondo-se a doenças como a cólera, hepatite A e disenteria.

Ainda no campo da saúde, as mudanças do clima – intimamente relacionadas com o desmatamento e as questões da água doce e salgada –, têm influenciado na propagação de vetores. As doenças mais sensíveis a essas alterações são as infecciosas, como leishmaniose, malária, dengue e outras arboviroses. As consequências são tão diretas que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realiza estudos prospectivos e de análise de riscos para avaliar o impacto no surgimento ou ressurgimento de enfermidades. No Brasil, a elevação das temperaturas e as ondas de calor estão contribuindo para a epidemia de dengue que o país enfrenta, conforme análise também desenvolvida pela Fiocruz e publicada na revista Scientific Reports.

Os debates acontecem, as pesquisas são desenvolvidas, o assunto é matéria nas escolas e motivo de conversa em encontros informais. Diante da emergência climática que se coloca, a sociedade percebe a relevância de medidas individuas e coletivas de cuidado com os recursos naturais. Novas políticas públicas, amplas e em âmbito global, não podem ser adiadas. Os resultados dos excessos humanos estão à mostra e já caminham para um ponto que pode ameaçar a sobrevivência em partes do planeta. As efemérides mobilizam. Mas que, nos casos dos dias das florestas e da água, elas possam ser festejadas, em um futuro próximo, com ganhos ambientais vitais para a humanidade.