O verão no Brasil se encerra nesta quarta-feira (20/3), mas o fim da estação está longe de significar temperaturas mais amenas. Desde a semana passada, uma nova onda de calor vem atingindo várias partes do país, e meteorologistas e a Defesa Civil têm emitido mais alertas sobre os riscos à saúde. O Rio de Janeiro, por exemplo, alcançou a impressionante sensação térmica de 62o Celsius no último fim de semana. Qualquer morador de grandes cidades como Brasília, Belo Horizonte ou São Paulo conhece o transtorno de morar, trabalhar, estudar ou se locomover em épocas de altas temperaturas – sem mencionar no problema associado dos temporais, com grande concentração de chuvas em questão de horas.


Ocorre que a emergência climática não se restringe ao que os termômetros registram na atmosfera. O problema se agrava igualmente nos oceanos. Dados compilados pelo Programa Ecológico de Longa Duração Tamandaré Sustentável (Pels-Tams) indicam o branqueamento em massa de espécies de corais no litoral nordestino. O fenômeno, de escala global, já afeta locais como as regiões de Tamandaré e Porto de Galinhas, em Pernambuco, bem como a costa de Sergipe. Os corais são considerados fundamentais para o equilíbrio do ecossistema marinho, pois servem de alimento para diversas outras espécies. O branqueamento é um fenômeno natural, mas a ocorrência frequente e em grande extensão está vinculada, segundo os cientistas, ao aumento da temperatura nos oceanos.


Outras fontes oficiais reforçam a situação alarmante nos mares. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês) relata, por exemplo, que o recorde na temperatura dos oceanos está se mantendo há mais de 12 meses. Em média, as águas marinhas ultrapassaram os 21oC, um aumento de 0,25oC acima do registrado em 2023. Esse aumento, segundo explicou um meteorologista da Noaa à rede norte-americana CNN, “equivale a cerca de duas décadas de aquecimento num único ano”.


Entre as causas identificadas para o desequilíbrio no Planeta Azul, especialistas reiteram em apontar o El Niño e o aquecimento global – fevereiro último foi o mês mais quente de toda a história – como fatores de instabilidade. Se o primeiro fenômeno é considerado natural e originário do Pacífico, com efeitos em todo o planeta, não se pode dizer o mesmo da segunda causa. O aquecimento global resulta de uma interferência direta do modelo econômico desenvolvido nos últimos 150 anos. As consequências dessa opção aparecem a olhos vistos.


Seja no mar, seja na terra, restam evidentes os sinais de que a crise climática assume proporções cada vez mais urgentes e complexas. Governos e sociedade precisam, o quanto antes, impedir que a situação chegue ao que especialistas e autoridades internacionais denominam “ponto de não retorno”. Ondas de calor, temporais devastadores nas grandes cidades, extermínio da fauna e flora e oceanos em ebulição são o prelúdio de uma era que a humanidade, a despeito do progresso científico, não tem se mostrado preparada nem disposta a superar.