Para os profissionais de saúde, conselhos, entidades, associações e sociedades médicas foi definido que março é o mês das campanhas de combate ao câncer – sob todas as suas formas e tipos. No Brasil, é talvez o período em que mais se divulgam informações, métodos de prevenção e tratamento contra a doença que, ao longo das décadas, mostrou ser mais resistente que o próprio vírus HIV – vide o surgimento de um tratamento totalmente eficaz para o prolongamento da vida de pacientes diagnosticados com Aids.

Março Azul, Azul Marinho e Lilás fazem referência, nessa ordem, aos cânceres de intestino, colorretal e de útero. A começar pelo último, é fundamental destacar a prevenção contra o vírus HPV (papilomavírus humano) por meio da vacinação. Implementada pelo Ministério da Saúde em 2014, portanto, há uma década, é um marco no combate ao câncer de colo de útero. Entre 2023 e 2025, a previsão é de que 17 mil novos casos sejam registrados.

A questão é que, muitas vezes, especialmente nos estágios iniciais, a doença é assintomática e, caso a mulher deixe de fazer os exames preventivos por um, dois, três anos, o câncer pode se instalar de forma severa no útero. Se pensarmos que a vacina é disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a partir dos 9 anos, por que os pais não levariam suas crianças (meninos também) aos postos de vacinação? Se a criança não tomou nessa idade, ela tem até 14 anos para fazê-lo ou ainda quando adulta, até os 26 anos, gratuitamente. Com certeza, várias das mortes por câncer de colo de útero seriam evitadas, já que o HPV é a porta de entrada para esse tipo da doença.

Já o câncer colorretal, menos divulgado, atinge aproximadamente 1 milhão de pessoas em todo o mundo. No Brasil, os números estão subindo, o que faz dele o terceiro tipo mais comum, perdendo apenas para o de mama e o de próstata, segundo levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Alguns fatores de risco não podemos mudar, como a questão da idade e o histórico familiar, mas outros – como o consumo de carne vermelha e alimentos ultraprocessados, os dois em excesso – podemos, sim, nos esforçarmos. Obesidade, sedentarismo, alcoolismo e tabagismo também são hábitos que devem ser banidos do nosso estilo de vida.

Por último, o câncer de intestino é talvez um dos mais preveníveis por meio de diagnóstico acessível, se as pessoas fizessem dois exames de extrema relevância: o teste de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia, sendo esse considerado de preparo incômodo, mas muito necessário. A boa notícia é que ele geralmente é solicitado após os 50 anos e, caso o paciente não apresente maiores problemas, pode ser feito a cada cinco anos. De acordo com os especialistas, a remoção de pólipos adenomatosos realizada durante a colonoscopia previne e evita o surgimento do câncer de intestino.

Se temos formas de prevenir a doença, por que deixar que ela tome conta de nossos corpos em um diagnóstico tardio? Muitos cânceres ainda não têm cura, é verdade, mas podemos tentar cuidar para que nossas vidas sejam plenas, para o nosso bem e de nossos familiares. As campanhas estão aí para nos alertar. Cabe aos órgãos públicos e às entidades de saúde fornecer suporte com informações e ferramentas para prevenção e cuidados. Mas, aí, podemos nos deparar com o problema do atendimento médico, nem sempre acessível, simples e com a agilidade necessária para parcela expressiva dos brasileiros.